Brevidades. Capa. Reprodução
Brevidades. Capa. Reprodução

Publicitário consagrado, Paulo Camossa Júnior percorre o caminho contrário do chiste de Zeca Baleiro no encarte de “Pet Shop Mundo Cão” (2002): “o riso de malandro/ não disfarça o otário/ outrora poeta/ hoje publicitário”.

Seu livro de estreia, “Brevidades” (Paraquedas, 2022, 132 p.), apresenta 80 microcontos. Se “conto é tudo o que chamamos conto”, como nos ensinou Mário de Andrade (1983-1945), os textos curtos de Camossa também poderiam ser poemas.

O contista (ou poeta?) é aquele que dribla no último centímetro de campo, sem deixar a bola sair e entortando o adversário, desconcertante como em “Despedida”: “Soubesse que era o último abraço, teria sido o penúltimo”. Por falar em futebol, “Sorte no amor”, microconto que abre o livro, diz: “Olhou para ela antes de bater o pênalti”.

Mas seus leitores jogam do mesmo lado: “encantados pela forma, caímos na armadilha e somos induzidos a imaginar o antes e o depois, a conceber detalhes do ambiente, a intuir pensamentos e emoções dos personagens, o que nos põe em histórias sem fim”, como adverte o jornalista Otávio Rodrigues no texto de apresentação do livro.

Outro aspecto que chama a atenção são as ilustrações de Luyse Costa, em diálogo com os textos de Camossa, mas sem nunca entregar completamente o ouro. O trecho selecionado da apresentação bem poderia também se referir às ilustrações.

Ao longo do livro é possível perceber, aqui e acolá, ecos da agilidade de um Paulo Leminski (1944-1989), outro que também atuou na publicidade, de poemas-piadas praticados por Oswald de Andrade (1890-1954), entre outros, além da capacidade fotográfica de poetas como Manoel de Barros (1916-2014) e Marcelo Montenegro.

“Brevidades” é um livro de muitas camadas, com variadas possibilidades de leituras e desdobramentos. É difícil escrever sobre ele sem cair na tentação barata de querer copiar um punhado de microcontos, se não todos.

Entre a ficção e a realidade, os acertos da capacidade de síntese de Paulo Camossa Júnior.

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