O jornalista e escritor Rodrigo Faour. Foto: divulgação
O jornalista e escritor Rodrigo Faour. Foto: divulgação

Qualquer frequentador dos arraiais da capital maranhense já pode ter topado com o jornalista e escritor Rodrigo Faour. Ele está em São Luís, aprofundando suas relações com a música popular brasileira produzida no Maranhão e com manifestações da cultura popular típicas do período, como o bumba meu boi e o tambor de crioula.

Mas para além de beber na fonte e atualizar os feeds de suas redes sociais, Faour lança hoje (30), em São Luís, os dois volumes de “História da Música Popular Brasileira – Sem Preconceitos” (Editora Record). A noite de autógrafos acontece na Livraria e Espaço Cultural Amei (Associação Maranhense de Escritores Independentes), no São Luís Shopping, às 19h.

A noite de autógrafos terá bate-papo com o autor, com mediação da jornalista e cantora Cecília Leite, além de pocket show com a mediadora, Anastácia Lia, Dhean Britto, Fernando de Carvalho e Guilherme Jr.

Rodrigo Faour conversou com o FAROFAFÁ (em parceria com as rádios Timbira e Universidade) – a versão radiofônica deste conteúdo pode ser ouvida a seguir.

TRÊS PERGUNTAS PARA RODRIGO FAOUR

ZEMA RIBEIRO: Quais as dores e as delícias em escrever uma obra da abrangência de “História da Música Popular Brasileira – Sem Preconceitos”?
RODRIGO FAOUR: Obrigado pelo oportunidade de falar aqui para os seus ouvintes. Bom, escrever esse livro sobre a história da música popular brasileira, sem preconceitos, foi o maior desafio da minha carreira. Porque eu comecei, quer dizer, a ideia começou quando eu fui dar um curso na PUC do Rio de Janeiro sobre história da música e eu vi que não havia um livro que desse conta da nossa pluralidade, né? Porque até os anos 1980, início 90, havia umas máximas na pesquisa de música popular que alguns estilos seriam mais brasileiros que outros, alguns seriam mais dignos de entrar numa história da música que outros, então se um marciano viesse à Terra hoje e pegasse um livro desses pra ler, ia achar que tava no lugar errado, porque dada a música massificada, que toca nas rádios de hoje, pros pesquisadores e jornalistas de outras épocas, ela não seria tão digna de estar nos livros, por ser bem popular, por não ter, às vezes, uma origem tão brasileira e tal. Então eu resolvi fazer realmente um livro que desse conta disso tudo e também sair um pouco da centralidade Rio-São Paulo. Então eu tentei colocar bregas, chiques, experimentais, comerciais, sabe?, coisas de grande poesia, outras músicas bem diretas, enfim, culturas, aspas, regionais, um pouco de tudo, e nisso entrou também, por exemplo, o Maranhão e o Rio Grande do Sul, que são estados que não exportaram a sua própria música para o resto do país. Eu, por exemplo, sempre soube da música do Maranhão, algumas coisas, pelos discos da Alcione. Você tem a Rita Benneditto, o Zeca Baleiro, que grava uma coisa ou outra, mas a gente não tem, por exemplo, eu sou do Rio de Janeiro e não tinha ideia, até vir aqui, do que do que era realmente a música do Maranhão. E é uma coisa riquíssima, como no Rio Grande do Sul também tem festivais de música nativista, tem música tradicionalista, tem a música das fronteiras, então são coisas também que não foram para os outros estados do Brasil, assim como a música do Pará recentemente chegou um pouco mais, por causa do Terruá Pará, que foi um projeto do Governo do Estado que levou os artistas em caravana pra viajarem lá para o sul, mas também é muito específica. Pernambuco também tem uma cultura, tanto de frevo, de maracatu, de música brega, de forró eletrônico e outras coisas que também não chegam tanto lá no sul. Então foi uma imersão realmente, fazer tudo isso. E também aquilo: eu sou o único da minha geração, o único jornalista que tive contato com os cantores do rádio, até de amizade, de visitar, de ir na casa deles, sempre valorizei muito essa geração e me criei ouvindo, que a minha mãe ouvia, que era Elis [Regina] (1945-1982), Chico [Buarque], [Maria] Bethânia, Gal [Costa] (1945-2022), Rita Lee (1947-2023), essas coisas. Então eu acho que eu tinha essa informação, e antes de mim o livro mais completo era do Jairo Severiano (1927-2022), que foi meu amigo até morrer agora com 95 anos, e ele era especialista na primeira era do rádio, nos anos 30, início 40, que eu conheço ele desde os 19 anos, então ele me passou isso também. Então eu falei: gente, se eu não escrever vão morrer comigo essas coisas mais antigas e essa parte mais nova, que eu não conhecia, por incrível que pareça, tanto, principalmente das duas últimas décadas, eu mergulhei, e nas culturas regionais também, para poder escrever. E ainda tem a parte da música no exterior, que tem artistas brasileiros que fazem mais sucesso fora do que dentro hoje em dia, tem grupos de música brasileira que são feitos por gringos em cima dos discos dos anos 60 e 70 brasileiros, tem um intercâmbio Brasil-Portugal, que também é uma coisa à parte, tanto de lá pra cá como daqui pra lá, então eu tentei abarcar tudo isso, todas essas influências e todas essas coisas tão ricas, e tentei dar o meu melhor. Todos os artistas que eu cito têm pelo menos um sucesso escrito qual é, tem um índice onomástico, tem o ano de nascimento e morte de todos. Então, realmente, é um trabalho de uma vida, porque eu não fiquei só sete anos fazendo esse livro, eu fiquei a minha vida inteira guardando recortes, guardando discos, para chegar nesse nível de poder ter essa pretensão de escrever esses dois volumes.

