Cena de
Cena de "Holocausto Brasileiro" - Foto Shai Andrade

O Festival Internacional de Artes Cênicas da Bahia (Fiac-Bahia) recebeu, para esta 12ª edição, mais de mil inscrições de trabalhos. Um recorde. Com financiamento do governo da Bahia, o evento se insurge como mais uma barricada diante do desmonte acelerado da cultura. A programação, nacional e internacional, contará com 11 espetáculos de teatro, dança, circo e performance, três oficinas gratuitas para crianças, jovens e adultos, duas leituras dramáticas, compartilhamento de residências, festa e lançamento de livros. Haverá ainda, paralelamente, a realização de um seminário sobre curadoria e mediação em artes cênicas.

Grupos locais de Salvador, Itacaré e Vitória da Conquista têm a oportunidade de ampliar seus intercâmbios com a presença de companhias e artistas de São Paulo, Brasília, Rio, França, Inglaterra e Alemanha. Nesta edição, haverá o lançamento da publicação e leitura dramática da obra Queimaduras do dramaturgo francês, Hubert Colas. Essa atividade faz parte de um projeto A Nova Dramaturgia Francesa e Brasileira. Oito textos de autores franceses contemporâneos serão traduzidos por diretores-autores brasileiros, publicados pela Editora Cobogó e encenados dentro de eventos do Núcleo dos Festivais Internacionais de Artes Cênicas do Brasil.

No ano que vem, autores brasileiros terão seus trabalhos traduzidos e publicados na França e encenados no Théâtre National de La Colline em Paris, no Festival Actoral em Marselha e na Comédie de Saint-Étienne. Essa lista é composta por Amores surdos, de Grace Passô; Jacy, de Henrique Fontes, Pablo Capistrano e Iracema Macedo; Caranguejo Overdrive, de Pedro Kosovski; Maré e Vida, de Márcio Abreu; Mateus 10, de Alexandre Dal Farra; BR-Trans, de Silvero Pereira; Adaptação, de Gabriel F.; e Ramal 340, de Jezebel De Carli.

Destaques do Fiac-Bahia

Nos dias 24 e 25, será apresentada a montagem Holocausto Brasileiro – Prontuário da Razão Degenerada. Idealizada por Gabriela Rocha e com texto e direção de Diego Araúja, é uma peça de teatro documentário que analisa por que e como os manicômios e centros psiquiátricos eram constituídos por mais de 70% de negros e não-brancos, como aconteceu no Hospital Colônia de Barbacena (MG). A produtora cultural Gabriela, da Giro Planejamento Cultural, já produziu o monólogo carioca Estamira – Beira do Mundo, em 2012, enquanto o artista Diego desenvolve pesquisas ligadas à produção de arte feita por artistas negras(os), sobretudo aquelas relacionadas às questões afro-diaspóricas.

Da Universidade Federal da Bahia, foi fundada em 1981 a Cia de Teatro. Fruto da mobilização de artistas negros engajados na universidade, o grupo é composto por professores, técnicos, alunos estagiários e artistas convidados. O espetáculo Pele Negra, Máscaras Brancas, que estreou em março deste ano, se alicerça na distopia sob o argumento de que Frantz Fanon teria o direito de defender sua tese de doutorado. O psiquiatra e filósofo Fanon é um franco-martiniquense que discutia a descolonização na perspectiva do negro. A apresentação será no dia 25.

No último dia do Fiac-Bahia, será realizada a leitura dramática de Afrokultur – O espaço entre ontem e amanhã, pela autora Natasha A. Kelly. Britânica, criada na Alemanha, ela também trabalha com o tema da descolonização. O livro homônimo recorre também à distopia para juntar três ativistas antirracistas, W.E.B. Du Bois, Audre Lorde e May Ayim, que provocam a reflexão, senão ironia, de propor que a Alemanha seria o espaço de uma ação política para a diáspora africana. No elenco, Arlon Souza, Ivanete Sampaio, Jess Oliveira, Mônica Santana e Sanara Rocha.

12º Fiac-Bahia. Em Salvador, Bahia, até 27 de outubro. Mais informações em fiacbahia.com.br.

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