A cantora e compositora Josyara. Fotos: Bruna Valença/ Divulgação
A cantora e compositora Josyara. Fotos: Bruna Valença/ Divulgação

Uma das mais interessantes artistas reveladas na música popular brasileira produzida neste primeiro quarto de século, a baiana Josyara fará, a partir desta quinta-feira (27), uma série de shows no Canadá.

Amanhã ela se apresenta no Calgary Folk Fest, e na sequência no Lula World Music, em Toronto, dia 3 de agosto, e no National Arts Center, em Otawa, dia 9. É a primeira vez que a artista se apresenta no país; ela já se apresentou na Europa, África, Argentina e Uruguai. Na turnê canadense Josyara (voz e violão) estará acompanhada por Joana Cid (baixo) e Bruno Marques (bateria e programações).

Josyara tem dois discos lançados: “Mansa Fúria” (2018) e “ÀdeusdarÁ” (2022). Recentemente lançou o single “Não Tem Lua” (Durval Lelys), em dueto com Juliana Linhares, releitura do clássico da axé music; e teve sua “Mulher Pra Mulher (A Voz Triunfal)”, sua parceria com Elza Soares (1930-2022), lançada pela cantora no póstumo “No Tempo da Intolerância” (2023); a faixa teve produção de Josyara e Rafael Ramos.

Josyara conversou com exclusividade com FAROFAFÁ.

ENTREVISTA: JOSYARA

ZEMA RIBEIRO: Este fim de semana você participou do Projeto Nordeste, dividindo o palco com Anastácia, Ednardo e Hyldon. Como surgiu a ideia, como você recebeu o convite e o que esse momento significou para você?
JOSYARA: O projeto Conjunto Nordeste é uma ideia de Duda Vieira, produtor pernambucano. Ele já fez algumas edições. Quando ele me fez o convite eu fiquei primeiramente muito feliz, sempre trocar com artistas que eu admiro, que me inspiram, é de extrema relevância pra minha arte e pra minha vida pessoal, mesmo, eu acho que a troca é a força maior da minha inspiração. Então, imagina, poxa, conversar com Hyldon, falar das coisas, ouvir as histórias de Anastácia, das composições, da relação que teve com Dominguinhos (1941-2013), Ednardo ali comigo, me abraçando, cantando “Pavão Mysteriozo”, é grandioso isso. Então, eu fiquei muito contente com esse encontro.

ZR: Você acaba de lançar uma releitura de “Não tem lua”, sucesso de Durval Lelys, em dueto com Juliana Linhares. Qual o lugar da axé music em tua formação musical?
J: A música afro-brasileira é a base da minha pesquisa rítmica, de violão, de canto, é onde eu me identifico, onde eu me sinto à vontade, em casa. O axé music faz parte disso tudo, a diversidade rítmica que tem no axé, galope, frevo, músicas de terreiro, ijexá, então é muita coisa, faz parte completamente da minha formação, inclusive tem coisas belíssimas, como essa música que eu lancei com Juliana, “Não Tem Lua”, acho que é uma das mais lindas desse período fértil e brilhante do axé music, e sigo aí escutando tanto outras coisas que já foram lançadas, como estudo, como deleite mesmo.

