Seydou (Seydou Sarr) e Moussa (Moustapha Fall) em cena de
Seydou (Seydou Sarr) e Moussa (Moustapha Fall) em cena de "Eu, Capitão" - frame/reprodução

A jornada dos primos Seydou (Seydou Sarr) e Moussa (Moustapha Fall), dois jovens senegaleses, negros e pobres, que decidem ir embora de sua terra natal, rumo à Europa, em busca do sonho de vencer na vida como artista, é o mote de Eu, Capitão, filme que traz para o centro do debates, temas ao mesmo tempo atuais, urgentes e incômodos.

Não se trata de um documentário, embora a crueza da narrativa possa fazê-lo parecer. Paisagens exuberantes, entre o deserto do Saara e o Mar Mediterrâneo, emolduram o desenrolar dos acontecimentos, entre cenas de violência que parecem conduzir o espectador a uma espécie de limbo, entre o que é real e o que é ficção.

Guerras, massacres e genocídios parecem fazer parte da rotina da humanidade desde que o mundo é mundo, como atualmente nos comprovam a guerra Rússia-Ucrânia e a tragédia na faixa de Gaza, em que questões semânticas parecem incomodar mais que as bélicas. Eu, Capitão, entre brutalidade e sensibilidade, debate questões humanitárias como a situação dos imigrantes e refugiados, as constantes violências a que estas populações são submetidas, desde sua terra natal, durante o trajeto e até o novo mundo, entre bandidos e agentes do Estado (não raro os mesmos) que tiram lucro e proveito da miséria alheia.

Estreia nos cinemas brasileiros, o filme de Matteo Garrone (que assina o roteiro com Massimo Ceccherini, Massimo Gaudioso e Andrea Tagliaferri), levou o prêmio de melhor direção e outras 11 estatuetas no prestigiado Festival de Cinema de Veneza do ano passado, incluindo a de melhor ator para Seydou Sarr, e concorre ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2024.

O título do filme decorre da história real em que se baseia, ouvida pelo diretor em um centro de atendimento a refugiados na Itália: a de um imigrante adolescente que teve que pilotar o barco em que viajava até chegar ao seu destino, mesmo sem idade ou habilitação para tal.

O grande trunfo de Eu, Capitão é fugir da perspectiva que geralmente aborda a imigração, por exemplo no noticiário a que assistimos cotidianamente, e isto está para além da abordagem ficcional permitida pelo cinema, mas pelo compromisso assumido pelo diretor e sua equipe, de contar a história pelo prisma daqueles que são diretamente afetados por todos os percalços do percurso, inclusive os laços de solidariedade que se formam diante das dificuldades enfrentadas por quem ousa sonhar. Grande parte do elenco é formada por jovens atores senegaleses que nunca haviam saído de sua terra natal mas, como os personagens retratados, têm vontade de viver em outro lugar. Uma ficção que descortina uma realidade nua e crua.

"Eu, Capitão" - cartaz/reprodução
“Eu, Capitão” – cartaz/reprodução

Serviço: Eu, Capitão (drama/ suspense/ guerra, Itália/ Bélgica/ França, 2023, 121 minutos), de Matteo Garrone. Em cartaz nos cinemas brasileiros.

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Veja o trailer:

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