Cena de
Cena de "Figueiredo", solo de Pedro Vilela - foto: Pedro Sardinha/ divulgação

Começa hoje (23) e segue até sábado (27) a sexta edição de “A Ponte – Cena do Teatro Universitário”, evento que alia programação e formação artística, no Instituto Itaú Cultural.

"Pontilhados". Capa. Reprodução
“Pontilhados”. Capa. Reprodução

Um dos destaques da programação – inteiramente gratuita – é o espetáculo solo “Figueiredo”, do ator Pedro Vilela, que estreia no Brasil após ter sido apresentado em Portugal. A conferência performativa alia história e memória do Brasil, abordando o genocídio indígena, posto em prática desde a invasão portuguesa em 1500.

O ponto de partida de Vilela é o “Relatório Figueiredo”, documento que permaneceu oculto por mais de quatro décadas, com a conclusão das investigações da Comissão de Inquérito instaurada no Brasil em julho de 1967 para apurar irregularidades no Serviço de Proteção aos Índios (então o órgão estatal responsável pela execução da política indigenista brasileira entre 1910 e 1967, hoje Funai).

Durante o evento também será lançado o edital da quarta edição da seleção de trabalhos de conclusão de curso e pesquisas estudantis em artes cênicas, de cursos superiores ou técnicos.

A terceira edição da publicação “Pontilhados: Pesquisas da Cena Universitária” também está disponível para download a partir de hoje no site do Itaú Cultural. A maranhense Nathalia Mendes de Aguiar, egressa do curso de Teatro da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), está na publicação e integra a programação, falando sobre seu TCC – “Experimentos de Uma Atriz Iluminadora (Iluminatriz) com Recursos de Iluminação Alternativa no Ambiente de Casa no Período da Pandemia”. Ela falou com exclusividade ao FAROFAFÁ.

A maranhense Nathalia Mendes de Aguiar - foto: divulgação
A maranhense Nathalia Mendes de Aguiar – foto: divulgação

QUATRO PERGUNTAS PARA NATHALIA MENDES DE AGUIAR

ZEMA RIBEIRO: O que significa para você estar na programação da 6ª. edição de A Ponte: Cena do Teatro Universitário?
NATHALIA MENDES DE AGUIAR: Tem um significado muito importante, realmente de satisfação, de perceber que eu posso falar mais sobre a minha pesquisa, divulgar cada vez mais a minha pesquisa e ampliar essa discussão sobre o que eu estou pesquisando e chamar mais pessoas para poder fluir junto comigo e também sobre essa oportunidade, porque a gente sabe que quando a gente nasce no Nordeste, é mulher, é de periferia, muitas oportunidades são negadas pra gente. Então estar nesse lugar, estar com essas pessoas e estar podendo falar sobre a minha pesquisa é de muita satisfação e de muita felicidade também, porque a minha pesquisa surge num momento muito delicado para mim, que foi a pandemia, que com certeza não foi só para mim, foi para muitas pessoas. Estar participando da edição, sentir que meu trabalho está chegando a mais gente e vai ecoar e reverberar por mais lugares é muito importante. Todos os meus professores sempre falam que uma pesquisa da qual você não fala, que você não divulga, que você não bota para andar, é como um passarinho que você deixa preso na gaiola, você não deixa ele voar. Nós temos que deixar nossas pesquisas fluírem, voarem para além da gente. Tem esse peso, esse significado, essa satisfação.

ZR: Resumidamente, qual o objeto de pesquisa e as abordagens de teu trabalho de conclusão de curso?
NMA: O meu objeto de pesquisa é a iluminação teatral, principalmente essa iluminação teatral que eu consigo fazer com materiais e técnicas alternativas, que eu tinha disponíveis em casa durante o período da pandemia. Eu abordei experiências que eu realizei dentro de casa, principalmente no meu quarto, no qual eu testava luzes diversas, como frascos de vidro, de perfume, copo de vidro com água, vela, lanterna de celular, tecidos para testar as tonalidades, capas de encadernação, que são transparentes, então eu fiz toda uma abordagem de estudos sobre esses experimentos em que eu estava trabalhando, fazendo luz, e como eu transformava isso em processos de iluminação. Eu cunhei o termo iluminatriz, que é onde a atriz não é apenas atriz, ela também é iluminadora e a iluminadora não é só iluminadora, também é atriz. Elas se mesclam e elas se tornam a iluminatriz, então ela mesmo se ilumina, a atuação não existe sem a luz e a luz não existe sem a atuação. É mais ou menos essa abordagem que eu fiz sobre esses estudos, essas experiências que eu estava tendo dentro do meu quarto nesse período da pandemia.

