Cineastas pedem veto do MinC a indicada à direção da Ancine

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Quatro das maiores associações de classe do setor audiovisual brasileiro (Associação Brasileira de Cineastas, Associação Brasileira de Empresas de Animação, Associação Paulista de Cineastas e Conexão Audiovisual Centro-Oeste, Norte, Nordeste) enviaram no último dia 23 à secretária do Audiovisual do Ministério da Cultura, Joelma Gonzaga, uma carta pedindo que esta impeça que uma gestora do Ministério da Educação (MEC) venha a ocupar vaga na direção da Agência Nacional de Cinema (Ancine).

O nome a ser indicado à Ancine, o de Patricia Barcelos, foi antecipado à opinião pública pelo FAROFAFÁ no dia 23 de julho. É uma escolha que contraria o desejo da própria Secretaria do Audiovisual, que trabalhava com a escolha da produtora baiana Vânia Lima para o cargo. Por extensão, é um nome alheio à própria ministra da Cultura, Margareth Menezes, de quem Joelma é colaboradora de estrita confiança. Os cineastas expressam, na carta, “grande preocupação” com a indicação de Patricia Barcelos pela falta de experiência e vivência acerca das complexidades do setor.

Expira neste mês de setembro o mandato de Tiago Mafra, indicado por Jair Bolsonaro em 2021 para ocupar parte do mandato de Debora Ivanov. Mafra compõe, com o diretor presidente Alex Braga e o diretor Vinicius Clay, o núcleo duro remanescente do centrão bolsonarista no colegiado que manda na agência – o outro diretor, Paulo Alcoforado, foi indicado já por Lula, mas representa apenas um quarto do poder de decisão, evidentemente neutralizado pela maioria. Essa matemática é tão verdade que, hoje, segunda-feira, 30, o diretor presidente Alex Braga acaba de nomear Vinicius Clay como diretor presidente substituto da Ancine, para seguir garantindo a primazia das decisões. Um nome forte para ocupar o lugar vago de Tiago Mafra teria mais chance de ajudar a reverter esse aparelhamento enxertado no sistema público de fomento do cinema.

“Nosso ecossistema envolve diversas etapas (criação, produção, distribuição e difusão de conteúdos) e enfrenta hoje imensos desafios que abarcam políticas audiovisuais tão complexas quanto a renovação e ampliação da Lei do Audiovisual (8.685/93), o retorno do mecanismo Arranjos Regionais, a regulação do VoD (crucial para o futuro da nossa atividade), a redefinição das linhas e dos critérios técnicos, mercadológicos e artísticos dos investimentos do FSA (Fundo Setorial do Audiovisual), bem como a harmonização das incontáveis novas demandas de descentralização da indústria audiovisual no âmbito nacional, de diversidade e de inclusão (através de ações afirmativas interseccionais de etnia, raça, gênero, idade, pessoas com deficiência) neste importante segmento da nossa economia, dentre outras pautas relevantes”, afirma o documento que os cineastas enviaram a Joelma Gonzaga.

Para tentar pacificar os ânimos da classe cinematográfica, contrariada com a escolha do nome de Patricia Barcelos à revelia do setor, o secretário Executivo do MinC, Márcio Tavares dos Santos, chegou a sugerir que os produtores e cineastas lutassem pela criação de uma quinta vaga na agência de cinema. Para essa nova vaga, o setor cinematográfico teria amplo poder de deliberação e indicação. Não foi muito bem recebida essa proposta.

A situação resulta de um curioso arranjo de poder. Ao assumir o MinC, Margareth Menezes tentou nomear como seu número dois o ativista Zulu Araújo, mas não obteve êxito. Teve que “agasalhar” um nome indicado pelo PT gaúcho, que lhe foi imposto por forças superiores da nova era Lula. Essa corrente se aferra a alguns conceitos neoliberais de cultura amplamente abraçados por gestões petistas anteriores que não vingaram, como as de Ana de Hollanda e Marta Suplicy. Patricia Barcelos integra, desde 2023, o Conselho Superior do Cinema (é suplente de Jackson Raymundo), assim como o Comitê Gestor do Fundo Setorial do Audiovisual (a partir de abril de 2024).

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