Às vezes, melhor que o destino é o percurso. É assim que o pianista, compositor e cantor Francis Hime encara a viagem. Não navego pra chegar (Biscoito Fino, 2025), título de seu mais novo álbum, traduz bem o sentimento.
O artista celebra 85 anos de idade (completados no último 31 de agosto, durante o processo de gravação do disco) e 60 de carreira com álbum de inéditas, cheio de participações especiais: Ivan Lins, Simone, Mônica Salmaso, Dori Caymmi, Olivia Hime, Zélia Duncan, Zé Renato, Quarteto Maogani, Leila Pinheiro e Lenine, por ordem de aparição.
Compositor imediatamente associado a Chico Buarque, por sua vasta parceria – são da dupla clássicos da música brasileira como “Meu caro amigo”, “Atrás da porta”, “Trocando em miúdos” e “Vai passar”, para citarmos poucas –, Francis Hime atesta a plena forma em Não navego pra chegar: disco plural em todos os aspectos, seja nos gêneros e temas abordados, parcerias e convidados.
Belo choro-canção, a faixa-título (Maurício Carrilho, Francis Hime e Olivia Hime) é defendida pelo canto sublime de Mônica Salmaso. Simone se destaca em “Samba pra Martinho” (Francis Hime, Geraldo Carneiro e Olivia Hime), homenagem ao sambista Martinho da Vila. A cantora Olívia Hime, esposa de Francis Hime, é sua maior parceira no álbum. Além das duas citadas, com ele assina ainda “Imaginada” (do casal com Ivan Lins, com quem Francis Hime dueta abrindo o álbum), “Um rio” (que canta acompanhada de Dori Caymmi) e “Imensidão” (do casal com Zé Renato, que a defende). Ela canta ainda “Infinita” (Francis Hime e Ziraldo [1932-2024]), que fecha o álbum.
A inusitada e inédita parceria com o pai do Menino Maluquinho foi composta para a peça teatral “Belas figuras” e ainda não havia sido gravada. Francis Hime registra também a inédita “Tempo breve” (parceria com o novelista Bráulio Pedroso [1931-1990]), em dueto com Zélia Duncan – sua parceira em “Chuva”.
No repertório destacam-se ainda “Tomara que caia”, parceria de Francis Hime com Moraes Moreira (1947-2020), que ganha a voz de Leila Pinheiro, “Chula chula” (Francis Hime e Geraldo Carneiro), cantada por Lenine, e “Shakespereana”, que Francis Hime canta acompanhado pelo Quarteto Maogani, com arranjo de Paulo Aragão – único do disco não assinado pelo compositor.
Não navego pra chegar dialoga diretamente com álbuns como Essas parcerias (1984) e aos dois volumes de Álbum musical (1997 e 2008), com a diferença de que o presente lançamento é formado inteiramente por canções inéditas.
Nesta reunião de amigos que celebra o sublime, não podemos deixar de destacar a presença de expoentes em seus respectivos instrumentos: Francis Hime (voz, piano e arranjos) está acompanhado por Aquiles Moraes (flugelhorn e trompete), Cristiano Alves (clarinete), Diego Zangado (percussão em “Samba pra Martinho” e “Infinita”), Dirceu Leite (flautas, saxofone tenor e saxofone barítono), Hugo Pilger (violoncelo em “Imaginada” e “Um rio”), Jorge Hélder (baixo acústico e elétrico), Kiko Horta (acordeom em “Chula chula”), Luciana Rabello (cavaquinho em “Chuva”, “Samba pra Martinho” e na faixa-título), Marcus Thadeu (bateria e percussão), Mauricio Carrilho (violão em “Chuva”, “Samba pra Martinho” e na faixa-título) e Ricardo Silveira (guitarra em “Imaginada”), além do Quarteto Maogani – Carlos Chaves (violão requinto), Diogo Sili (violão), Lucas Gralato (violão) e Paulo Aragão (violão de oito cordas e arranjo) – em “Shakespereana”.
“Não navego pra chegar/ meu porto é onde estou”, diz a letra da faixa-título, como se o porto do artista fosse um barco (ou o próprio mar), talento navegando em melodias que sempre emocionaram os brasileiros, colocando-o entre os mais importantes nomes da música brasileira, o que reafirma este novo álbum.
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Ouça Não navego pra chegar: