A cantora baiana Virgínia Rodrigues. Foto: Fafá Araújo/ Divulgação
A cantora baiana Virgínia Rodrigues. Foto: Fafá Araújo/ Divulgação

A cantora baiana Virgínia Rodrigues sobe ao palco da Sala Itaú Cultural (Avenida Paulista, 149, próximo à estação Brigadeiro do metrô, São Paulo/SP) neste sábado (26, às 20h) e domingo (27, às 19h), para gravar seu novo álbum, “Poesia e Nobreza”, dedicado ao repertório de Paulinho da Viola e Tiganá Santana, diretor artístico do novo trabalho e seu parceiro de longa data.

Em seu trabalho anterior, “Cada Voz É Uma Mulher” (2019), ela cantava exclusivamente compositoras mulheres – os homens só apareciam ali como parceiros. O álbum marca também um estreito diálogo com artistas de outros países de língua portuguesa – com parcerias dela com a moçambicana Lenna Bahule e a cabo-verdiana Mayra Andrade, que participam do álbum.

Em conversa exclusiva com FAROFAFÁ, por telefone, Virgínia Rodrigues comenta as escolhas para “Poesia e Nobreza”, seu sétimo álbum, o primeiro ao vivo de sua carreira. “Vou gravar meus dois amores. Eu sempre quis gravar o Paulinho, é um sonho antigo que eu tenho de gravar o Paulinho. A ideia, a princípio, era só gravar o Paulinho da Viola, mas aí quando eu comecei a ler as poesias do Tiganá, que eu já conheço há 15, 16 anos, eu resolvi juntar os dois, dois artistas negros de gerações diferentes”, revela.

O título do disco liga as criações do oitentão Paulinho da Viola e do quarentão Tiganá Santana. “Os dois se misturam”, afirma Virgínia Rodrigues, explicando que não se trata da poesia e um ou nobreza de outro, mas da poesia e da nobreza de ambos.

No palco da sala de 224 lugares, Virgínia Rodrigues estará acompanhada por Fábio Leandro (piano), Cauê Silva (percussão), Ldson Galter (contrabaixo acústico), Iura Ranevsky (violoncelo), Nádia Fonseca (violino) e Jennifer Cardoso (viola). O show (e o disco vindouro) “Poesia e Nobreza” tem direção artística de Tiganá Santana e direção musical de Leonardo Mendes.

A cantora angolana Jéssica Areias – que recentemente lançou o álbum “Canto de Origem”, com o esposo Cauê Silva – fará uma participação especial no show (e no álbum); cumprindo agenda nos Estados Unidos, a cantora Fabianna Cozza estará presente apenas no disco – que deve chegar às plataformas de streaming entre o fim do ano e o início de 2024 (ainda não há certeza quando a formatos físicos).

"Mama Kalunga". Capa. Reprodução
“Mama Kalunga”. Capa. Reprodução

“Poesia e Nobreza” começou a ser gestado em 2021, como relembra Virgínia Rodrigues, ao comentar o processo de seleção do repertório. “Leonardo Mendes faz a produção do disco; a seleção foi o seguinte: hoje nós estamos em 2023, a gente tá com isso desde 2021, desde a pandemia que a gente tá com essa com essa ideia. A ideia desse disco ao vivo surgiu em 2021. Quando veio o projeto, foi definido que a gente faria pelo Proac [o Programa de Ação Cultural do governo paulista], a gente começou o repertório com as músicas “Cidade Submersa”, do Paulinho, “A Luz do Oculto e o Sol do Sentimento”, do Tiganá, essas músicas todas estavam no repertório, foram músicas, ideias que o Tiganá passou para mim, porque eu gosto de gravar. Paulinho da Viola fez muito sucesso com muita coisa, né? E eu não gosto de fazer “o sucesso”, que foi imortalizado na voz dos artistas, eu gosto de fazer músicas do artista que foram menos gravadas, entendeu? Gravar o que foi menos ouvido pelas pessoas. As músicas dele são todas muito conhecidas, mas tem coisas que as pessoas ouviram menos, como “Nos Horizontes do Mundo”, que eu gravei no “Mama Kalunga” (2015), é uma música lindíssima”, explica.

A artista revela as expectativas por seu primeiro registro ao vivo. “É uma nova experiência, que eu não acho fácil; apesar de eu não ser adepta de estúdio, acho que ele prende, mas agora que eu tô tendo essa oportunidade de ir pro palco eu tô preocupada, porque gravar um disco com público você não pode errar, né? Disco ao vivo você tem que chegar pronta, né? No estúdio errou, para, volta; e no público, não; você não pode ir, você tem que seguir, e aí você não pode errar. Estou muito feliz, mas também apreensiva”, revela.

O repertório contará também com temas instrumentais e músicas cantadas em quimbundo e quicongo. Indago-lhe se, para além de gravar dois artistas negros, cantar nestas línguas é também uma forma de ligar o povo brasileiro a suas raízes africanas, num esforço de superação do racismo. “Com certeza, com certeza são nossas origens, são nossos ancestrais. Falar da nossa ancestralidade, o povo brasileiro tem que saber que nós temos nossa ancestralidade afro, a ancestralidade africana e falo também, quicongo e quimbundo, agradeço a Deus e aos orixás por Tiganá, por terem colocado Tiganá na minha vida, porque foi ele quem colocou me colocou de encontro com essas línguas; até então eu sabia que as línguas africanas existiam, mas eu nunca tive acesso a elas, não conhecia, não sabia. E quando eu me vi, tive acesso a essas línguas, eu fiquei enlouquecida. Meu Deus do céu! Eu já tinha gravado uma música em inglês no meu disco “Sol Negro”, já tinha cantado em inglês no coral do Mosteiro de São Bento, os spirituals são em inglês, mas na língua do meu povo eu nunca tinha cantado. Então foi assim, eu nunca tinha visto, eu nunca tinha tido acesso e as pessoas precisam saber que essas línguas existem e que são dos nossos ancestrais”, afirma.

Serviço: show “Poesia e Nobreza”, de Virgínia Rodrigues. Gravação do disco homônimo da cantora baiana. Na Sala Itaú Cultural (Avenida Paulista, 149, próximo à estação Brigadeiro do metrô), dias 26 (sábado, às 20h) e 27 de agosto (domingo, às 19h). Entrada franca, com ingressos no site do Itaú Cultural. Classificação indicativa livre.

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