O monumento da arquitetura mundial estava fechado há mais de 10 anos e a comenda não era entregue desde 2019 – solenidade acontece em meio a greve no setor cultural; o cantor e compositor Odair José, um dos agraciados, falou com exclusividade a FAROFAFÁ
O Ministério da Cultura (MinC) entrega hoje a Ordem do Mérito Cultural, maior honraria pública do setor cultural brasileiro. A solenidade acontece às 17h, no Palácio Gustavo Capanema, no Rio de Janeiro, ocasião em que o colosso arquitetônico volta a poder ser frequentado, após restauro recentemente concluído. O governo neofascista de Jair Bolsonaro (2019-2022) havia colocado o prédio à venda, mas recuou, após pressões. A entrega da OMC acontece em meio a uma greve que já dura quase um mês em diversos setores do MinC – leia sobre aqui.
O Palácio Gustavo Capanema foi construído entre 1937 e 1945, durante o governo Getúlio Vargas (1930-1945), para ser a sede do então Ministério da Educação e Saúde Pública – o personagem que lhe batiza foi o ministro da educação que ficou mais tempo no cargo (11 anos).
Marco da arquitetura moderna mundial e do patrimônio cultural brasileiro, o projeto foi desenvolvido por Lúcio Costa (1902-1998), com o apoio de Oscar Niemeyer (1907-2012), Affonso Eduardo Reidy (1909-1964), Carlos Leão (1906-1983), Jorge Moreira (1904-1992) e Ernani Vasconcelos (1912-1989), além da consultoria do arquiteto, urbanista, escultor e pintor franco-suíço Le Corbusier (1887-1965). Painéis de Cândido Portinari (1903-1962) e um jardim projetado por Burle Marx (1909-1994) integram-se à paisagem projetada.
Os investimentos do governo federal na recuperação do prédio de 16 pavimentos foram da ordem de 84,3 milhões de reais, recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (Novo PAC).
A OMC será entregue a 111 personalidades e 14 instituições que se destacaram por sua contribuição à cultura brasileira, em três graus: Grã-Cruz, para as maiores distinções; Comendador/a, para contribuições de destaque; e Cavaleiro/a, para contribuições relevantes em suas áreas de atuação. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ministra da Cultura Margareth Menezes estarão presentes à solenidade.
Entre os nomes agraciados estão os de Alaíde Costa, Alceu Valença, Alcione, Aldir Blanc (in memoriam), Anastácia, o Balé Folclórico da Bahia, Beth Carvalho (in memoriam), Chico César, Conceição Evaristo, Dalton Trevisan (1925-2024, in memoriam), Daniel Munduruku, Danilo Santos de Miranda (1943-2023, in memoriam), Dona Onete, Eliane Potiguara, Elomar, Fernanda Torres, o Grupo Corpo, Lázaro Ramos, Liniker, Leci Brandão, Lia de Itamaracá, Maeve Jinkings, Marcelo Rubens Paiva, Marilena Chauí, Martinho da Vila, Mateus Aleluia, Milton Nascimento, Moa do Katendê (1954-2018, in memoriam), Moacyr Luz, Nêgo Bispo (1959-2023, in memoriam), Ney Matogrosso, Paulo Gustavo (1978-2021, in memoriam), Paulo Leminski (1944-1989, in memoriam), Rita Benneditto, Walter Salles e Zezé Motta, além de Odair José, que respondeu com exclusividade três perguntas de FAROFAFÁ (veja aqui a lista completa dos agraciados com a OMC).

TRÊS PERGUNTAS PARA ODAIR JOSÉ
ZEMA RIBEIRO: Odair, você será agraciado com a comenda Ordem do Mérito Cultural, do Ministério da Cultura. Como você percebe este reconhecimento?
ODAIR JOSÉ: Misturei o meu destino com o destino do povo brasileiro através das minhas músicas e essa mistura é o que me trouxe até esse momento… Mas estou agradecido ao Ministério da Cultura pela lembrança do meu nome.
ZR: Você foi um dos artistas que mais sofreu com a tesoura da censura federal à época da ditadura militar e agora recebe a homenagem de um governo democrático. Quero te ouvir sobre este antagonismo.
OJ: Olha, tive sim muitas e muitas dificuldades com a censura do governo militar e não era nada agradável, pois interferia bastante no sentido da criação. Bom que estamos vivendo um período de um governo democrático e que continue sempre assim… Ditadura ninguém merece!
ZR: O MinC completa 40 anos em 2025 e a Ordem do Mérito Cultural não era entregue desde 2019, época em que o ministério também foi rebaixado ao status de secretaria, quer dizer, a gente percebe retrocessos na política cultural em governos autoritários. Como você tem percebido a retomada das políticas culturais neste terceiro mandato de Lula, com a ministra Margareth Menezes?
OJ: Sem querer criar polêmica a respeito de ideologias: governos autoritários não dá, concorda? E todos sabemos da importância que o presidente Lula sempre deu [à Cultura] nos seus governos e a Margareth Menezes tem feito um excelente trabalho diante do Ministério.