ZR: O Nordeste infelizmente ainda é alvo de todo tipo de preconceitos, mas a gente percebe, em eventos como este e pelo mapa das redações nota mil no Enem, que tais preconceitos não têm o menor fundamento. Como você avalia o poder do teatro para a tentativa de superação deste estado de coisas?
NMA: Sim, ainda é uma triste realidade todo esse preconceito que o Nordeste e o Norte também ainda enfrentam nesse país, sobre as pessoas ainda acharem que a gente não pesquisa ou que a gente não está pronto para determinadas conversas, mas eu acredito e percebo uma mudança muito grande, principalmente na minha área, o teatro, sobre artistas e pesquisadores que estão realmente quebrando barreiras, estão indo pra frente, estão mostrando sua voz, estão mostrando as suas potências como artistas, como artistas-pesquisadores, estão parando de se sentir coagidos. Acho que por muito tempo a gente foi coagido para algumas coisas e eu acho que o teatro tem esse poder porque a gente meio que desmecaniza o nosso corpo e faz a gente sempre pensar e querer denunciar e querer falar. Acho que é muito importante essa questão de se mostrar, mostrar que sim, estamos aqui, estamos presentes, nós somos pessoas que estão trabalhando com teatro, que estão trabalhando com pesquisa, estamos aqui preparados para falar sobre, não somos coitadinhos e somos pessoas completamente capazes de falar, de falar sobre a gente, e a gente é dono de nossa própria história. No teatro você é muito ensinado a tomar o seu lugar de si, a trabalhar sobre si para poder expandir, então, às vezes é um autoconhecimento sobre você, sobre seu corpo, então o teatro tem esse poder, de fazer a gente quebrar essa barreira, de a gente começar a mostrar o nosso grito e saber que ele pode reverberar cada vez mais, e cada vez mais estar à frente, estar divulgando e não se calar, não se silenciar.

ZR: Durante o evento será lançado o edital para a quarta edição da seleção de TCCs e pesquisas estudantis em artes cênicas, tanto para cursos superiores quanto para cursos técnicos. O que você diria a estudantes eventualmente interessados em participar?
NMA: No site do Itaú Cultural, começou agora, dia 23 de janeiro e vai até o dia 22 de março de 2024 a quarta edição da seleção de TCCs e pesquisas de estudantes de teatro e eu queria dizer a todos os estudantes: não tenham medo de falar sobre suas pesquisas, não tenham medo de botar suas pesquisas pra frente, pra andar, pra fluir, pra reverberar, porque eu sei, como pesquisadora, por ter passado por tantos processos de pesquisas, por desânimos, por desgastes, eu sei como às vezes é difícil a gente querer colocar em algum lugar, porque a gente sempre acha que não é bom. Mas eu quero realmente dizer: botem a pesquisa de vocês, não tenham medo, não tenham essa preocupação de achar que não é boa o suficiente. Você tem o direito de errar e você tem o direito de acertar e botar sua pesquisa, principalmente aqui do Nordeste, aqui do Maranhão, de mostrar que estamos pesquisando, que estamos fazendo trabalhos que são grandiosos, que estamos falando sobre esses trabalhos, que estamos fluindo com esses trabalhos, então eu quero pedir a todos, que por favor, se inscrevam. Não tenham medo, divulguem para os amigos de vocês, incentivem os amigos de vocês a divulgarem os seus trabalhos, para que cada vez mais vocês notem que aqui estamos criando, aqui estamos experimentando, aqui estamos escrevendo. Estamos sempre dispostos a divulgar nossas pesquisas e nossos trabalhos.

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