"Nesse Exato Momento" - capa/ reprodução

O pernambucano Almério vem singrando os mares de merecido reconhecimento, após álbuns divididos com Mariene de Castro (Acaso Casa Ao Vivo, 2019), o conterrâneo Martins (Almério e Martins Ao Vivo No Parque, 2022), e Tudo é Amor (2021), dedicado ao repertório de Cazuza (1958-1990). Atualmente está na trilha sonora do remake da novela global Renascer, em dueto com Maria Bethânia em “Quero Você” (Almério/ Isabela Moraes).

O artista acaba de lançar Nesse Exato Momento (Deck, 2024), álbum em que se cerca majoritariamente de mulheres, entre parceiras e convidadas especiais – Zélia Duncan (parceira na faixa-título e convidada em “Suspiro”), Ana Paula Marinho (autora de “Suspiro”), Ceumar (parceira em “Antes de Você Chegar”), Ezter Liu e Joana Terra (parceiras em “Malabares”), Juliana Linhares e Mariana Aydar (convidadas em “Beijo, Beijo”), além das citadas Maria Bethânia e Isabela Moraes.

O time se completa com Chico Chico (convidado da faixa-título), Zé Manoel (convidado em “Antes de Você Chegar”), Marcello Rangel (parceiro em “Me Conheço”), Juliano Holanda (autor de “Uma Inédita”, parceiro em “Tóxico”, “Beijo, Beijo” e “15 Segundos” – com Damião Araújo –, faixa na qual também é convidado, e produtor do álbum).

Almério diz que o álbum é um “conto de instantes”. Nesse Exato Momento, enquanto você lê este texto, ouve o álbum ou faz qualquer outra coisa, a vida acontece – e é para isto, sem se preocupar com as delimitações temporais do que é passado, presente ou futuro, que o artista aponta suas antenas – lembremos que ele reúne influências fundamentais e nomes de sua geração no mesmo álbum.

Almério (voz e concepção de arranjos) está acompanhado de Juliano Holanda (guitarra e arranjos), Rapha B (bateria), Lucas dos Prazeres (percussão), Rogê Victor (baixo), Nilsinho Amarante (trombone e arranjos de metais), Emanoel Barros (trompete), Gilberto Pontes (saxofone tenor), Maestro Spok (saxofone barítono), João Camarero (violão) e Zé Manoel (piano).

Almério conversou com exclusividade com FAROFAFÁ.

O cantor e compositor Almério - foto: Renata Pires/ divulgação
O cantor e compositor Almério – foto: Renata Pires/ divulgação

CINCO PERGUNTAS PARA ALMÉRIO

ZEMA RIBEIRO: Nesse Exato Momento, ao contrário do título, não é sobre imediatismo ou instantaneidade. Eu percebo esse título como uma espécie de anti-metáfora que aborda o teu próprio amadurecimento. Quero te ouvir sobre a concepção do álbum que celebra teus 20 anos de carreira, desde as ideias iniciais, composição, gravação, até agora, o lançamento.
ALMÉRIO: Esse álbum é um conto de instantes, um convite a estarmos presentes e atentos. Desde 2018 venho testando nos shows as canções para o disco, escrevendo os arranjos, porque no meu processo de composição a música nasce quase pronta. Fui ouvindo muita coisa, compondo também, fiz uma seleção de 25 músicas para o disco. Naturalmente elas vão se escalando para contar essa história comigo. Então chamei Juliano Holanda, produtor musical do disco, que me conhece muito bem, para organizar minhas ideias, e depois de algumas reuniões decidimos gravar com a banda que está comigo na estrada, que fez toda diferença para a construção dos arranjos, um processo de 20 dias juntos, sendo 10 dias na pré-produção, juntos no apartamento cedido pela gravadora Deck, na Barra, Rio de Janeiro, sem interferências externas de outros trabalhos ou família, e 10 dias gravando com as ideias ainda bem frescas. Um processo todo analógico, pra gente sentir a pulsação enquanto criávamos. Quando terminaram as gravações, começamos o agendamento com as participações, amigas e amigos para celebrar minha arte nesses 20 anos de carreira.

