Raul de Souza ganha homenagem hoje no Manouche

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O trombonista Raul de Souza - foto: divulgação
O trombonista Raul de Souza - foto: divulgação

Genial e revolucionário, o trombonista Raul de Souza (1934-2021) ganha hoje (21) homenagem reunindo um time de instrumentistas de primeira linha. Dirigido por seu baixista nos últimos 15 anos de carreira, Glauco Sölter, o grupo se completa com Marcos Nimrichter (teclados), Eduardo Neves (saxofone tenor), Leonardo Ramiro (trombone) e José Arimatéa (trompete), além do maranhense Fofo Black (bateria), e Luana Mallet, Tania Tai e Ella Fernandes (backing vocals).

“O legado do Raul é um legado imenso, porque ele tem uma maneira, um fraseado brasileiro de tocar o trombone, uma maneira toda especial de tocar, um fraseado que foi forjado assim, criado nas gafieiras do subúrbio do Brasil, do Rio de Janeiro, então é uma linguagem muito própria, muito particular e que mostrou ao mundo que ela pode se mesclar com outros estilos também. Ele galgou tantas posições, fez tantas parcerias com grandes nomes da música mundial, usando essa linguagem brasileira, então isso também é uma prova dessa força, dessa identidade, dessa nossa música brasileira, mais uma manifestação rica da música brasileira. E para a minha música, ele mostrou muito da simplicidade das ideias, da genialidade das ideias simples, daquela escola dele, de João Donato [pianista acriano, 1934-2023], de outros grandes mestres que usavam esse minimalismo nas suas composições, nas suas ideias, então acho que também a melodia, as ideias, as combinações melódicas, isso me mostrou um caminho, também a maneira como eu tocava baixo no trabalho dele, como o fundamento do baixo, da função baixo, também é uma coisa que no trabalho dele sempre foi muito presente, me influenciou e me mostrou a importância dessas concepções. Eu nunca parei para estudar as frases do Raul ou coisas assim, mas sempre tenho vontade de fazer isso e entendo também que a linguagem dele também é uma coisa que me ensinou, ela não é montada dentro dos conceitos de escala, dos conceitos teóricos mais comuns que a gente encontra hoje, é montado muito na percepção auditiva, na criação de melodias, na criatividade pura”, afirma Sölter, em entrevista exclusiva ao FAROFAFÁ.

Além de Donato, nomes como o trombonista Bocato, o cantor e compositor Djavan, o baterista Edson Machado (1934-1990), o multi-instrumentista e compositor Egberto Gismonti, o pianista Eumir Deodato, a cantora Flora Purim, o cantor e compositor Gilberto Gil, o pianista Guilherme Vergueiro, o multi-instrumentista Hermeto Pascoal, a cantora Leny Andrade (1943-2023), o contrabaixista Luiz Alves, o cantor e compositor Marcos Valle, a cantora Maria Bethânia, o cantor e compositor Milton Nascimento, o saxofonista e clarinetista Paulo Moura (1932-2010), o violonista Renato Piau, o percussionista Robertinho Silva, o pianista Sérgio Mendes, o pianista Tenório Júnior (1941-1976), desaparecido na Argentina à época em que a América do Sul era tomada por ditaduras militares, o cantor, compositor e pianista Tom Jobim (1927-1994) e o guitarrista Toninho Horta estão presentes à longa folha de bons serviços prestados por Raul de Souza à música brasileira.

“Desde a morte do Raul, do falecimento dele em 2021, nós temos realizado esse show em tributo a ele e alguns outros shows também promovidos por outros trombonistas, mas eu, pessoalmente, criei a mostra Viva Raul de Souza, onde a gente homenageia vários, onde a gente homenageia o Raul, vários trombonistas no Brasil todo que fazem essa homenagem. Nós fazemos a homenagem também no Brasil e fora, então é um movimento, fizemos o festival Viva Raul de Souza, fizemos homenagens em São Paulo, em Curitiba, e aí músicos em Belo Horizonte, Recife, Manaus, Porto Alegre, todo o Brasil e promovemos na Europa também, principalmente na França, na Suíça, na Bélgica e na Holanda, shows em tributo ao Raul, então essa é a ideia do show. Ainda não tinha acontecido no Rio de Janeiro, ainda não tínhamos feito um tributo para o Raul à altura do que ele merece, sendo ele carioca, então acho que isso tem uma importância ainda muito maior. E também uma característica desse show é que nós pegamos um repertório que não estava sendo tocado nos outros tributos, que é a fase que ele gravou nos Estados Unidos, a fase americana do Raul. Então são grandes sucessos, as grandes músicas dele que foram para o mundo todo em cinco discos produzidos numa carreira de uma vivência de 14 anos nos Estados Unidos, tocando com grandes nomes de lá, como Jack DeJohnette [baterista], George Duke (pianista, 1946-2013), Freddie Hubbard (trompetista, 1938-2008), Cannonball Adderley (saxofonista, 1928-1975), Stanley Clark [baixista], grandes nomes. Então essas são as características desse show e a importância dele ser no Rio de Janeiro é enorme e é o primeiro dos shows do tributo que a gente está fazendo no Rio”, continua. “Raul de Souza, Bone”, o show, acontece hoje (21), às 21h, no Manouche (Rua Jardim Botânico, 983, subsolo da Casa Camolese, Jardim Botânico). Os ingressos custam entre R$ 70,00 e 140,00. O título alude ao instrumento inventado pelo músico, um trombone com pedal de efeito e quatro válvulas, em vez das três habituais.

