A cantora, compositora e acordeonista Lívia Mattos, uma das atrações do Festival Feminino, em São Luís - foto: Daniel Kersys/ reprodução redes sociais
A cantora, compositora e acordeonista Lívia Mattos, uma das atrações do Festival Feminino, em São Luís - foto: Daniel Kersys/ reprodução redes sociais

O diplomata, filósofo, antropólogo, professor universitário, tradutor e ensaísta brasileiro Sérgio Paulo Rouanet (1934-2022) foi o responsável pela criação da lei federal de incentivos fiscais à cultura, que leva(va) seu nome até bem pouco tempo. A chamada Lei Rouanet – hoje Lei Federal de Incentivo à Cultura – foi criada quando ele exerceu o cargo de secretário de Cultura no governo de Fernando Collor (1990-1992). A lei sempre foi alvo das baboseiras proferidas pela extrema-direita em sua guerra ideológica contra qualquer avanço civilizatório e pautas geralmente identificadas com a esquerda.

Com suas falhas e necessidades de ajustes (sobretudo quanto à distribuição geográfica de recursos), a legislação configurou-se, nestes mais de 30 anos, no principal mecanismo de fomento à cultura brasileira. Resistiu até mesmo do desmantelamento da Cultura pelo governo neofascista de Jair Bolsonaro (2019-2022), quando a pasta perdeu o status de Ministério.

Devagar, novos ares vão se respirando no país e São Luís volta a ser palco de importantes festivais, como o recém-realizado Festival de Música Universal (que entre os últimos dias 11 a 14 de abril trouxe à capital maranhense nomes como Hermeto Pascoal, Carol Panesi, Itiberê Zwarg e Mariana Zwarg) e o vindouro Festival Feminino, cujos shows serão realizados no Teatro Arthur Azevedo (Rua do Sol, Centro), dias 10 e 11 de maio – o festival tem início dia 9, com sessões cinematográficas no Cinema do Sesc Deodoro. A programação é gratuita.

Outro importante festival que vem angariando público crescente é o Zabumbada, que já anunciou para os próximos dias 12 e 13 de julho a realização de sua terceira edição. Um detalhe importante: todos estes eventos citados até aqui têm patrocínio captado através da Lei Federal de Incentivo à Cultura.

O Festival Feminino chega este ano à sua quarta edição, tendo como tema o Feminino Instrumental, e percorrerá, além de São Luís, Belém/PA (de 2 a 5 de maio), Vitória/ES (17 a 19/5) e São Paulo/SP (21 a 26/5).

Débora Ribeiro de Lima e Dani Godoy são as fundadoras da Ninas Agência Cultural, que realiza o Festival Feminino, idealizado pela primeira, que conversou com exclusividade com FAROFAFÁ.

A produtora Débora Ribeiro de Lima, idealizadora do Festival Feminino - foto: divulgação
A produtora Débora Ribeiro de Lima, idealizadora do Festival Feminino – foto: divulgação

SETE PERGUNTAS PARA DÉBORA RIBEIRO DE LIMA

ZEMA RIBEIRO: Vamos começar situando nosso leitor sobre a história do Festival Feminino. Onde, quando e como surgiu e quais eram os objetivos?
DÉBORA RIBEIRO DE LIMA: O Festival Feminino nasceu em 2018 com o objetivo de pautar os temas igualdade de gênero e respeito à diversidade através de programação cultural, ações de impacto e geração de vagas temporárias de trabalho para mulheres dentro do mercado cultural. Sua primeira edição passou por quatro cidades – Belo Horizonte, Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo –, já com extensa programação e participação de importantes artistas, tais como Elza Soares (1930-2022), madrinha do Festival, Pitty, Iza, Fernanda Abreu, Maria Gadu, Alice Caymmi, Xênia França, Assucena e Raquel Virgínia, entre outras.

