"Menino de Asas". Capa. Reprodução

O músico Clayton Barros ganhou projeção nacional ao fundar, com Lirinha, o Cordel do Fogo Encantado, grupo de Arco Verde, no sertão pernambucano, cuja sonoridade é marcada pela percussão forte em diálogo com a oralidade da literatura de cordel e o canto dos repentistas.

Uma das influências confessas do músico foi o guitarrista Paulo Rafael (1955-2021), que além de acompanhar Alceu Valença por mais de 40 anos, foi fundador da Ave Sangria, banda lendária, ainda em atividade, um dos mais destacados nomes do udigrudi nordestino.

No último dia das crianças chegou às plataformas de streaming o single “Menino de Asas” (Clayton Barros), com a participação de Marco Polo, vocalista da Ave Sangria – a faixa tem ainda João Felipe Cavalcanti (baixo, moog e masterização), Tiago Oliveira (percussão), Silverson de Sousa (violino), Gabriel Marques (violoncelo), Cícero Júnior (viola), Samuel de Amorim (viola), Lucas William (trompa), Wagner Braga (oboé), Feiticeiro Julião (cítara) e Eneyda Rodrigues (flautas). Rodrigo Miranda Coelho assina a produção e mixagem e Emanoel Barros o arranjo.

A música não é inspirada, mas toma emprestado o título do livro do potiguar Homero Homem (1921-1991), da Coleção Vagalume, um dos mais bem sucedidos acontecimentos editoriais brasileiros, responsável pela formação de um sem número de leitores. inclusive Clayton Barros. No livro, um menino é tratado como uma aberração por ter asas; na canção o personagem é um menino que se isola para ver a destruição do mundo.

A capa de “Menino de Asas” – em que Paulo Rafael aparece representado na figura de um astronauta – é assinada por Wendell Araújo. FAROFAFÁ conversou com exclusividade com Clayton Barros.

O músico Clayton Barros - foto: Tiago Calazans/ Divulgação
O músico Clayton Barros – foto: Tiago Calazans/ Divulgação

CINCO PERGUNTAS PARA CLAYTON BARROS

ZEMA RIBEIRO: Seu “Menino de asas” se junta, em beleza, a clássicos como “Sonho de Ícaro” (Piska/ Cláudio Rabello), sucesso de Biafra, e “Estampas Eucalol” (Hélio Contreiras), sucesso de Xangai. Qual a sensação de estar nestas companhias?
CLAYTON BARROS: “Sonho de Ícaro” eu ouvi muito no rádio ao longo do tempo, de alguma forma me influenciou. Já “Estampas Eucalol” fez parte do meu repertório, na época de música ao vivo nos bares. São lindas canções que nascem da nossa eterna criança interior. Para mim é uma grande honra ser citado em comparação com esses clássicos. Fiz essa música num momento de sonho e êxtase, depois de ter feito minha primeira viagem de avião, cruzando o Atlântico.

ZR: “Menino de Asas” é título de um livro de Homero Homem, da antológica Coleção Vagalume. O single foi lançado perto do dia das crianças e a música tem uma delicadeza que tange o universo infantil. O livro foi inspiração? Quais as principais lembranças que você carrega da infância?
CB: Li “Menino de Asas” na escola, mas a história da música não retrata o livro, peguei o título emprestado para compor a canção. Minhas principais lembranças da infância são meus pais, meu quintal cheio de árvores e plantas, uma casa de papelão que meu irmão Geraldo construiu no nosso quintal. As aventuras na natureza, escaladas, jogo de bila [bolinha de gude], o som que o vento e a chuva faziam nas árvores e no telhado. São tantas lembranças que não caberiam aqui, minha memória guarda todas e eu as traduzo em música.

ZR: A música é uma homenagem a Paulo Rafael. Quero te ouvir sobre a relação de vocês e o processo de composição.
CB: Quis fazer essa homenagem a Paulo Rafael por conta da forma que a gente se tratava, Kósmik Brother. Ele hoje faz parte dessa orquestra interestelar ecoando pela imensidão do espaço-tempo. Ele também fez parte do Ave Sangria. Na canção divido os vocais com Marco Polo, vocalista do Ave. Sempre nos falávamos e tínhamos um plano para ele produzir um disco meu. Meu processo de composição é variado, por vezes vem tudo junto – letra, música e melodia –, por outras em separado, vou pensando e montando as peças até chegar num resultado voz e violão satisfatório para poder pensar em gravar com mais instrumentos, seguindo arranjo definido. Não existe fórmula e sim diversas formas para compor e dissertar nossas ideias.

ZR: Você ficou bastante conhecido como violonista do Cordel do Fogo Encantado. Quais as suas principais influências no campo da música?
CB: Minhas referências musicais são diversas: Geraldo Azevedo, Zé Ramalho, Alceu Valença, Rosinha de Valença [1941-2004], João Bosco, Adriana Calcanhotto, João Gilberto [1931-2019], Dori Caymmi, Chico César e mais um monte de gente foda, talentosa e competente.

ZR: “Menino de Asas” anuncia um álbum solo?
CB: Tenho um repertório pronto sobre essa história do Menino de Asas e de outro personagem, que é o Astronauta Encantado. A ideia de um disco já floresce com esse single mas eu penso mais além, em algo para teatro, também para a tevê e internet, incluindo recursos pedagógicos.

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Ouça “Menino de Asas”:

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