Nada de se matar ou morrer de amor (Saravá Discos, 2025; faça aqui a pré-save) é o título forte do quarto álbum da niteroiense Daíra, que chega às plataformas de streaming nesta quinta-feira (30), uma guinada em sua trajetória, iniciada com Flor (2014) e continuada com o elogiado Amar e mudar as coisas (Arlequim/ Porengareté, 2017), inteiramente dedicado ao repertório de Belchior (1946-2017), e Samsara (Selim, 2021).
Intérprete de timbre particular ela alça, neste lançamento, voo de inspirada compositora, assinando todas as faixas do álbum, em parcerias com Carluiz Sabóia (em “Manhã de inverno”), Zeca Baleiro (que assina a produção musical do disco, em “Pra sentar num bar”, cantada em dueto com o parceiro, single já disponível, que anunciou o lançamento do álbum, “Garfo e sopa”, “Quem vem de lá” e “Guitar Hero (Too much too little)”, esta, parceria deles com Lucas Fidelis), Lucas Fidelis, Lola Parda e Augusto Feres (em “Corazón de piedra”, cantada com os dois primeiros), Diana Manacá (em “Como Frida Kahlo não me calo”), Andréa Bak (em “Deus é mulher”, cantada em dueto com a parceira) e João Mantuano (em “Little gipsy”, em que divide os vocais com Zé Ibarra). Solitariamente ela assina “Parece paz” e faixa-título.
Cantado em português, espanhol e inglês, Nada de se matar ou morrer de amor traz letras longas e vai da fossa de versos desconcertantes, como “Tô te ligando pra falar de trabalho/ A palavra amor saiu do meu dicionário” (da faixa-título), ao elogio do poder feminino, com a citação de várias mulheres inspiradoras na letra de “Como Frida Kahlo não me calo” – inclusive, entre muitas outras, Fernanda Montenegro e Fernanda Torres, antes do frisson causado pela indicação da segunda ao Oscar de melhor atriz, por sua atuação em Ainda estou aqui, de Walter Salles, filme que também concorre à estatueta máxima da sétima arte.
Daíra (voz, vocais, violão, pandeiro) está acompanhada por Adriano Magoo (acordeom, piano), Alexandre Fontanetti (filtros, guitarra, violão), Allan Abbadia (trombone na faixa-título), Fernando Nunes (baixo em “Deus é mulher”), Jota Erre (bateria e percussão), Karina Salles (coro em “Quem vem de lá”), Kuki Stolarski (bateria e percussão), Neymar Dias (baixo acústico em “Garfo e sopa” e “Quem vem de lá”), Otávio Nestares (trompetes em “Deus é mulher”), Pedro Cunha (piano e synths em “Little gipsy”), Pedro Luz (baixo), Raquel Tobias (coro em “Quem vem de lá”), Roberta Oliveira (coro em “Quem vem de lá”), Rogério Delayon (guitarra), Rovilson Pascoal (guitarra e synth em “Guitar hero”), Swami Jr. (violão sete cordas na faixa-título), Tami Uchoa (coro em “Quem vem de lá”), Tuco Marcondes (violões em “Little gipsy”) e Zeca Baleiro (voz, violão, percussão e assobio).
Em álbum majoritariamente romântico, com diversas faixas candidatas a hit, merece destaque “Quem vem de lá”, que encerra Nada de se matar ou morrer de amor: com os pés nos terreiros de religiões de matriz africana, a letra cita diversos orixás e é uma reafirmação de quem conhece seu lugar – como já dizia o antigo compositor cearense que ela homenageou noutro disco – e seu valor. “Minha mãe vive em meu ventre/ meu pai as asas me deu/ Para o amor digo: entre/ Só eu sou maior que eu”, diz a letra, longe de qualquer soberba.