"Belezas São Coisas Acesas Por Dentro". Capa. Reprodução

As cantoras Gal Costa (1945-2022) e Filipe Catto nasceram no mesmo dia: 26 de setembro. A baiana em 1945; a gaúcha em 1987. Mas as coincidências entre ambas não param na data de hoje, escolhida pela segunda para o lançamento, nas plataformas digitais, de “Belezas São Coisas Acesas Por Dentro”, álbum que presta homenagem àquela que não raro é considerada a melhor cantora do Brasil, com título emprestado de verso de “Lágrimas Negras” (Jorge Mautner/ Nelson Jacobina [1953-2012]), que abre o inspirado tributo.

Filipe Catto costura um roteiro bastante interessante: apesar de enxuto, com apenas 10 faixas, passeia por fases distintas da carreira de Gal, abordando nomes como Caetano Veloso, o compositor mais gravado por ela ao longo da carreira, até os pernambucanos Bactéria, Lirinha e Junio Barreto, autores de “Jabitacá”, uma das mais recentes do repertório, gravada pela homenageada em “Estratosférica” (Sony Music, 2015).

A ideia do álbum surgiu após um show em homenagem a Gal Costa, apresentado por Filipe Catto em maio passado. Com a emoção dos envolvidos, a receptividade do público e a aposta e incentivo do DJ Zé Pedro, “Belezas São Coisas Acesas Por Dentro” sai por seu selo Joia Moderna.

Filipe Catto chegou a fazer vocais (com Céu e Maria Gadú) para Gal Costa: na gravação de “Cuidando de Longe” (Marília Mendonça/ Juliano Tchula/ Júnior Gomes/ Vinícius Poeta), do álbum “A Pele do Futuro” (Biscoito Fino, 2018), último disco de estúdio da baiana, que cantou a faixa em dueto com a sertaneja, falecida em 2021, aos 26 anos, em um desastre aéreo.

Para a homenagem, Filipe Catto se cercou de sua banda, um power trio formado por Michelle Abu (bateria), Fábio Pinczowski (guitarra e direção musical) e Gabriel Mayall (baixo), garantindo uma sonoridade mais próxima da fase tropicalista de Gal, quando usar guitarras elétricas distorcidas ainda era quase um sacrilégio por aqui.

A elaboração do roteiro guarda sutilezas interessantes, como o medley formado por “Joia” (Caetano Veloso) e “Oração da Mãe Menininha” (Dorival Caymmi [1914-2008]) ser seguido por “Esotérico” (Gilberto Gil). Outro trunfo é Filipe Catto não querer imitar Gal Costa. Uma das maiores cantoras do Brasil em atividade, homenageando uma das maiores em todos os tempos, ela imprime uma marca toda particular, prestando uma reverência oportuna, nunca oportunista. Aposto que Gal Costa aprovaria.

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Ouça “Belezas São Coisas Acesas Por Dentro”:

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