ZR: Tua estreia em 2018 com “Mansa Fúria” mereceu atenção de público e crítica, é um disco cheio de frescor, que aponta novidades na MPB produzida neste início de século, com você se destacando como cantora, compositora e instrumentista. O álbum te abriu portas e logo você ganhou o reconhecimento de artistas como Chico César e a hoje ministra da Cultura Margareth Menezes. O álbum é tão bom que eu tenho uma curiosidade: houve, de tua parte, alguma insegurança para fazer “ÀdeusdarÁ”? No sentido de você ter uma vontade de se superar, de fazer algo ainda melhor?
J: Olha, eu acho que essas inseguranças elas acontecem porque a gente está completamente nu quando mostra uma música nova, é nosso trabalho, a gente depende um tanto de certos retornos para poder circular, então esse nervosismo acontece e eu o acolho da melhor maneira possível, sem me travar, nem me privar de colocar as minhas ideias no mundo. Como eu fiz a minha primeira produção musical, eu mexi nos samples, eu criei as bases, eu editei, era uma coisa muito nova pra mim, aquilo me deixou completamente nervosa e orgulhosa, em sequência, porque quando você vê o negócio pronto e vê que é possível realizar ali o que estava na sua cabeça e acontecer, foi fantástico e extremamente gratificante. Eu sou feliz pelos dois discos, pelo “Mansa Fúria”, pelo “ÀdeusdarÁ” e pelas coisas futuras que ainda vão vir, porque a música é minha vida.

ZR: Você embarca para o Canadá, para uma série de shows, sendo sua primeira viagem ao país. Vamos falar desta agenda, dos músicos que te acompanham, do repertório e de tuas expectativas por essa circulação.
J: Essa circulação no Canadá era pra acontecer em 2020, aí a pandemia, tudo que a gente viveu, esse caos, impediu que eu retornasse mais em breve. Isso gera um tanto mais de ansiedade, então eu estou nervosa com esses shows, feliz também. Estarei acompanhada por dois músicos, Bruninho Marques na bateria e programações, Joana Cid no baixo, vai ser um power trio. A gente vai cantar músicas dos dois discos, tanto “ÀdeusdarÁ” como “Mansa Fúria”, tentando trazer algo mais orgânico mesmo, tocando, assumindo essa formação do violão, da bateria e do baixo. A gente vai fazer alguns shows no Festival Calgary Folk, em Calgary, começa no dia 27, realizo 27, depois faço um encontro no mesmo festival, vão ter algumas atividades, encontros com outros artistas, e em sequência eu vou para Otawa, e depois Toronto. Então são três, quatro shows com essa intensidade e intenção de comunicar o melhor possível, fazer público e emocionar as pessoas.

ZR: A música brasileira é bem recebida mundo afora, mesmo com pouca gente falando português. A seu ver, uma viagem como esta pode inspirar artistas mulheres em começo de carreira? Não só a viagem, mas tua trajetória como um todo, acaba sendo fonte de inspiração, a meu ver.
J: Sem dúvidas. Acho que quando a gente se reconhece em outro artista, a gente quer aproximar ali a nossa arte naquilo que nos toca. Obviamente quando a gente tem uma criatividade, uma personalidade, a gente vai fazendo uma coisa nova, um frescor, uma identidade ali. Mas acho que quando a gente admira e se reconhece no outro, a gente quer estar perto. Obviamente acho que as pessoas que me admiram e veem as minhas músicas em tais lugares e circulando, isso dá um gás, um desejo próximo, assim como eu tenho, também sigo admirando, tendo os meus ídolos, as minhas musas e tal, querendo ali, enfim, ter uma longevidade na carreira, como tantas. Acho que sim, acho que tem essa conexão com outros artistas, como já me chegaram mensagens de carinho, falando sobre isso, sobre como é importante a minha música e tal, isso é demais, porque a gente vive disso, dessas conexões todas. Quando chega e vem pra perto uma troca como essa, você fala “nossa, estou no caminho certo”.

ZR: O que você pode nos adiantar de novos projetos? Além desta ida ao Canadá, o que teremos de Josyara neste resto de 2023 e em 2024?
J: O que eu posso dizer é que eu estou compondo músicas novas, estou na pré-produção de um disco novo, um disco um tanto diferente dos outros, no sentido da palavra, do sentimento, do visceral, da sinceridade mesmo com os desejos, com a raiva, com os sentidos, então é um disco sobre relações, relacionamentos. O que eu posso adiantar é isso. Em breve anunciaremos as novidades.

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Ouça “ÀdeusdarÁ”:

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