"Nós e o Mar". Capa. Reprodução

Ícone da bossa nova, o compositor e violonista divide “Nós e o Mar” com Diogo Monzo e Ricardo Bacelar

Desde o título, as 10 faixas de “Nós e o Mar” celebram a parceria de Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli (1928-1994) – a exceção é “Bye Bye Brasil”, parceria do compositor e violonista com Chico Buarque.

Ícone da bossa nova, Menescal se juntou ao pianista Diogo Monzo e ao multi-instrumentista Ricardo Bacelar (produtor do álbum com Fernanda Quinderé) para o registro, que o reafirma como intérprete, para além de exímio instrumentista. “Nós e o Mar” chegou hoje (14) às plataformas de streaming e tem também edição física em cd.

À ideia original, de um álbum instrumental, somaram-se três faixas cantadas: “O Barquinho”, “Ah! Se Eu Pudesse” e “Bye Bye Brasil”, esta cantada por Leila Pinheiro, em participação especial – a faixa ganhou um videoclipe de ares tropicalistas, a realçar a versatilidade de Menescal e seus parceiros de empreitada.

“Nós e o Mar” foi gravado em Fortaleza/CE, no estúdio de Bacelar, para o selo Jasmin Music, recém-fundado por Quinderé.

A Roberto Menescal (voz e violão, arranjo em “Bye Bye Brasil”), Diogo Monzo (piano elétrico e arranjos) e Ricardo Bacelar (piano acústico, teclados, percussão e arranjos), somam-se Nélio Costa (contrabaixo acústico) e Pantico Rocha (bateria).

Sobre o álbum, FAROFAFÁ conversou com exclusividade com Ricardo Bacelar.

Roberto Menescal, Diogo Monzo, Ricardo Bacelar e o mar. Foto: Leo Soares/ Divulgação
Roberto Menescal, Diogo Monzo, Ricardo Bacelar e o mar. Foto: Leo Soares/ Divulgação

ZEMA RIBEIRO: Como surgiu a ideia de “Nós e o Mar” e o que foi mais fácil e mais difícil ao longo do processo de produção do álbum?
RICARDO BACELAR: O que foi mais fácil e mais prazeroso do disco foi a relação pessoal entre os músicos que estavam gravando. O clima de gravação foi muito favorável, muito amistoso, muito prazeroso, de muita amizade, de muita cumplicidade. Foi fácil fazer esse disco por esse lado pessoal porque o Menescal é uma pessoa muito doce, muito educada, o Diogo também, Leila também, a Fernanda, os músicos também, então foi muito bom. O mais difícil eu acho que foi, talvez, encontrar um lugar, o que a gente iria fazer, aonde esse repertório iria estar. Por que eu, particularmente, como produtor, com a Fernanda Quinderé, eu queria pegar o repertório do Menescal, e escolhemos esse recorte dessas obras que foram feitas, a maioria com Ronaldo Bôscoli, e eu quis fazer uma bossa nova com uma pitada de alguma coisa mais contemporânea, sabe? Por que bossa nova é uma coisa que você não pode mexer muito, por que ela tem um formato muito característico e clássico, mas você pode tentar dar umas pitadas e dar alguma textura diferente na música, para que ela tenha uma identidade e uma originalidade. Eu acho que foi difícil porque eu fiquei quebrando a cabeça, como produtor, pensando na sonoridade, na instrumentação, achei que o disco acústico, predominantemente, com piano acústico, baixo acústico, bateria, seria o disco, mas eu optei por implementar os teclados analógicos para dar uma textura moderna e contemporânea a essa coisa da bossa nova e eu acho que funcionou.

ZR: “Nós e o Mar” revela o Menescal intérprete, para além do exímio violonista e compositor. Foi difícil convencê-lo?
RB: O Menescal é uma pessoa muito aberta para ideias. Ele, quando gosta, de cara, ele é aberto a novidades, a sugestões, então foi fácil convencer. Primeiro porque é um disco em homenagem a ele, segundo porque “O Barquinho” não tem nenhuma gravação com ele, assim, em disco, que seja significante, assim, para marcar essa discografia dele, com ele cantando uma vez “O Barquinho”, então foi fácil, nós convencemos a ele, a gente conversou, a Fernanda também conversou, ele gostou da ideia, eu produzi com ele a coisa da voz, dirigi com ele, e depois, com bastante calma, ele cantou e gostou.

ZR: Como se deu o processo de seleção do repertório? Todos opinaram?
RB: A seleção de repertório todos opinaram, a Fernanda veio com esse conceito desse recorte, com esse período de obras dele com o Ronaldo Bôscoli, e aí foi se desenhando o repertório, a gente dividiu cinco arranjos pra mim, cinco arranjos pro Diogo Monzo, e o “Bye Bye Brasil” o Menescal arranjou comigo, que ele deu a ideia de fazer um sambete e a gente assim fez.

ZR: O que significou para você receber Menescal em Fortaleza, em seu estúdio, para o registro deste álbum que celebra seus 85 anos?
RB: Receber o Menescal aqui foi uma alegria, ele ficou hospedado lá em casa, eu já conhecia o Menescal há muito tempo, morei no Rio 12 anos, e lá no Jasmin a gente faz um processo de imersão, ou seja, nós ficamos, geralmente as pessoas ficam hospedadas num quarto perto do estúdio, você já acorda de manhã com a música na cabeça, vai dormir com a música na cabeça. Foi muito agradável, porque a gente conversou demais, como a gente ficou juntos o tempo inteiro, fora do estúdio, foi uma alegria, porque a gente passava a noite batendo papo, conversando, então foi muito bom, muito  bom mesmo. Foi emocionante pra mim poder trabalhar com ele, eu nunca tinha gravado com ele, e a gente pensa que sabe tocar bossa nova, mas depois que você grava o Menescal, tocando aquele violão dele, maravilhoso, aí você tem a dimensão do que é tocar bossa nova de verdade, porque aquela bossa nova está naquele violão dele, o resto é só brincadeira. Ali é que está a fonte da coisa.

ZR: Você recentemente dividiu com a pianista Delia Fischer o álbum “Andar Com Gil”, em homenagem a Gilberto Gil. Agora um álbum que ao mesmo tempo que homenageia Menescal é dividido com ele. O que vem por aí?
RB: Eu dividi esse disco com a Delia Fischer, que é uma grande e querida amiga, com a participação do Gil, que cantou uma faixa, prestigiando a obra do Gil. O Jasmin vem nessa linha de música brasileira mais sofisticada, a gente tem feito isso, um trabalho de repertório, esse trabalho com a Delia a gente quis homenagear uma pessoa e o Gil foi a primeira pessoa que a gente pensou, porque eu gosto muito do repertório dele, e Delia também, e também fizemos um recorte, como a obra é muito extensa, o recorte foi no sentido das obras do Gil que tivessem uma conexão com a espiritualidade, então todo repertório foi feito assim, em homenagem aos 80 anos do Gil. Esse agora em homenagem aos 85 anos do Menescal. Eu estou fazendo um disco com a Leila Pinheiro, e a participação especial do Jaques Morelenbaum, que eu não posso dizer agora o que é. Mas vêm coisas por aí.

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Ouça “Nós e o Mar”:

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