Protesto contra desmonte da cultura em SP reúne 2 mil no Theatro Municipal

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Manifestantes no início do ato contra desmonte da cultura em São Paulo, na frente do Theatro Municipal

Mais de 2 mil artistas, ativistas, diretores e produtores culturais participaram ontem, quarta-feira, 20, a partir das 17 horas, de uma manifestação em frente ao Theatro Municipal de São Paulo em protesto contra o “desmonte da cultura” na cidade e no Estado de São Paulo. O maior alvo da manifestação foi o prefeito Ricardo Nunes e sua secretária de Cultura, Aline Torres, mas o governador do Estado, Tarcísio de Freitas, e sua secretária de Cultura, Marília Marton, também tiveram seus nomes gritados. Com estandartes, cartazes (“Nunes mata cultura”, “Nunes tirou meu brilho”, “Contra o Desmonte”), máscaras com o rosto do prefeito, muitos vestindo roupas e costumes de espetáculos teatrais, empurrando “máquinas de lavar dinheiro” cenográficas, os manifestantes entoaram coros e dançaram em frente ao Theatro Municipal, símbolo cultural paulistano que, ironicamente, vai se prestar a um evento político no próximo dia 25, com uma festa fechada para conceder o título de Cidadã Paulistana a Michelle Bolsonaro, ex-Primeira Dama do País e aliada do prefeito Nunes – que pediu pessoalmente a cessão do nobre espaço para a ação política.

No início do ato, o locutor anunciou que seria uma ação pacífica, com foco na diversão e na interatividade, alertando para que os manifestantes não aceitassem provocações de pessoas externas ao evento. O poder público destacou 7 viaturas e duas dezenas de policiais para acompanhar a manifestação, que transcorreu sem quaisquer incidentes. Apesar da pauta quente, raríssimos políticos participaram da manifestação – o deputado Carlos Giannazi, do PSOL, foi um dos poucos que atenderam ao chamado dos ativistas, que contaram também com representantes da Bancada Feminista, Bloco Feminista, entre outros grupos.

Às 18h10, uma chuva pesada interrompeu momentaneamente a aglomeração, mas a chuva passou rápido e os ativistas voltaram a sair das marquises e se reunir, marchando em direção à sede da Secretaria Municipal de Cultura. “Ei, ei, ei da falcatrua, não vem com essa de privatizar a rua! Ei, ei ei, do camarote, nós vamos mudar a sua sorte!”, cantavam os manifestantes. Houve pouco foco em pautas concretas, e mais no simbolismo do ato. O protesto registrou raras menções ao projeto de terceirização das Casas de Cultura pela prefeitura de São Paulo, mal abordou o fechamento das Oficinas Culturais pelo governo do Estado (que pretende iniciar um programa de escolas técnicas na Oswald de Andrade, marco da cultura paulistana) e quase não lembrou que o Theatro Municipal vai abrigar um rega-bofe de golpistas e negacionistas na próxima segunda-feira.

De qualquer modo, a grande presença de manifestantes no ato parece sintoma do avanço dos governos da extrema direita paulista e paulistana em direção à mesma cisão que o governo Bolsonaro promoveu em sua gestão de quatro anos, isolando-se do setor cultural, sucateando estruturas e promovendo a descontinuidade de processos e programas. A diferença é que, em São Paulo, terra de Cacilda Becker e de Danilo Santos de Miranda, a experiência cultural tem mostrado resultados sociais, econômicos e civilizatórios incontestáveis, e a população tem consciência disso. Repetir no município e no Estado o negacionismo bolsonarista, personagem que hoje desfruta de 63% de rejeição entre o eleitorado em São Paulo (segundo o Datafolha), pode se revelar uma aposta política pouco perspicaz. O governo do Estado recusou verba do PAC para construir CEUs da Cultura, desarticulou conservatórios de música pelo interior, represou os recursos federais destinados a projetos da Lei Paulo Gustavo (assim como a prefeitura), tentou interferir politicamente na TV Cultura: esses atos acabarão sendo escrutinados pela população.

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