A cantora Wanderléa. Foto: divulgação
A cantora Wanderléa. Foto: divulgação

Mais conhecida como a eterna musa da Jovem Guarda, dona do apelido Ternurinha, a cantora Wanderléa acaba de lançar o álbum “Wanderléa Canta Choros” (Selo Sesc, 2023), disponível nas plataformas de streaming e também em CD.

"Wanderléa Canta Choros". Capa. Reprodução
“Wanderléa Canta Choros”. Capa. Reprodução

O álbum pode soar estranho aos que a conhecem só por sua presença no movimento da primeira geração do rock brasileiro, ao lado de pares como Roberto Carlos e Erasmo Carlos (1941-2022), mas no fundo “Wanderléa Canta Choros” é um reencontro: a cantora iniciou sua trajetória artística interpretando choros com luxuoso acompanhamento do Regional do Canhoto (1908-1987), um dos mais prestigiados da música instrumental brasileira, em programas de auditório da Rádio Mayrink Veiga.

Além das regravações, entre clássicos e choros menos conhecidos, ela ganhou homenagem de Douglas Germano e João Poleto, autores de “Um Chorinho Para Wandeca”. Parte do repertório de “Wanderléa Canta Choros” já havia sido gravada pela cantora Ademilde Fonseca (1921-2012), nome fundamental na formação musical de Wanderléa, como ela conta na entrevista que concedeu, por telefone, ao FAROFAFÁ e Rádio Timbira (a conversa foi veiculada no Balaio Cultural de hoje (20), às 13h, com Gisa Franco e este repórter e pode ser ouvida a seguir).

ENTREVISTA: WANDERLÉA

ZEMA RIBEIRO: Primeiro, parabéns pelo disco, ficou muito bonito, gostei muito do resultado.
WANDERLÉA: Obrigada, Zema! Que bom que você recebeu e que você ouviu.

ZR: Parte do repertório de “Wanderléa Canta Choros” já havia sido gravada por Ademilde Fonseca. Eu queria saber o lugar dela em tua formação musical.
W: Ah, total, total, sou fã de carteirinha, sempre fui, da Ademilde Fonseca, cheguei até fazer um programa com ela, no programa do [José] Maurício Machline, ele fez esse encontro meu com ela e ela sabia que eu tinha essa paixão por ela desde menina, eu vivia imitando aquela articulação rápida, aquilo me encantava, sempre me encantou.

ZR: É um repertório difícil de cantar, também, não é?
W: É difícil, por isso pra mim era divertido, era um desafio [risos]. Eu gostava muito, eu sempre gostei de cantar assim. Eu via muitas cantoras do rádio assim, eu gostava do gênero brejeiro, não se usa muito essa expressão, mas é o gênero brejeiro, são os baiões, essas coisas brasileiras, assim desde criancinha eu gostava.

ZR: Você ficou famosa como cantora e como musa da Jovem Guarda. E esse álbum novo marca um reencontro com um gênero musical com o qual você começou a trajetória artística em programas de rádio, de auditório, na Rádio Mayrink Veiga, enfim. Eu não sei se cabe falar em demora, porque tudo é um processo, mas o que levou você a realizar esse disco justamente agora?
W: A Jovem Guarda me pegou, eu muito jovem, muito menina, cantava vários gêneros, cantava boleros, cantava os chorinhos, já na Rádio Mayrink Veiga, cantei músicas em espanhol, e tudo, mas quando a Jovem Guarda [começa], eu ganhei um presente, participando de um concurso, a gravadora, CBS, na época era Columbia, a CBS me deu um contrato, infantil, como menina. Quando começou o rock, eles me procuraram, porque eles queriam uma cantora jovem, para fazer par com Roberto Carlos, não par para cantar assim em parceria, mas para ter uma dupla de música do Brasil, cantando rocks. Eu não era muito acostumada a cantar rock, porque meu gênero, o que eu cantava antes eram outras coisas, mas eu me diverti, porque tinha os passos, a dança do rock, que era bem, tinha que ter uma agilidade do corpo, né? Aquilo que você fazia, aquelas cambalhotas, aquelas palhaçadas todas, eu achava aquilo divertido e comecei a cantar rock com a Jovem Guarda, gravando na Columbia, e não imaginava que fosse um sucesso tão extraordinário assim, que me tomou conta da vida inteira. Até hoje eu sou conhecida como a Ternurinha, a musa da Jovem Guarda, e isso me encanta porque foi isso que me aproximou desse público maravilhoso brasileiro, que depois acostumou a minhas estripulias, depois de Jovem Guarda eu fiz vários discos diferentes com Egberto Gismonti, cantando Gonzaguinha (1945-1991), cantando [Luiz] Melodia (1951-2017), cantando Walter Franco (1945-2019), cantando Djavan, e um público mais adulto assim, me acompanhou nessa segunda parte e a grande massa do Brasil sempre me reverenciando como a musa da Jovem Guarda e eu acho isso um presente de Deus.

ZR: A Roberta Valente assina pesquisa de repertório. Como é que se deu essa seleção? Como foi chegar as 12 faixas do álbum?
W: Ela foi me mostrando várias, é porque eu não conhecia o repertório inteiro de choros, né? Ela foi me mostrando vários choros e eu achei melhor eu cantar as coisas que me batiam, que eu já tinha, porque a melodia já me era mais familiar. Aí chegamos a essa conclusão desse trabalho, mas tem muitos outros choros maravilhosos que eu passei a conhecer, que eu gostaria de fazer também.