ZR: Teu trabalho como jornalista e escritor te aproxima de figuras fundamentais da cultura brasileira. Como você cuida de não deixar o profissional e o fã que te habitam se confundirem?
RF: Olha, eu tive que passar por cima dos meus próprios preconceitos e do meu próprio gosto musical para escrever esse livro que, lógico, eu acho que ninguém gosta de tudo. É impossível gostar de tudo, você se identifica pelo seu nível cultural, pelo que você tem de memória afetiva, você acaba gostando mais de alguns estilos e alguns intérpretes do que outros. Isso é normal. Então para fazer um livro como esse eu tive que realmente abrir mão de muita coisa, sabe, tem gêneros que realmente eu não gosto. E eu tive que passar por cima e ir atrás de pesquisadores específicos sobre determinados gêneros ou até alguns artistas para me ajudarem, e foi o que eu fiz, até inclusive com a música do Maranhão, que eu não conhecia tanto, aí não é por não gostar, é por desconhecimento. Então foi uma foi uma imersão realmente, eu aprendi muito fazendo esse livro, isso foi o lado bom. Porque eu já tenho vários livros, eu tenho a biografia da Angela Maria (1929-2018) [“Angela Maria: A Eterna Cantora do Brasil”, Record, 2015], do Cauby Peixoto (1931-2016) [“Bastidores: Cauby Peixoto, 50 Anos da Voz e do Mito”, Record, 2001], da Dolores Duran (1930-1959) [“Dolores Duran: A Noite e As Canções de Uma Mulher Fascinante”, Record, 2012], da Claudette Soares [“A Bossa Sexy e Romântica de Claudette Soares”, Coleção Aplauso, Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2010, disponível para download gratuito no site da editora], tenho “A História Sexual da MPB” [Record, 2006], que é sobre comportamento e música, que vai ser inclusive relançado esse ano, o que muito me orgulha, que foi meu livro que mais vendeu e que deu origem também a programa de rádio, de televisão, DVD, CD, shows, um monte de coisas, e é muito atual. Todos esses livros, enquanto eu estava fazendo esses livros, eu estava imerso numa pesquisa, então muita coisa da parada de sucesso dos últimos 20 anos eu perdi. Eu não tinha me aprofundado, então eu tive que ouvir tudo de uma vez só para fazer o livro. Mas eu fiquei muito feliz, porque mesmo coisas que eu não gosto, foi bom saber de onde veio, porque que elas apareceram, porque fazem tanto sucesso, e no final do volume dois eu faço um epílogo falando das transformações do mercado e da internet, que hoje é muito perversa, ela é pretensamente democrática, mas não é tanto assim. Então eu explico um pouco como é o mercado contemporâneo também, até isso tem no livro.

ZR: O que você pode nos adiantar em relação a novos projetos? O que vem do Faour em 2023 e 24?
RF: A minha tese de mestrado foi sobre uma cantora paulista chamada Leny Eversong (1920-1984), que depois da Carmen Miranda (1909-1955) e antes da turma da bossa nova foi a artista que mais fez sucesso no exterior. Ela cantava em vários idiomas e tinha uma voz muito poderosa, a Leny Eversong, e esse é o meu próximo livro, que vai sair pelo Sesc São Paulo ainda esse ano. Ele já tá pronto para sair. É um trabalho que eu tenho também, desde os meus 19 anos que eu pesquiso a Leny Eversong, é uma obsessão minha, e agora as pessoas vão saber quem é essa cantora. Ela era uma cantora muito gorda, ela sofreu muito bullying, então tem uma parte também que eu falo, que eu problematizo esse legado dela, entrevisto outras cantoras gordas. Vai ser um livro bem bonito também, que vai sair: “A Voz Poderosa de Leny Eversong ou A Cantora que o Brasil Esqueceu”.

Serviço: Noite de autógrafos de “História da Música Popular Brasileira – Sem Preconceitos”, volumes 1 e 2. Com o escritor e jornalista Rodrigo Faour. Na Livraria e Espaço Cultural Amei (Associação Maranhense de Escritores Independentes), São Luís Shopping. Bate-papo com o autor, mediado pela jornalista e cantora Cecília Leite. Pocket show com a mediadora, Anastácia Lia, Dhean Britto, Fernando de Carvalho e Guilherme Jr.

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