A cantora, compositora e atriz Isadora Melo. Foto: Luara Olivia. Divulgação
A cantora, compositora e atriz Isadora Melo. Foto: Luara Olivia. Divulgação

“Cadê Isadora?” é a pergunta com que a cantora, compositora e atriz Isadora Melo se assina nas redes sociais. A resposta possível é o famoso jargão do mangueBit: Pernambuco falando para o mundo, mais uma vez.

Anagrama. Capa. Reprodução
Anagrama. Capa. Reprodução

Ela acaba de lançar “Anagrama”, disco tão ligeiro (nove faixas em cerca de 26 minutos) quanto urgente (ao refletir diversas questões do Brasil contemporâneo), disponível nas plataformas de streaming.

Sucessor do álbum “Vestuário” (2016) e do EP de estreia, de 2014, que tinha como título o nome da artista, a faixa que intitula este novo trabalho se impôs. “Folheando o instagram (o meu perfil segue muites poetas) encontrei essa poesia de Phillipe [Wolnney], que dizia, em meio à notícia do crime da Vale em Brumadinho, “vale o poema que se derrama, o que significa ter na vida o anagrama Alma e Lama?”. Achei genial, pedi permissão pra musicar e convidei Lira pra completar a parceria, que no meio da nossa turnê [com o Cordel do Fogo Encantado, grupo de que Lira é vocalista e letrista], escreveu vários versos pra integrar na composição. Acordamos, por fim, nos versos que ficaram. Capotas polares derretendo, crises ambientais, golpes [contra] a democracia, facilidades em adquirir armas, muito assunto, mas a poesia é gênia e consegue trazer tudo à tona. O nome do disco seria esse”, revela, no material de divulgação distribuído à imprensa.

O disco é ao mesmo tempo contundente e delicado e é o primeiro trabalho em que Isadora Melo se revela compositora – é autora de cinco das nove composições, sendo “Quanto mais” e “Proposta para um estado crítico”, a vinheta de abertura, criações solitárias. Sobre esta, comenta: “surgiu no final das gravações do disco. Pensei que precisava de uma vinheta, uma abertura, um prefácio. Resumi toda intenção do disco no mantra “eu cuido de você e você cuida de mim”. Uma proposta para tempos de violência e golpes diários, uma chamada, um levante”.

Artista de destaque no cenário musical pernambucano, Juliano Holanda assina “Habite-se” e “Para os prédios”. Sobre a segunda, ela comenta: “Tava na casa de Juliano quando ele compôs essa. Na época ficou no ar que era sobre um fim de relação. Desde sempre cantei como se fosse sobre se impor e se achar. Uma composição forte de um poeta incrível”. “Não vá me chamar precipício que eu não tenho vales/ não subo em altares, não sou quem tu queres,/ te meço em colheres e alvejo navios”, termina a letra.

Outro talentoso pernambucano de destaque, Martins é autor de “Sorriso de faca” – e assina ainda “Um lugar”, em parceria com Rafael Marques – sobre a qual ela comenta: “Achei que dizia tudo sobre esse tempo, as pequenas violências nas relações, os abraços com sorriso de faca. E é uma composição linda de um compositor que amo também”. “Quando você me abraça com esse sorriso de faca/ um braço beija e o outro ataca/ os olhos sentem a boca mata/ mas se você provoca esse acidente/ eu me desmonto na sua frente/ a boca jura/ e o corpo mente”, começa a letra.

Ela comenta também a gênese do disco, como um todo: “Comecei a pensar em “Anagrama” em 2018. Já tinha um álbum de intérprete, o “Vestuário”, lançado em 2016. Eu não pensava em escrever músicas como ofício antes disso. Nesse período protagonizei um espetáculo de João Falcão [o musical “Gabriela”, baseado na obra de Jorge Amado, no mesmo ano]. Também entrei em turnê com o Cordel do Fogo Encantado, montei o espetáculo “A dita curva”, com 10 mulheres criadoras, compositoras e intérpretes [além dela própria, Aishá Lourenço, Aninha Martins, Flaira Ferro, Isaar, Laís de Assis, Luna Vitrolira, Paula Bujes, Sofia Freire e Ylana Queiroga]. Troquei muito com João Falcão, com os meninos do Cordel, e essas 10 mulheres pernambucanas incríveis. Resolvi que queria ser autora no meu próximo trabalho. De intérprete, comecei a escrever e musicar minhas ideias, encontrei parcerias iluminadas, com quem adquiri confiança e entendi o quanto era importante fazer minhas próprias canções, minhas ideias de mulher preta nascida no Jiquiá, zona oeste de Recife. E além de tudo isso, ganhei confiança de produzir esse trabalho novo. Os três músicos que chamei pra construir a sonoridade são Rafael Marques [guitarra, bandolim e respectivos arranjos], músico, compositor e arranjador talentoso, Henrique Albino [flautas, saxofones e arranjos de sopros], conhecido por seu trabalho com frevo e com o que ele chama de “música troncha”, e Lucas dos Prazeres [percussão e arranjos], diretamente do Morro da Conceição, artista surpreendente”.

O título deste texto é verso de “Antes de ir” (Fred Cajueiro/ Isadora Melo), faixa que encerra o álbum. Do começo ao fim ou do fim ao começo, “Anagrama” é, literalmente, um grande disco.

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