Hamilton de Holanda e “a influência africana na nossa cultura”

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O bandolinista Hamilton de Holanda. Foto: divulgação
O bandolinista Hamilton de Holanda. Foto: divulgação

Bandolinista se apresenta hoje na primeira noite do Festival Instrumental Nacional, na Praça Maria Aragão, em São Luís; toda a programação é gratuita

De hoje a domingo (21) São Luís recebe o Festival Instrumental Nacional (Fina), na Praça Maria Aragão. A programação inclui shows e workshops com grandes nomes da música instrumental brasileira, entre os quais o violoncelista Jaques Morelenbaum, o acordeonista Toninho Ferragutti e o bandolinista Hamilton de Holanda, com quem Farofafá conversou com exclusividade (em parceria com as rádios Timbira AM e Universidade FM, de São Luís do Maranhão).

A programação do Fina é gratuita e aberta ao público, tanto os shows, quanto os workshops, que acontecem na Escola de Música do Estado do Maranhão Lilah Lisboa de Araújo (Emem). Entre as atrações locais estão o Jayr Torres Trio e o Regional Tira-Teima, o mais longevo grupamento de choro em atividade no Maranhão, cuja fundação remonta a meados da década de 1970.

Em sua apresentação, que acontece hoje às 22h, Hamilton de Holanda incluirá uma homenagem ao violonista Baden Powell (1937-2000). A programação completa do festival pode ser acessada no instagram @festivalfina. A seguir, leia e/ou ouça a entrevista.

ZEMA RIBEIRO – Você traz a São Luís uma homenagem a Baden Powell. Qual a importância dele em tua formação e o que o público pode esperar?
HAMILTON DE HOLANDA – A importância do Baden Powell é que ele acrescentou em um momento importante da história da música brasileira, na década de 1960, junto com o Vinicius de Moraes, a temática africana, e reforçou a influência africana na nossa cultura, na nossa música, principalmente através dos “Afro-sambas”, aquele trabalho que foi lançado em 1966, parceria dele com o Vinícius. Dentro disso tem um violão que é muito vibrante, um violão muito forte, muito rítmico, tem aquelas melodias mântricas e isso me pegou de um jeito, quando eu ouvi pela primeira vez. Praticamente todos os meus shows eu toco algum afro-samba e eu devo tocar algum também. Ao mesmo tempo vou apresentar umas composições novas minhas, vou tocar Pixinguinha (1897-1973) também, vou tocar o “Afro-choro”, que é uma composição nova, vou tocar composições que ainda nem foram lançadas, como “Flying chicken” e “Sol e luz”. Enfim, quem estiver lá vai poder se emocionar com o repertório e eu tenho certeza que vai ser uma noite inesquecível.

ZR – Você já esteve em São Luís outras vezes, a mais recente no Lençóis Jazz e Blues Festival. Que lembranças têm da cidade?
HH – Na verdade eu tenho um carinho muito grande por São Luís e pelo estado do Maranhão, já há muitos anos. Eu convivi por muito tempo com maranhenses quando eu morava em Brasília. Eu vou apresentar uma composição nesse show também que eu fiz inspirada no tambor de crioula, chamada “Maranhão”. Então, eu tenho sempre uma recordação muito agradável, principalmente ligada às manifestações culturais aqui do estado. Então, pra isso, eu fiz uma música, uma homenagem a essa riqueza cultural que o Maranhão tem. Eu sempre tenho boas recordações, espero também ter ótimas recordações dessa oportunidade agora dentro do Fina.

ZR – O isolamento social imposto pela pandemia de covid-19 afastou artistas e público, distância que as lives ajudaram a diminuir. Qual a sensação desta retomada gradual dos palcos?
HH – A sensação é que cada vez mais a gente entende a importância da cultura, a importância das artes, a importância da música na vida do ser humano. Isso ficou muito claro na pandemia e está ficando mais claro ainda agora, podendo reencontrar as pessoas e fazer os shows presencialmente, porque eu sinto no ar, a gente já passou bastante, já estamos bem avançados; no começo, quando começaram a rolar os primeiros shows presenciais, eu sentia uma carência coletiva, todo mundo precisando daquilo, daqueles encontros. Essa afirmação da importância da arte, da cultura, da música na vida das pessoas, isso foi o que ficou mais claro para mim. E eu, dentro da minha possibilidade, fiz muita coisa online, para aproximar as pessoas. Graças a Deus a gente já está passando para isso, e estamos em outra etapa, outro estágio, podendo se encontrar pessoalmente.

ZR – Nesse período você continuou produzindo. O que o fã clube de Hamilton de Holanda pode esperar para breve?
HH – Eu não parei de produzir, inclusive no ano auge da pandemia, que foi 2020, eu fiz uma música por dia. Eu fiz 366 músicas. Foi um projeto que eu comecei antes da pandemia, na verdade, em janeiro não tinha pandemia aqui no Brasil, e evitou problemas de depressão, de coisas assim, porque cada música que eu fazia era como se fosse um remedinho natural que me deixava num astral firme para enfrentar o momento. Eu tenho gravado algumas dessas músicas, acabei de gravar um disco novo, que deve sair agora em novembro, com o Billy Rabelo na bateria e o Salomão Soares no piano, com composições novas. Inclusive vou tocar uma no show que é o “Flying chicken”. Sigo fazendo shows com João Bosco também, a gente tem um duo muito bom também, muito legal, acabei de fazer um trabalho novo, que espero poder viajar com ele também, que é com o [percussionista] Macaco Branco e a Sapucaí Carioca Groove, que é uma bateria de escola de samba, com a [saxofonista] Daniela Spielmann também, são as minhas músicas e alguns sambas conhecidos, tocados por essa bateria, por mim no bandolim, e que, poxa, é uma energia incrível. Eu espero poder viajar em breve com esse trabalho.

ZR – Quero te deixar à vontade para reforçar o convite aos ouvintes das rádios Timbira AM e Universidade FM e leitores do Farofafá a ir prestigiar o Fina.
HH – Eu queria reforçar o convite. Hoje, sexta-feira, eu vou tocar no Festival Fina, aqui em São Luís, e o show vai ser depois do show do Água de Moringa, que vai ser um belo show também, um belo concerto, um conjunto de choro do Rio de Janeiro. Vai ser na Praça Maria Aragão. Espero vocês lá. Venham, que com certeza vai ser uma experiência inesquecível.

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