O núcleo familiar que protagoniza
O núcleo familiar que protagoniza "As histórias de meu pai". Foto: Caroline Bottaro. Divulgação

Sob o eufemismo fake news, a mentira tem sido pauta central da vida pública brasileira ao longo dos anos mais recentes – do noticiário às conversas de botequim, passando, obviamente, pelas incalculáveis mensagens trocadas diuturnamente em aplicativos.

“As histórias de meu pai”, cuja trama se passa, em sua grande maioria, na virada de 1961 para 1962, mergulha fundo nas conturbadas relações familiares do pequeno Émile (Jules Lefebvre), que acredita que seu pai é um herói – porque é assim que André Choulans (Benoît Poelvoorde) se apresenta ao menino –, e entre eles e Denise (Audrey Dana), que come o pão que o diabo amassou na mão do marido.

Concentrado neste núcleo familiar, o filme de Jean-Pierre Améris (com roteiro dele e Murielle Magellan), baseado no romance de Sorj Chalandon, expõe a violência de um homem que humilha a esposa e bate no filho, sua mitomania e paranoia.

O talento de Émile para o desenho salta aos olhos, apesar da pouca idade, chamando a atenção de professoras, da mãe e dos avós – com quem o pai o proíbe de falar, tamanho o seu radicalismo. André é uma figura caricata, que tem uma arma em casa e, paraquedista aposentado (entre outras profissões, reais ou inventadas), adora contar histórias do tempo da guerra, sem que a inocência do filho permita filtrar o que é ou não verdade.

Embora o diretor ofereça algo “engraçado” ao espectador, o filme mostra o mergulho vertiginoso de um homem em um enredo de mentiras que, através da autoridade que o mesmo exerce pelo abuso psicológico, acaba contaminando o próprio filho, que, ainda incapaz de discernir entre o certo e o errado, quer apenas estar à altura das histórias, missões e confiança do pai.

A mando do genitor, por exemplo, ele sai escrevendo pelas paredes de Lyon a sigla OAS (Organisation Armée Secrète, a Organização Armada Secreta), organização paramilitar que se utilizava de métodos terroristas para garantir a presença francesa na Argélia durante a guerra pela independência argelina. As coisas acabam saindo do controle e o menino se vê envolto em uma trama para assassinar o então presidente francês, o controverso general Charles de Gaulle (1890-1970).

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Veja o trailer:

Serviço: “As histórias de meu pai” (“Profession du père”, drama/comédia, França, 2020, 105 minutos). Estreia hoje (9) em salas de cinema de São Paulo, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Brasília, Florianópolis e Aracaju, com distribuição da Pandora Filmes.

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