O jornalista e escritor Marcio Gaspar - foto: divulgação
O jornalista e escritor Marcio Gaspar - foto: divulgação

Originalmente publicado em ebook em 2020, livro de Marcio Gaspar ganha edição impressa, dissecando a influência definitiva do criador da bossa nova sobre os Novos Baianos

É quase unanimidade que Acabou Chorare, o segundo disco dos Novos Baianos, lançado em 1972, é uma das obras-primas da música popular brasileira em todos os tempos. Da estreia roqueira com É Ferro na Boneca! (1970), o supergrupo brasilificou seu som, a partir da influência direta de João Gilberto (1931-2019), que lhes apresentou sambas antológicos, inclusive “Brasil Pandeiro”, de Assis Valente (1911-1958), faixa de abertura do antológico álbum.

A própria faixa-título de Acabou Chorare nasce de um episódio vivido por Bebel Gilberto, filha de João, então criança, após um acidente doméstico. É do mote dado por uma espécie de latim infantil e inventado que Moraes Moreira (1947-2020) e Luiz Galvão (1937-2022) desenvolvem a mais bossanovista das faixas do repertório.

Tanto o álbum quanto essa influência já foram dissecadas em diversos livros e trabalhos acadêmicos, inclusive na ótima ficção A Visita de João Gilberto aos Novos Baianos (Companhia das Letras, 2019), de Sérgio Rodrigues.

O jornalista, escritor e produtor cultural Marcio Gaspar vai além do que o título promete em Acabou Chorare – O rock’n’roll Encontra a Batida de João Gilberto (Edições Sesc, 2023, 106 pág.), título originalmente lançado em e-book em 2020, que ganhou edição impressa recentemente, segundo volume da Coleção Discos da Música Brasileira – História e Bastidores de Álbuns Antológicos, organizada pelo crítico musical Lauro Lisboa Garcia.

Marcio Gaspar se debruça sobre Acabou Chorare, álbum que ele mesmo descobriu aos 15 anos – a idade que tinha quando o disco foi lançado – e que mudou sua relação com a música brasileira, com o que ele próprio foi trabalhar depois, entre redações, bastidores de produções e como divulgador de companhias de discos. Essa atividade inclusive o aproximou da grande família novabaiana, o que lhe garantiu acesso privilegiado a depoimentos de artistas do grupo e pessoas do entorno.

Acabou Chorare era um disco, a princípio, estranho, tanto que a crítica à época não entendeu e consequentemente não deu atenção. Lançado no mesmo ano de obras-primas do quilate de Transa, de Caetano Veloso, Expresso 2222, de Gilberto Gil, e Clube da Esquina, de Milton Nascimento e Lô Borges.

Talvez, ali, ninguém pudesse imaginar que o disco da trupe de Moraes Moreira, Luiz Galvão, Pepeu Gomes, Paulinho Boca de Cantor e Baby Consuelo (hoje Baby do Brasil), mais o grupo A Cor do Som – batizado por uma parceria dos dois primeiros, nunca gravada pelo grupo –, acabaria se consolidando no imaginário popular brasileiro como um dos grandes discos já lançados por aqui e, mais do que isso, quase como um sinônimo de Brasil.

Marcio Gaspar vai além do encontro do subtítulo de seu livro, atestando a influência definitiva dos Novos Baianos e particularmente de Acabou Chorare – ele chega mesmo a falar em antes e depois do álbum – sobre tudo o que veio depois.

Num tempo em que as plataformas sonegam informações sobre fichas técnicas de álbuns, o mergulho de Marcio Gaspar por detalhes e bastidores da feitura de Acabou Chorare é leitura indispensável a aficionados por música brasileira e curiosos em geral.

"Acabou Chorare - O rock'n'roll encontra a batida de João Gilberto". Capa. Reprodução
“Acabou Chorare – O rock’n’roll encontra a batida de João Gilberto”. Capa. Reprodução
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