"O Arquiteto de Sonhos". Frame. Reprodução

Quando o juiz-forano Luiz Phelipe Andrès (1949-2021) se mudou para São Luís, no final da década de 1970, apaixonou-se imediatamente pelo conjunto arquitetônico do centro histórico ludovicense. “São Luís é uma Ouro Preto gigantesca à beira-mar”, teria dito o mineiro recém-chegado.

Praia Grande, Desterro e Portinho, os três bairros que integram o citado cenário, não tinham o ar charmoso, em certa medida, que hoje têm. Engenheiro de formação, Andrès, a partir de então, dedicou a própria vida à capital maranhense e a seu patrimônio histórico e arquitetônico, enquanto cidadão, professor e gestor público.

Chegou a ser secretário de Estado da Cultura do Maranhão e é imortal da Academia Maranhense de Letras (AML) e ao longo de governos de diversas colorações ideológicas e partidárias integrou equipes e coordenou projetos, dos quais os mais importantes são o Estaleiro Escola, no Sítio Tamancão, na Área Itaqui-Bacanga, e o projeto Reviver, na Praia Grande.

O Estaleiro Escola é fruto de uma outra paixão de Andrès: as embarcações que circulam pelo litoral maranhense e sua feitura artesanal; nele, sistematizou o conhecimento popular e autodidata de mestres do ofício.

O projeto Reviver é tão presente na realidade, cotidiano e imaginário do maranhense que muita gente sequer sabe o nome do bairro em que foi executado, na década de 1980: é bastante comum ouvirmos falar em Reviver em vez de Praia Grande.

Em se tratando de Luiz Phelipe Andrès é difícil não personalizar, mas ouso afirmar: não fosse ele não teríamos o centro histórico ludovicense como o conhecemos e tampouco a Unesco teria concedido à capital maranhense o título de Patrimônio Cultural da Humanidade, honraria alcançada em 1997.

A trajetória e o legado de Andrès são visitados no belo “O Arquiteto de Sonhos”, do cineasta Francisco Colombo (direção, roteiro e produção), que estreia hoje (15), às 15h50, no Teatro João do Vale (Rua da Estrela, Praia Grande), dentro da programação do 46º. Festival Guarnicê de Cinema.

O título, que o cineasta toma emprestado da homenagem que a Escola de Samba Túnel do Sacavém prestou ao engenheiro na passarela do samba no último carnaval, traduz à perfeição o que Andrès representa para São Luís: alguém que enxergou adiante, quando, bem mais que hoje, ruínas e decadência dominavam a paisagem de grande parte do casario, tomando para si a missão de arquitetar a revolução paisagística que colocou o citado cenário no mapa turístico nacional e internacional.

Apesar de sua importância e grandeza, era um homem simples e discreto, como podemos comprovar ao longo dos 82 minutos do documentário, na costura dos depoimentos de colegas de trabalho, artistas, populares e devotos de suas mesmas paixões.

Em “O Arquiteto de Sonhos” merecem destaque ainda a fotografia de Paulo Malheiros – a realçar a beleza do legado de Andrès – e a trilha sonora do russo-ludovicense Evgeny Itskovich – a emoldurá-la –, que somam suas paixões por São Luís às do diretor e do personagem central da cinebiografia. A composição e gravação da música original do filme remetem ao método do trompetista Miles Davis (1926-1991) ao realizar a trilha do clássico “Ascensor Para o Cadafalso” (1958), de Louis Malle (1932-1995).

Serviço: “O Arquiteto de Sonhos” (documentário, Brasil, 2023, 82 minutos), de Francisco Colombo. Estreia hoje (15), às 15h50, no Teatro João do Vale (Rua da Estrela, Praia Grande), na programação do 46º. Festival Guarnicê de Cinema. Veja o trailer no site do festival.

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