Documentário longa-metragem é parte do processo do registro do Choro como Patrimônio Cultural do Brasil
Ontem (23) foi celebrado o Dia Nacional do Choro, no Brasil, e o Dia Estadual do Choro, no Maranhão. A data marca o nascimento de Alfredo da Rocha Viana Filho, o Pixinguinha (1897-1973) e as leis que instituem as comemorações foram promulgadas por Fernando Henrique Cardoso e Flávio Dino, respectivamente – a lei federal nº. 10.000, de 4 de setembro de 2000, e a lei estadual nº. 10.966, de 7 de dezembro de 2018.
Às legislações soma-se o recente reconhecimento do Choro como Patrimônio Cultural do Brasil, com o registro da manifestação cultural no Livro das Formas de Expressão do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural Nacional (Iphan). O pedido de registro foi apresentado pelo Clube do Choro de Brasília, Instituto Casa do Choro do Rio de Janeiro e Clube do Choro de Santos, além de chorões e choronas de todos os cantos do Brasil.
O vasto dossiê para instrumentação técnica do processo de registro do Choro como Patrimônio Cultural do Brasil está disponível online. Sua feitura deu-se durante a pandemia de covid-19: além de documentos e registros reunidos, os depoimentos de chorões, choronas e pesquisadores/as foram colhidos à distância, através de aplicativos para a realização de chamadas de vídeo online, como era possível diante das restrições impostas pela crise sanitária global.
Parte desse material, pelas mãos do diretor Pedro Aspahan, foi transformado no documentário longa-metragem Choro [Brasil, 2024, 82 minutos], que percorre diferentes geografias do Brasil, dialogando com instrumentistas e pesquisadores/as sobre o gênero que lhe dá título, ilustrado com imagens de época e com a sonoridade de chorões e choronas em ação.
O filme aborda a trajetória histórica do Choro, desde sua gênese, influências, práticas, capacidade de reinvenção – nunca foi sucesso absoluto de massas, mas, entre altos e baixos, é ouvido por estas plagas há pelo menos 150 anos, reunindo nomes fundamentais desta brasileiríssima música: os bandolinistas Hamilton de Holanda e Reco do Bandolim, a cavaquinhista Luciana Rabello, a pianista Maria Teresa Madeira, os violonistas Maurício Carrilho, Rogério Caetano e Sebastião Tapajós (1943-2021), a flautista Odette Ernest Dias, o baterista Oscar Bolão (1954-2022) e o flautista Toninho Carrasqueira, entre muitos outros.
Ao contrário de outras manifestações já registradas no citado Livro, o Choro chama a atenção por sua descentralização: desde seu surgimento é praticado do Oiapoque ao Chuí. Embora alguns atribuam seu epicentro ao Rio de Janeiro, o acervo de partituras colecionado pelo padre maranhense João Mohana (1925-1995), entre outros exemplos, atesta que o Choro já era uma prática musical em outras praças desde então.
Um dos pesquisadores que comparecem à película é o sociólogo e radialista maranhense Ricarte Almeida Santos, que desde 1991 apresenta o dominical Chorinhos e Chorões, na Rádio Universidade FM (106,9MHz) – atualmente veiculado simultaneamente também pela Rádio Timbira FM (95,5MHz) – provavelmente o mais longevo programa de rádio dedicado ao Choro no Brasil.
Ricarte Almeida Santos é autor – com este repórter e o irmão-fotógrafo Rivânio Almeida Santos – de Chorografia do Maranhão [Pitomba!/Edufma, 2018], livro que reúne as 52 entrevistas com 54 instrumentistas de Choro nascidos ou radicados no Maranhão, publicadas pelo jornal O Imparcial, entre março de 2013 e maio de 2015, que se configurou documento para o referido processo de registro.
O documentário, parte integrante do citado processo, foi disponibilizado segunda-feira (22) no canal do youtube do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP) – ao lançamento, seguiu-se um debate com as presenças do diretor e dos pesquisadores Pedro Aragão, Rafael Velloso e Lúcia Campos.
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Assista o documentário e o debate:
Uma maravilha esse Doc! Parabéns calorosos ao diretor Pedro Aspahan, do Produtor de Pixinguinha Um Homem Carinhoso. CARLOS MOLETTA