Não há nada fora de lugar em “Quando A Noite Vem” (Biscoito Fino, 2023), novo álbum do capixaba Zé Renato, que chegou ontem às plataformas de streaming – em abril sai em cd.
O álbum vem no rastro do Grammy recebido pelo Boca Livre mês passado, pelo álbum “Pasieros – Rubén Blade Con Boca Livre” (2022), dividido pelo grupo com o cantor e compositor panamenho.
“Quando a noite vem”, lançado 40 anos depois da estreia solo de Zé Renato (“Fonte da Vida”, 1982), sucede álbuns dedicados aos repertórios de Orlando Silva (1915-1978) (“Orlando Mavioso”, 2021) e Paulinho da Viola (“O Amor É Um Segredo”, 2019), reafirmando a grandeza do intérprete.
A direção artística do disco ficou a cargo da atriz e diretora Patrícia Pillar e a escolha do repertório se deu a quatro mãos, por ela e Zé Renato, que canta em quatro idiomas, mostrando talento, competência, versatilidade e delicadeza.
Em nove faixas, mais ou menos conhecidas do público brasileiro, Zé Renato passeia por standards, temas originais e versões, com equilíbrio. O disco abre com “I Can’t Stop Loving You” (Don Gibson), sucesso do repertório de Ray Charles (1930-2004). Lançado em janeiro passado, o primeiro single a anunciar o novo álbum, de “Suave é a Noite”, versão de Nazareno de Brito para “Tender is the Night” (Sammy Fain/ Paul Francis Webster), ele toma emprestado o verso-título do disco.
Caetano Veloso é o único compositor a comparecer em dose dupla ao repertório: em “Encantado”, sua versão para “Nature Boy” (Eden Ahbez), que o baiano já gravara mais de uma vez, em inglês, e “Nenhuma dor”, parceria com Torquato Neto que fecha o álbum.
Outra estrangeira conhecida do público brasileiro é “Esta Tarde Vi Llover” (Armando Manzanero), por aqui já gravada por Roberto Carlos, Leny Andrade, Ivan Lins e Joyce Moreno. Também está no repertório a improvável parceria de Adoniran Barbosa (1910-1982) e Vinícius de Moraes (1913-1980) (“Bom Dia, Tristeza”).
O álbum se completa com “Canção de Quem Está Só” (Evaldo Gouveia/ Jair Amorim), “Seu Olhar Não Mente” (Nanado Alves/ Ilmar Cavalcanti) – cantada com as participações especiais da cantora Céu, do percussionista Mauro Refosco (Forró In The Dark) e do acordeonista Nonato Lima – e “Arrivederci, Roma” (Allessandro Giovannini/ Pietro Garinei/ Renato Ranucci), tema do filme homônimo (no Brasil, “As Sete Colinas de Roma”), de Roy Rowland e Mario Russo, lançado na Itália em 1957, um ano antes de João Gilberto (1931-2019) inventar a bossa nova, com a batida revolucionária de seu violão, em quem o arranjo foi “totalmente inspirado”, confessa Zé Renato.
Emoldurando a bela voz e a acertada escolha de repertório, Zé Renato (voz e violão) está acompanhado por Cristóvão Bastos (pianos e arranjo), Dori Caymmi (violão e arranjo), Jaques Morelenbaum (violoncelo e arranjo), Aquiles Moraes (trompete e flugelhorn), Bernardo Couto (guitarra portuguesa), Carlos Malta (flauta), Dirceu Leite (flauta), Jorge Helder (baixo), Marcelo Costa (bateria), Pedro Sá (guitarra), Ricardo Pontes (sax alto), Rui Alvim (clarinete) e Vanessa Rodrigues (órgão Hammond), além da St Petersburg Studio Orchestra, com direção de Kleber Augusto.
Junto do álbum, Zé Renato lançou também o videoclipe da faixa de abertura, com direção de Adriana Penna e TocaVídeos e direção geral de Patrícia Pillar. Em preto e branco, o registro se equilibra entre sessões de estúdio e passeios do cantor, com sua habitual elegância, por conhecidas paisagens cariocas.
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Assista “I Can’t Stop Loving You”:
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Ouça “Quando A Noite Vem”: