Pedro Miranda, senhor de sua arte

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O cantor e compositor Pedro Miranda - foto: Pepe Schettino/ divulgação
O cantor e compositor Pedro Miranda - foto: Pepe Schettino/ divulgação

Empunhando seu violão e caminhando ao pé de uma sumaúma, Pedro Miranda parece pequeno na capa de seu novo álbum, Atlântica Senhora (Biscoito Fino, 2024). Na aparente contradição, reside também a grandeza do artista: a primeira reflexão possível, antes mesmo de ouvirmos o trabalho, é como ele se coloca diante do mundo e da natureza.

Atlântica Senhora começou a ser gestado durante a pandemia de covid-19 e seu consequente isolamento social: algumas músicas foram compostas em trocas de mensagens do artista e seus parceiros por chats e aplicativos. O repertório foi sendo posto à prova nas apresentações de voz e violão que o cantor, compositor e percussionista realizou por sucessivos domingos, no Parque da Cidade, na Gávea (RJ), tão logo permitido pela crise sanitária.

A espontaneidade de tais encontros gerou e aprofundou trocas e amizades. Foi num destes domingos, por exemplo, que Pedro Miranda conheceu Cátia do Acarajé, cantora e compositora convidada do álbum, aberto e encerrado por um tema seu, “Filha de Caboclo”, cantado em dueto com o anfitrião – ela canta sozinha a vinheta de abertura, ao mesmo tempo um convite e um pedido de bênção e licença aos orixás.

Ao longo de 14 faixas – metade delas já lançadas como singles –, Pedro Miranda costura, em seu quinto álbum, um repertório que apresenta um artista maduro e versátil, entre compositor (em parcerias com Chacal, Cristóvão Bastos, Domenico Lancellotti, Marcos Sacramento, Zé Paulo Becker e Zé Renato) e intérprete – também cantando em espanhol – “Candombe Bailador” (Daniel Maza/ María Volonté) e “Oración del Remanso” (Jorge Fandermole) –, temas autorais e releituras – “Futuros Amantes” (Chico Buarque), “Flor do Cerrado” (Caetano Veloso), “Nada de Novo” (Paulinho da Viola) –, com produção de Luís Filipe de Lima (violão) e mixagem de Moreno Veloso (prato e faca em “Deixa Lavar”).

Ao longo do repertório, Pedro Miranda, percussionista “convertido” violonista, é escoltado por um time de luminares em seus respectivos instrumentos: Jorge Helder (baixo), Marcos Suzano (percussão), Jorge Continentino (flautas e pífano), Alberto Continentino (baixo), Pedro Sá (guitarra) e Kassin (baixo), além dos parceiros Cristóvão Bastos (piano), Zé Paulo Becker (violão), Domenico Lancellotti (bateria) e Zé Renato (voz), que fizeram participações especiais nas faixas em que são parceiros.

Merecem destaques ainda as presenças do quarteto de cordas norueguês Oslo Strings – formado por Ragnhild Lien (violino), Lise Sørensen Voldsdal (violino), Kaja Fjellberg Pettersen (violoncelo) e Gabriel Vailant (viola), outro encontro dos domingos no parque – e os coletivos Candombaile e Forró da Gávea, este integrado pelo próprio Pedro Miranda com Durval Pereira (percussão), Rodrigo Ramalho (sanfona), Rafael dos Anjos (violão) e Pedro Aune (baixo).

Sumaúmas não nascem do dia para a noite, embora possam ser derrubadas da noite para o dia (e o desmatamento era a infeliz ordem do dia ao longo do período de gestação de Atlântica Senhora). Tecido com paciência, o novo álbum de Pedro Miranda é sobre esperança e alegria. Desde os tempos em que integrou o Grupo Semente e ajudou a recolocar o samba, o choro e a Lapa carioca no mapa das atenções, passando por esmerados discos solo e projetos coletivos (como o Desengaiola, com Alfredo Del-Penho, João Cavalcanti e Moyseis Marques), devagar e sempre, ele vem construindo uma trajetória das mais interessantes quando o assunto é o vasto universo da música popular brasileira.

"Atlântica Senhora" - capa/ reprodução
“Atlântica Senhora” – capa/ reprodução

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Ouça Atlântica Senhora:

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