“Ubuntu”: a entrega e a partilha de Leila Maria

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A cantora carioca Leila Maria. Foto: Catarina Ribeiro. Divulgação
A cantora carioca Leila Maria. Foto: Catarina Ribeiro. Divulgação

A cantora carioca Leila Maria tornou-se conhecida de mais brasileiros após sua participação no global The Voice+, em 2001. Antes, outro feito seu que chamou a atenção foi vencer o Prêmio da Música Brasileira, na categoria melhor álbum em língua estrangeira com seu disco de releituras da cantora norte-americana Billie Holiday (“Leila Maria canta Billie”, de 2012).

Cantora experimentada, ela acaba de lançar seu sexto disco, “Ubuntu” – sucessor do autoral “Tempo” (2018) –, que chegou às plataformas digitais no última sexta-feira, 29 de abril, inteiramente dedicado ao repertório de Djavan. A palavra-título tem origem zulu e agrega conceitos como solidariedade, cooperação, respeito, acolhimento e generosidade, entre outras.

O álbum é uma exaltação à negritude e as escolhas de Leila Maria levam o ouvinte a um reencontro com as raízes ancestrais do compositor e da intérprete. A música de Djavan, de que Leila se apropria com propriedade e desenvoltura, atravessa um “Oceano” (uma das faixas do trabalho) não de distância, mas de proximidade entre o Brasil herdeiro e a mãe África.

Hitmaker precioso, Djavan é dono de uma obra rara e sofisticada, de riqueza musical e poética indiscutíveis, reinterpretadas por Leila Maria em arranjos que transitam por gêneros como o zouk e a rumba, com pitadas de jazz, com especial destaque para a força percussiva das regravações. “Meu bem querer” foi a primeira faixa a ganhar videoclipe.

O samba também esta presente, mas nada é óbvio neste belo disco de Leila Maria. “Aquele um”, “Fato consumado” e “Flor de lis” estão no repertório, com um molho todo especial. O disco tem produção do experiente Guilherme Kastrup, um dos nomes do projeto “Língua Terra: reinventando mundos”, que reúne músicos de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e Portugal.

O conceito do título traduz-se também no extenso rol de participações, entre brasileiros, africanos e afrodescendentes: o guitarrista, violonista, cantor e compositor congolês Zola Star, o violonista, cantor, compositor e baixista descendente de congoleses François Muleka, a cantora moçambicana Selma Uamusse, os multi-instrumentistas moçambicanos Milton Guli e Otis Selimane, o maestro malinês Ahmed Fofana, bem como Assaba Drame, que toca ngoni, um instrumento típico da região norte da África.

Também participa o grupo Vocal Kuimba, formado em São Paulo por jovens estudantes angolanos. A descendência da diáspora no Brasil também tem seus representantes: as percussionistas Beth Beli e Jackie Cunha (do grupo Ilu Obá de Min), a cantora e pianista Maíra Freitas, o violoncelista Jonas Moncaio, a baixista Ana Karina e o naipe de sopros formado pelo casal Richard Fermino e Sintia Piccin. Em “Seca” ouvimos ninguém menos que Maria Bethânia recitando trechos da letra da faixa que fecha o álbum.

A sugestão de um disco com o repertório de Djavan foi dada a Leila por Ana Basbaum, produtora da Biscoito Fino. Ela também sugeriu o nome de Kastrup para produzi-lo. “Foi um presente, uma experiência extremamente enriquecedora. Um desafio desde o primeiro contato com o querido Zola Star, que com sua irreverência e alegria contagiantes ajudou a aprofundar meu conhecimento sobre a música africana. Tão perto e, ao mesmo tempo, um pouco distante dos caminhos que eu vinha percorrendo musicalmente, priorizando o jazz e a MPB”, conta a cantora.

“Esperamos que esse projeto contribua para o entendimento da importância fundamental da cultura africana na nossa formação. E que nossa sociedade aprenda a respeitar e valorizar os corpos negros em toda a sua beleza e sabedoria”, sintetiza o produtor, num tempo em que infelizmente recrudescem o racismo, a intolerância e toda sorte de preconceitos e violências, sobretudo contra esta parcela da população.

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Ouça “Ubuntu”:

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