ZR: Você reforça o poder feminino num álbum em que se rodeia de mulheres, entre compositoras e participações especiais. Vamos falar um pouco sobre esta escolha.
A: Não foi nada pensado, sempre fui rodeado de mulheres, desde a infância, o feminino é um lugar seguro para mim. Quando o mundo masculino me matava, me agredia, me machucava, Ana Paula Marinho foi a primeira pessoa a compor comigo, desde os 13 anos, a gente compunha toda semana, aquele exercício me salvava. Agora no novo álbum percebi que estou cercado de mulheres incríveis e resolvi ressaltar isso. A gente precisa sempre ter um olhar voltado para nossas mulheres, em todas as áreas. A maioria dos espaços são predominantemente ocupados por homens, em sua maioria homens que não se cuidam e só reforçam o veneno mortal do machismo. Cresci ouvindo Zélia Duncan, minha poesia tem total influência dela, ela tem a expressão “Nesse Exato Momento” tatuada no braço, virou o nome do meu disco. Tem parcerias com Joana Terra e Ezter Liu, Ceumar, Isabela Moraes. Na música “Beijo, Beijo” chamei duas cantoras que eu amo, minhas amigas, para fazer um trisal comigo nesse xote nervoso e sensual, Juliana Linhares e Mariana Aydar. E para abençoar minha existência a voz da deusa Maria Bethânia, que renovou minhas águas, ela entrega o entendimento das essências, o front, o monte, a fonte inesgotável da beleza.

ZR: Como você tem recebido o carinho, esse carinho que acaba funcionando também como uma bênção, uma chancela, um atestado de qualidade, de artistas como Mariene de Castro, com quem você dividiu um álbum, e Maria Bethânia, essa entidade que eu acredito que seja a intérprete sonho de todo compositor?
A: Eu tenho recebido com muito respeito à minha arte, à minha história, trabalho incansavelmente para estar aqui inspirado, respeito também os instantes de iluminação que me levaram até elas. Mariene marcou minha vida para sempre, é uma artista que me fascina, me hipnotiza! Sou muito grato ao universo por ter nos avizinhado. Bethânia é a maior artista do mundo para mim, a voz dela é um Sol, essa artista que tem no canto o mapa do Brasil, quando já gravou quase todos os compositores e compositoras de quase todas as regiões desse país. Quando canto com ela uma canção minha em parceria com Isabela Moraes, me sinto forte e renovado, como uma compensação por toda luta e lida. Renasço, depois que cantei com Bethânia meu corpo queimou como um Sol!

ZR: Você já dedicou álbum ao repertório de Cazuza e também dividiu um com seu conterrâneo Martins. Quero te ouvir sobre influências, aqueles nomes que foram fundamentais em tua formação, e sobre novos nomes que te chamam a atenção.
A: Olha, cresci ouvindo Roberto Carlos, que meu pai era fã, ouvia muito Alceu Valença e Elba Ramalho também, no Agreste de Pernambuco essas vozes estavam no pedestal. Depois quando começo a escolher o que ouvir, me abastecia de MPB, as cantoras “sapatômicas” dos anos 90 me influenciaram muito. Elas legitimavam meu amor e minha vida. Logo depois vou morar em Caruaru e me dou conta de uma riqueza cultural muito forte, quando começo a cantar na noite e conhecer os artistas contemporâneos na época, as bandas de pifanos, a cultura popular que é um mar de possibilidades sonoras. Hoje sou muito atento aos meus contemporâneos, tem muitos compositores e compositoras incríveis, que me emocionam muito, como Joana Terra, PC Silva, Gean Ramos, Martins, Marcello Rangel, Agda, Una, Juliana Linhares, Renan Costa, Coral, Alefe Passarim, Chico Chico, Paulo Neto e Assucena.

ZR: Você faz parte de uma geração de artistas que têm chamado a atenção pela qualidade e por uma poética particular. Como é integrar este bando que após o mangueBit coloca novamente Pernambuco no centro das atenções?
A: Acho maravilhoso, tem muita gente boa, muitos artistas seguros de seus dons e caminhos, artistas genuínos ainda, sabe? Essa era tiktok dá medo, parecem uns bonecos abrindo e fechando a boca, sem sentimento. Quando a arte se mostra aos nossos olhos naturalmente bela e poética, faz a gente planar.

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Ouça Nesse Exato Momento:

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