ZR: Vivemos em uma sociedade infelizmente ainda machista, misógina e patriarcal e o universo musical não é diferente. Mas aos poucos as mulheres vêm ganhando terreno. Além de espaço de fruição artística o Festival Feminino se pretende um farol, no sentido de, de repente, incentivar outras iniciativas como este evento?
DRL: Consideramos esta edição do Festival, a nossa quarta, muito especial. O Feminino Instrumental é um recorte pensado exatamente para evidenciar as mulheres instrumentistas, criando assim maior representatividade dentro do cenário da música instrumental, ainda dominado por homens. Sentimos que este movimento tem ganhado força expressiva e hoje é muito mais recorrente ver mulheres não só integrando formações, mas também liderando grupos e empreendendo carreiras solo. Então, iniciativas como esta do Festival ajudam a alavancar este movimento em curso e geram energia para as mulheres que já estão no mercado, inspiração para quem quer entrar e referências para o público. 

ZR: Em maio o festival percorrerá quatro capitais brasileiras – Belém, São Luís, Vitória e São Paulo. Como se deram as escolhas destas geografias?
DRL: Um grande desejo do Festival sempre foi descentralizar sua programação, não só pensando em levar suas pautas para territórios diversos, mas também como forma de mapear a produção artística feminina no país. Nesta quarta edição, a ideia era alcançar regiões que ainda não havíamos chegado, como Norte e Nordeste, e aportar também em Vitória, pelo fato de ser uma cidade que fica fora do eixo, mesmo situada no Sudeste. São Paulo é onde fica a base do projeto, então todas as edições acabam de alguma forma realizando ações na cidade que sempre nos apoiou de diversas formas.

ZR: O que você pode nos adiantar em termos de programação? Que artistas estarão no line-up?
DRL: Apesar de ser um Festival baseado na música, sua programação desde sempre foi pensada de forma multicultural, agregando outras linguagens, como poesia, performance, artes visuais, cinema e rodas de conversa. No line-up de São Luís, onde o evento acontecerá de 9 a 11 de maio. A programação abre com cinema, na quinta e sexta (9 e 10), com curtas-metragens infanto-juvenis, de temáticas ligadas ao festival. Os shows e demais atrações acontecerão na sexta e sábado (10 e 11), com apresentações de Lívia Mattos, Funmilayo Afrobeat Orquestra, Thaynara Oliveira e FemmeFusion. Tocarão ainda as djs Vanessa Serra e Gabriella Leão. As performances ficarão por conta das artistas Áurea Maranhão e Debs Poeta. As projeções nas duas noites são de Ana Waleria.

ZR: Em tempo: as mesmas artistas percorrerão as quatro praças ou teremos programações diferentes?
DRL: Como uma prioridade desta edição é a representatividade local, a maior parte da programação é composta por artistas do próprio estado, mas temos algumas atrações nacionais que se repetem em algumas cidades. O formato do Festival é muito parecido em todas as localidades, mas as programações são bem diferentes.

ZR: Além das apresentações, a programação prevê algum evento formativo?
DRL: Sim, em todas as cidades levaremos uma ação dedicada ao público infantil, com idade entre 6 e 10 anos, com o intuito de aproximá-lo da música instrumental, através de uma vivência, sempre proposta por mulheres instrumentistas. São ações que envolvem as crianças a partir de músicas que são familiares a elas, como trilhas de desenhos, filmes e propagandas, mostrando como este gênero sempre está presente no cotidiano.

ZR: Em São Luís, onde o festival vai acontecer e como funcionará a aquisição de ingressos?
DRL: A mostra de filmes será no Cinema Sesc Deodoro, com distribuição de ingressos antes das sessões, e a programação geral no Teatro Arthur Azevedo, com distribuição de ingressos duas horas antes do início do evento. Toda programação é gratuita e tem indicação livre. Para acompanhar as novidades e ter informações detalhadas do Festival Feminino 2024, conecte-se pela página @festival.feminino.

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