ZR: De repente pode pintar um volume dois?
W: Não sei, Zema [risos]. Tá tudo tão surpresa. Eu não imaginei, porque no momento do Brasil, o que rola nas gravadoras, não existe mais gravadora, né? Mas o que rola é um outro gênero, né? Mas eu achei que seria uma contribuição para esses jovens brasileiros conhecerem mais o choro, porque é uma música autêntica brasileira, né? Raiz brasileira, né? Imaginei que fosse um disco como os outros que eu fiz, o “Vamos Que Eu Já Vou” [1977], que ficou assim para um público mais restrito, mas tá me causando assim uma alegria enorme porque tá muito comentado o disco, todo mundo que tá ouvindo tá adorando, tá nas plataformas, vai ter o disco físico nos shows, o Sesc fez um disco físico maravilhoso, a capa é arte da minha filha, Yasmin [Salim Califórnia], e dentro tem fotografias de todo o momento que nós gravamos, a participação do Hamilton de Holanda, com os arranjadores maravilhosos, o disco físico tá maravilhoso também, tá de muito bom.

ZR: Por falar em show: nesse sábado, dia 20, e no próximo dia 26 acontecem os shows de lançamento do álbum nos Sescs Pinheiros e Santos. O que o público pode esperar e quais as tuas expectativas em levar esse repertório ao palco ao vivo?
W: Os shows vão ser nos dias 20 e 21 no Pinheiros e dia 26 vai ser em Santos. A minha expectativa é de um encontro agradável, que o público possa conhecer, porque eu vou fazer o disco na íntegra. Normalmente, quando algum artista mostra um disco novo, faz duas, três faixas do disco e o resto é de músicas conhecidas. Eu resolvi apresentar o disco na íntegra. Então eu espero que eles gostem. Assim como eu estou gostando do disco, espero que os que forem, né? Já tá lotado, há uma expectativa muito agradável.

ZR: Alguma perspectiva de turnê por mais cidades?
W: Eu gostaria, mas é uma banda grande, é um regional grande, né? Nós vamos ter que trabalhar essa possibilidade, eu adoraria fazer.

ZR: Além de regravações de clássicos do choro e de choros menos conhecidos, Douglas Germano e João Poleto compuseram um choro em homenagem a você, especialmente para essa ocasião. Como é que você recebeu essa homenagem e como foi o diálogo com essa nova geração?
W: Foi o único inédito e eu achei assim uma letra maravilhosa e uma provocação no final que eles fizeram, né? O nome é “Um Chorinho Para Wandeca” e eles dizem assim: “você pensa aí que eu vou me despedir/ se aquieta/ acabei foi de começar”, e eu achei muito divertido, que começar nessa altura do campeonato, da minha carreira é muito maravilhoso, né? Eu achei muito divertido e muito boa a música e a letra.

ZR: Vamos falar um pouquinho sobre o time que está contigo no álbum e que estará com você no palco nos shows de lançamento, músicos, produção, enfim.
W: O Zé Barbeiro e o Alessandro Penezzi, nos violões [de sete e seis cordas, respectivamente], no bandolim é o Milton de Mori, no cavaquinho é o Fabrício [Rosil], na bateria é o Douglas [Alonso], também, na clarineta é o Alexandre Ribeiro, é uma turma grande, a Roberta Valente no pandeiro e na percussão, e um dos autores do “Um Chorinho Para Wandeca”, que é o João Poleto, vai estar fazendo flauta e sax. Na gravação nós tivemos a participação de grandes arranjadores, Cristóvão Bastos, tem instrumentos de cordas, um arranjo mais sofisticado, com ele, Cristóvão Bastos no piano, o Swami [Jr.] como arranjador também, o Toninho Ferragutti, o Ângelo Ursini, que é o meu genro que mora lá na Europa que mandou o arranjo do “Acariciando”, o Alexandre Ribeiro fez dois arranjos também, enfim, o João Poleto também fez arranjos do “Um Chorinho Para Wandeca”, só tem fera aí, é uma turma maravilhosa, uma turma muito, muito competente. Aliás, para tocar choro, tem que ser muito competente.

ZR: Eu acho que não tinha como dar errado, né? Choro, esse repertório maravilhoso, você cantando e esse timaço de músicos…
W: É, só ficou bonito, né? A alegria de fazer o disco no estúdio, maravilhoso, a direção artística de Luiz Nogueira, a direção musical do Mario Gil e a participação do meu marido Lalo Califórnia, meu companheiro de vida e de música na mixagem, a minha filha [Jadde Salim] produzindo o disco, abriu uma firma para fazer esse disco, tá toda feliz, que ela é artista também, mas gosta também de participar do acompanhamento do momento. É uma força muito grande da minha família, Yasmin, meu genro, meu marido, minhas duas filhas, os amigos todos juntos. Só podia dar certo, estou muito bem assessorada, dá muita confiança para apresentar esse trabalho

ZR: Que maravilha! Parabéns, mais uma vez. Wanderléa, eu quero agradecer a gentileza de você ter atendido a nossa reportagem e te deixar à vontade para reforçar o convite ao ouvinte da Rádio Timbira para ouvir “Wanderléa Canta Choros” e descobrir mais essa faceta da grande cantora que você é.
W: Muito obrigada, muito obrigada, Zema. Te agradeço muito, muito bom estar em contato com os ouvintes todos da rádio, com os amigos todos, o pessoal do Farofafá [risos], um abraço muito grande, muito cheio de afeto e de alegria, porque a vida da gente é estar sempre realizando sonhos, e eu tô realizando mais esse sonho, sonho de voltar à minha infância e de fazer os chorinhos que eu tanto desejei fazer. Muito obrigada a você. Um grande beijo!

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Ouça “Wanderléa Canta Choros”:

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