Moraes Moreira no Rock in Rio de 1985. Foto: Facebook Moraes Moreira. Reprodução
Moraes Moreira no Rock in Rio de 1985. Foto: Facebook Moraes Moreira. Reprodução

As abelhas (Luis Enriquez Bacalov/ Vinicius de Moraes), de algum modo, me reconectou a Moraes Moreira (8/7/1947-13/4/2020), seu intérprete no álbum “infantil” “A arca de Noé”, com vários intérpretes e a obra para crianças de Vinicius de Moraes.

José Antonio havia nascido e eu, com ele no colo, apresentava-lhe os mais variados videoclipes na intenção de fugir da Galinha Pintadinha, de que ele escapou ileso. Como com muitos outros, ele foi com a cara das abelhas cantadas por Moraes Moreira.

O baiano de Ituaçu é daqueles artistas cuja lembrança mais antiga remonta a tempos imemoriais. Poucos saberão dizer com precisão a primeira vez ou a primeira música de Moraes Moreira que ouviram por que ele sempre esteve ali. Como afirmou o escritor baiano Franciel Cruz, no twitter: “Moraes Moreira não inventou o carnaval. Ele é o carnaval”.

Recentemente li para Guta o conto-título do livro mais recente de Sérgio Rodrigues, “A visita de João Gilberto aos Novos Baianos” (Companhia das Letras, 2019), em que o escritor reconta com as tintas da ficção o encontro que mudaria os rumos da música popular brasileira. O resto é história: com os Novos Baianos Moraes Moreira gravou a obra-prima “Acabou chorare”, não raro apontado por especialistas e leigos como o maior disco da história da música popular brasileira.

Reza a lenda que o pseudolatim (ou latim infantil) do nome do disco veio quando uma criança, à época em que eles moravam em comunidade em um sítio, caiu e se machucou e começou a chorar até ver justamente uma abelha, e dizer “acabou chorare” e parar de chorar.

Sozinho ou em parceria com nomes como Luiz Galvão, Fausto Nilo e Paulo Leminski, Moraes Moreira impregnou nossa memória afetiva e o inconsciente coletivo com clássicos como Pombo correio (com Dodô e Osmar), Dê um rolê (com Galvão), Festa do interior (com Abel Silva), Preta pretinha (com Galvão), Mistério do planeta (com Galvão), Eu também quero beijar (com Fausto Nilo e Pepeu Gomes), Chuva no brejo (regravada por Marisa Monte), Palavras ao vento (parceria com Marisa Monte gravada por Cássia Eller), Bloco do prazer (com Fausto Nilo), Meninas do Brasil (com Fausto Nilo) e Sintonia (com Fred Góes e Zeca Barreto), entre inúmeros outros. Em Pernambuco é Brasil, muito bem humorado, tirava sarro de si mesmo e da semelhança, mais que física, capilar, com Alceu Valença.

Moraes Moreira faleceu nesta madrugada, vítima de infarto agudo do miocárdio, de acordo com sua assessoria. Não chegou aos “80 carnavais” que cantava na letra de Bloco do prazer – o artista tinha 72.

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1 COMENTÁRIO

  1. Foi-se um artista criativo e relacionado, em certo aspecto, com a organicidade cultural popular. Infelizmente, Moraes foi-se. Foi-se, mas ficaram as insanidades ” sessentistas” do Funk e outras patacoadas.

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