Sölter revela suas expectativas: “é que os amantes da música do Raul, que as pessoas que querem conhecer também a música do Raul, os novos admiradores e os admiradores antigos também venham para assistir e comemorar, celebrar a vida desse grande mestre. Ele tem muitos amigos, deixou muita história no Rio de Janeiro, então a gente imagina que essas pessoas venham celebrar conosco nesse show que está realmente com uma qualidade extra, está muito bonito”, antecipa.

“Por enquanto é um primeiro show, é um show elaborado, que vai ter três backing vocals, vai ter três instrumentos de sopro, então é um show rico em sonoridade e é claro que a gente pretende repeti-lo numa situação futura, talvez em festivais ou tentar promovê-lo pelo menos uma vez ao ano, mas por enquanto a gente tem essa data marcada e vamos dando um passo de cada vez. Vamos fazer esse show, sentir a repercussão e sentir como se comporta, não só o público, mas também os músicos em relação a esse repertório, como que a coisa acontece e com certeza vamos armar outras homenagens ao Raul no Rio de Janeiro, porque não pode deixar de acontecer isso. É muito importante para a história da música brasileira, para a história dele e para a cidade também”, afirma sobre a possibilidade de bis ou circulação do espetáculo.

TEM MARANHENSE NA HOMENAGEM A RAUL DE SOUZA

O multi-instrumentista Carlos Malta conheceu o baterista maranhense Fofo Black há pouco mais de um ano, em Curitiba/PR, e impressionado com seu talento, logo convidou-o a integrar o Pife Muderno, fabuloso grupo que fundou após mais de uma década integrando o grupo de Hermeto Pascoal.

Ano passado o Pife Muderno se apresentou em São Luís, no Festival Instrumental Nacional, o Fina, com um concerto dedicado ao repertório do baiano Gilberto Gil, já com Fofo Black no lugar originalmente ocupado pelo lendário Oscar Bolão (1954-2022).

Fofo Black estará na banda do show de hoje, em homenagem a Raul de Souza. Ele conversou com exclusividade com FAROFAFÁ.

QUATRO PERGUNTAS PARA FOFO BLACK

O baterista Fofo Black - foto: reprodução
O baterista Fofo Black – foto: reprodução

ZEMA RIBEIRO: Já estive em várias plateias vendo você tocar bateria, na época em que você morava em São Luís. Uma curiosidade que nunca matei é de onde vem esse apelido Fofo Black, que virou nome artístico?
FOFO BLACK: Esse apelido vem de infância, eu era muito muito fofo quando criança [risos], na escola todos me chamavam de Fofo, e quando entrei na cena musical do Maranhão esse apelido caiu nos ouvidos dos músicos, aí não teve jeito. Tentei mudar, mas ninguém me conhecia por Nataniel [Assunção] ou Natan, aí resolver deixar Fofo mesmo. Só adicionei o Black para dar um charme [risos], aí ficou assim, Fofo Black.

ZR: Você deixou o Maranhão e agora integra a formação do Pife Muderno, liderada por Carlos Malta. Como foi dar esse passo e como você tem experimentado este justo e merecido reconhecimento?
FB: Nossa, pra mim é uma experiência muito sensacional, mudar de cidade não é fácil pra ninguém. Conheci o Malta em janeiro de 2023, fizemos um show incrível, algo muito espiritual em Curitiba. Ali deu uma liga das boas [risos], e depois a gente foi conversando e falei pra ele que estava com vontade de mudar pro Rio de Janeiro para experimentar a cena e foi aí que ele falou assim: se você for tem uma banda lá que está precisando de você. Aí eu nem pensei duas vezes [risos].

ZR: Hoje você participa de um show em homenagem ao lendário Raul de Souza. Que lugar tem o músico em tua memória?
FB: Sempre vi o Raul como um cara um pouco fora da curva, sabe? Eu não tive a oportunidade  de trabalhar com ele em vida, mas sempre assistia e ouvia os seus trabalhos e achava sensacional a forma que ele levava a música brasileira com seu trombone a um altíssimo nível, seus solos e melodias incríveis. Pra mim um dos maiores nomes da música brasileira, sem dúvidas.

ZR: O que pode nos adiantar do show de hoje? O que a banda está preparando, quais as expectativas?
FB: Hoje é o show em homenagem a este incrível musicista. Vai ter um time da pesada tocando, são músicos incríveis e estamos preparando um verdadeiro tributo, o repertório está cheio de músicas lindas, vai ser uma noite maravilhosa!

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