O cantor e compositor Erasmo Dibell. Retrato: Socorro Marques. Divulgação
O cantor e compositor Erasmo Dibell. Retrato: Socorro Marques. Divulgação

A primeira vez que eu liguei para uma emissora de rádio e participei de uma promoção foi há exatos 30 anos e, com a sorte que nunca tive na mega-sena, ganhei o vinil “Sarará”, estreia do cantor e compositor Erasmo Dibell, maranhense de Carolina, cuja “Filhos da precisão”, uma das faixas do álbum, havia agradado a Papete (1947-2016), que além de gravá-la, produziu aquele disco de estreia, tomando parte no registro também como instrumentista.

Perdoem os leitores por iniciar o texto com um relato tão pessoal, com o adendo de que um tio meu levou-me a pé até a emissora, atravessando a Ponte do São Francisco, para receber o prêmio. Aquele álbum era o abre-alas para Dibell, artista que, apesar de autor de verdadeiras obras-primas, manteve trajetória mais ou menos discreta, sendo bastante conhecido no Maranhão e menos do que merece fora dele, tendo sido gravado, além de Papete, por nomes como Betto Pereira (de quem é parceiro, com Josias Sobrinho, em “Mina negra”), Carlinhos Veloz (que muitos creem ser o autor de “Viagem de novembro”, que resgatou literalmente do lixo), Chiquinho França (sua versão instrumental de “Filhos da precisão” foi prefixo de programa de rádio inteiramente dedicado à música maranhense na mesma emissora do parágrafo inicial deste texto) e Rita Benneditto (a mesma “Filhos da precisão”, frequentemente ouvida na programação da Rádio Senado).

"Sarará - vol. 2". Capa. Reprodução
“Sarará – vol. 2”. Capa. Reprodução

30 anos depois da estreia, desta vez pelas mãos do produtor Zeca Baleiro (com Dibell), por seu selo Saravá Discos, Erasmo Dibell disponibilizou hoje (27), nas plataformas de streaming, o segundo volume de “Sarará”, que repete o título do disco de estreia, mas amplia aquele repertório inicial, incluindo novos parceiros e convidados. As capas dos dois volumes foram desenhadas pelo mago Elifas Andreato (1946-2022), um dos maiores nomes do ofício na história da música popular brasileira.

Sobre o volume 1, Dibell conversou com Gisa Franco e este resenhista na última véspera de Natal, no Balaio Cultural, na Rádio Timbira AM. Nele estão registradas as participações da moçambicana Lenna Bahule, de Zeca Baleiro (em “São Nunca”, parceria de ambos) e de Papete (que havia gravado “Navegante”, sobre a qual Dibell sobrepôs sua voz, numa homenagem póstuma ao que primeiro apostou e atestou o talento do artista).

O “volume 2” registra a gravação (até que enfim!) do autor para “Viagem de novembro”, a releitura de “Beijo na boca”, em inspirado e delicado dueto com Rita Benneditto, e “Reclame”, em dueto com Raimundo Fagner, artista decisivo para que um então adolescente chamado Erasmo resolvesse encarar as dores e as delícias do que significa ser artista. Entre outras, estão lá também regravações de “Vidente” e “Refresco de memória”, ambas do repertório daquele primeiro “Sarará” – ao volume 1 já compareciam, além da faixa-título, “Primícias” e “Filhos da precisão”.

Entre os instrumentistas do “volume 2” estão Adriano Magoo (percussão, contrabaixo, teclados, acordeom), Celso França (percussão), Darklywson Rômulo (percussão), Marcelo Rebelo (teclados), Mauro Sérgio (contrabaixo), Moisés Mota (bateria) e Zé Américo Bastos (teclados). Erasmo Dibell canta e toca violão em todas as faixas. Como nos velhos tempos.

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Ouça “Sarará – vol. 2”:

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