Cantor e compositor acaba de lançar “Litoral”, com cinco faixas autorais e cinco releituras de clássicos da MPB
O cantor e compositor Fi Bueno disponibilizou no último dia 3 de junho nas plataformas de streaming “Litoral” (2022), que tem direção musical de Guto Graça Melo. Embora tenha sido gravado antes, o álbum é sucessor de “Identidades” (2021), dividido com a cantora e compositora Anastácia, trabalho também dirigido por Guto Graça Melo.
“Eu fiz esse disco em 2016, ele ia ser lançado nas Olimpíadas aqui no Brasil. Aí a gente acabou segurando para lançar depois. O Guto falou “Fi, esse disco é atemporal, vamos esperar o momento mais adequado para lançar este trabalho. Está muito especial e eu quero lançar na hora que eu achar que é mais conveniente para sua carreira, inclusive”. E na sequência eu conheci a Anastácia e comecei a trabalhar com ela. O Guto sempre gostou muito da Anastácia, fez várias coisas da Anastácia com Gil, com Maria Bethânia, com Caetano. Então, quando eu comecei a compor o trabalho com ela, ele se animou muito e falou “Fi, vamos primeiro lançar esse trabalho com a Anastácia, porque é uma oportunidade que você teve de encontrá-la, de vocês se tornarem amigos, de estarem fazendo um trabalho tão rico, em termos de composição. Eu acho que primeiro a gente tem que mostrar isso pro grande público. Pra mim tem uma inversão aí, porque primeiro eu fiz o “Litoral”, depois eu fiz o “Identidades”, com Anastácia, mas acabei lançando primeiro o disco com a Anastácia e agora que eu estou soltando o “Litoral”, comentou Fi Bueno em entrevista a Gisa Franco e este repórter, no Balaio Cultural (Rádio Timbira AM) do último dia 4 de junho (assista abaixo).
“A gente construiu esse álbum com muita calma. Eu e Guto nos conhecemos de 2014 para 2015, através do meu primeiro trabalho com Ruriá [Duprat, maestro, que produziu “Acredite na vida”, segundo disco de Fi Bueno], ele gostou e a gente passou a se encontrar. A gente começou a bolar esse repertório juntos. Ele me pediu muito que eu fizesse canções conhecidas, releituras da MPB. Porque até então eu fazia muita coisa minha, só, gravava muita coisa autoral. Ao longo de um ano e meio a gente foi escolhendo essas músicas. O interessante foi que as músicas que eu fui escolhendo eram músicas que ele havia produzido no passado, isso foi muito legal”, comentou o artista sobre a gênese do álbum, na mesma ocasião.
“Litoral” é um disco meio a meio: das 10 faixas do repertório, metade é autoral e a outra metade é formada por releituras de clássicos da música popular brasileira. Não há, no entanto, desnível na qualidade das novidades em meio a pérolas originalmente interpretadas por João Gilberto (“É preciso perdoar”, de Carlos Coqueijo e Alcyvando Luz), Geraldo Azevedo (“Dona da minha cabeça”, parceria com Fausto Nilo), Djavan (“Alegre menina”, de Dori Caymmi e Jorge Amado), Milton Nascimento (“Quem sabe isso quer dizer amor”, dos irmãos Lô e Márcio Borges) e Tom Jobim (“Passarim”, do próprio).
“Tem algumas músicas desse disco, vou dar o exemplo, “Passarim”, “Alegre menina”, “É preciso perdoar”, essas três músicas, quem fez originalmente foi o Guto Graça Melo. “Alegre menina” e “Passarim” foram músicas que o próprio Guto encomendou, quando ele era diretor musical da Rede Globo, para usar em minisséries, “Alegre menina” em “Gabriela” e “Passarim” para a minissérie “O tempo e o vento”. Então, realmente a gente conseguiu trazer uma integralidade, uma originalidade dos arranjos primeiros dessas músicas, a gente regravou mantendo os arranjos de harmonia, de cordas, de melodia, de levadas, até de divisão de melodia no canto, algumas coisas que o Guto me passou que ele descobriu junto com João Gilberto, na música “É preciso perdoar”. A gente traz um resgate dessa MPB dos anos 1970 e 80, para esse momento musical, que tem muita gente boa. A gente ouve muita música de baixa qualidade mercadológica, sem qualidade nenhuma. Esse disco realmente é uma ode à qualidade musical da MPB. As minhas músicas vieram junto com esse processo todo do Guto, de qualidade, de arranjo, nesse sentido, que a gente conseguiu. A gente gravou esse disco de uma vez durante alguns dias. Nesse sentido a gente conseguiu fazer essa síntese e manter um padrão”, afirmou.
Em “Litoral”, Fi Bueno (voz, violão e ukelele) é acompanhado por Marcelo Maita (teclado rhodes e sintetizadores), Robinho Tavares (baixo e bateria), Guto Graça Mello (metais, cordas e efeitos midi), além das participações, em “A mais bonita” (Fi Bueno), de Tadeu Santiago (sanfona) e Mariana Féo (vocais).
A gravação de “Litoral” marcou o encerramento das atividades do mítico estúdio de Guto Graça Melo (pouco depois o produtor se desfez dele), que era considerado o “estúdio b” da Som Livre, quando o produtor era vice-presidente da gravadora, braço musical da Rede Globo (que lançava as trilhas sonoras de produções da emissora), de que ele também acumulava a função de diretor musical. Fi Bueno se refere ao estúdio como “uma espécie de igreja da música popular brasileira, uma egrégora”, lembrando que, entre muitos outros, o clássico “Brasil” (1981), foi gravado lá, reunindo ninguém menos que João Gilberto (1931-2019), Maria Bethânia, Caetano Veloso e Gilberto Gil.
Uma das sínteses possíveis para o álbum, está em versos de sua faixa-título: “na busca de si mesmo/ no caminho do coração/ ao som de um violão”. “Litoral” revela a relação (espiritual) de Fi Bueno com “a mãe natureza” – “é teu chão”, diz a letra – e sua natureza é cantar e compor; outra é “a beleza de amar é se dar”, verso de “É preciso perdoar”: entre a metade autoral e a metade “alheia”, a entrega de Fi Bueno é completa.
Serviço: Fi Bueno e a Orquestra Jazz Sinfônica de São Paulo, regida pelo maestro Ruriá Duprat, apresentam show em homenagem a Gilberto Gil (que completa 80 anos no próximo dia 26 de junho), dias 9, no Festival de Cunha/SP, e 16 de julho, no Festival de Campos do Jordão/SP.
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Ouça “Litoral”: