- Acaba de vez com o blablablá de reaça ignorante que enchia a boca para falar que o cinema brasileiro era mal feito. Reaçada teve de assistir ao filme (mesmo escondida) e ficou sem argumento, obrigando-se a terceirizar a crítica nonsense para outro tipo de espírito de porco assalariado ou teleguiado.
- Impele espectadores brasileiros a voltarem às salas de cinema, acompanharem as produções nacionais novas, debaterem sua própria realidade e temas. Ninguém mais quer ficar de fora do bafafá, ficar boiando nas conversas de bar, ignorar o entusiasmo em torno da redescoberta de Erasmo ou a existência da Livraria Argumento (e outras resistentes).
- Ao empilhar premiações inéditas no mundo todo, incluindo o prêmio Goya na Espanha, o filme atraiu as atenções do planeta para as questões brasileiras do passado e do presente, reinserindo o protagonismo do País no debate global (e dando uma folga para o Lula, que fazia isso sozinho).
- Traz divisas de geração espontânea para a cultura, renovando a capacidade do País de exportar seus artefatos artísticos. O filme foi campeão de bilheterias até nos Estados Unidos, derrubando por um momento reservas de mercado aqui e lá. Abriu-se a porteira.
- Obriga o governo brasileiro a sair de seu imobilismo em relação a políticas e legislações de natureza audiovisual, como a taxação do Vídeo Sob Demanda (VoD), que vem sendo varrida para baixo do tapete desde 2013, e o impele a obrigar a Ancine a cumprir o seu papel e fiscalizar o cumprimento da cota de tela, único mecanismo que pode garantir a reserva de mercado para o filme nacional.
- Consagra definitivamente o clã Torres-Montenegro, DNA de excelência interpretativa e ética. Fernanda Torres, de quebra, ainda mostrou nos últimos meses como driblar com elegância e paciência extrema a onda de bajulação que se criou a partir do êxito do filme (ela sabe que essa também é uma característica nacional), destacando sempre a vitória do cinema brasileiro.
- Põe a nu o autoritarismo cultural da extrema direita, que, sem dispor de obras, nomes ou uma produção criativa minimamente relevante, ocupa-se majoritariamente de hostilizar os notáveis artistas de exportação brasileiros, que cuidam de afirmar um dos nossos produtos de exportação de excelência – a ponta de lança do chamado soft power. Vai ser difícil, daqui por diante, para o terraplanismo cultural…
- Ensina as plateias mal acostumadas com “porra”, “caralho”, “vou te dar um tiro na cara” e outros refinamentos tropadeelitícos a apreciar um outro tipo de filme, no qual a violência e a tensão estão subentendidos, devem ser captados nos olhares dos atores, na indiferença do gerente de banco, no pânico do vizinho, na alfabetização histórica. Ensina. Educa.
- Ao jogar luz sobre o caso Rubens Paiva, o filme ajudou a reabrir os casos escabrosos de desaparecimento e tortura de cidadãos e cidadãs durante a ditadura militar, processo que estava em banho-maria após o malfadado governo de penúria ética e apagamento histórico de Jair Bolsonaro. Esvaziou também a ladainha da “polarização cultural” a que certo tipo de imprensa recorre cotidianamente – o que há de polarização entre um espectro político que comete atentados, sequestra, assassina e mente contra outro que atua dentro das regras do jogo democrático?
- O cinema brasileiro volta a discutir as questões de exceção e regra – qual o investimento necessário para apoiar um êxito global e qual o critério para que isso se torne rotineiro, normalizando a prioridade da distribuição e exibição do filme brasileiro em mercados externos. Por que a agência nacional de cinema deu ajuda zero à promoção de filmes como os de Petra Costa, Barbara Paz, Wagner Moura, Lázaro Ramos e Walter Salles?
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