terça-feira, maio 7, 2024

Encontrados na tradução

"A gente fala a língua da natureza do mato. Foi sabiá que ensinou pra gente." O sabiá canta na voz de Morzaniel Iramari Yanomami quando ele explica seu jeito quebrado de falar, que traz uma sonoridade nova aos ouvidos da plateia do Centro Educacional Unificado (CEU) Pera Marmelo, situado no Jardim Santa Lucrécia, no distrito do Jaraguá, extremo norte da capital do...

Mas existe cinema de índio?

A selva de pedra volta a ser floresta por alguns dias, de 7 a 12 de outubro, quando desembarcam em São Paulo 53 produções indígenas realizadas com o olho mecânico a que chamamos câmera cinematográfica. Orquestrada pelas mãos de música do líder krenak Ailton Krenak, a Aldeia SP - Bienal de Cinema Indígena aporta na "maior cidade" da América Latina, ameríndia...

A fronteira invisível

Subindo o rio Muru e o rio Humaitá por três dias (no verão são cinco dias, porque os rios estão secos), logo após percorrer 400 km desde Rio Branco até Tarauacá, no noroeste do Acre, chega-se à Terra Indígena Kaxinawá. Ali, há 33 anos, nasceu, formou-se e vive o cineasta Nilson Tuwe Huni Kuin, filho de um cacique tradicional...

O que assobiava Y’oi quando pescou o povo Tikuna? (*)

Meu nome é Djuena, "a onça que pula no rio". Sou filha do Alto Solimões, nasci na aldeia Umariaçu, na fronteira do Brasil com o Peru e a Colômbia.Vim com os meus pais para a capital ainda pequena, vim para morar em uma comunidade Tikuna chamada Wotchimaucu, na periferia de Manaus, no Amazonas. Aqui foi onde cresci.Tenho 31 anos,...

Os índios que abalaram Brasília

Vincent Carelli mora em Olinda há 16 anos. É um dos mais atuantes documentaristas brasileiros - na verdade, é francês: nasceu em Paris, em 1953, filho de um artista plástico brasileiro e uma professora francesa, e chegou ao Brasil com 5 anos. Seu novo filme, Martírio, exibido na semana passada no Festival de Brasília, virou o epicentro de um grande...

A mãe d’água levou

Estamos no meio do rio São Francisco, olhando para o horizonte.Estamos, mais precisamente no município de Cabrobó, em Pernambuco, na Ilha da Assunção, uma reserva de indígenas da etnia truká com 5.000 habitantes.João Amaro é um pescador truká que convive com o Velho Chico, com o lixo trazido às margens da ilha pelas águas e com a dificuldade de alimentar a...

Para nortear a festa

Elza Soares quis gritar um "fora Temer" pela fresta da festa de abertura das Olimpíadas do Rio de Janeiro? "Garota de Ipanema", "Aquarela do Brasil" e "País Tropical" são cartões postais sonoros inescapáveis para uma festa imodesta como esta? Anitta tem o direito de representar a música popular brasileira? O funk carioca e o tecnobrega paraense mereciam estar ali no epicentro do Maracanã...

O idioma da fresta, Olimpíadas, Rio de Janeiro,

Em poucos dias de Olimpíadas no Rio de Janeiro, a mídia internacional já exibe perplexidade e incômodo frente ao comportamento das torcedoras brasileiras nas arenas de competição. É o que expõe na manhã da primeira segunda-feira olímpica, por exemplo, uma reportagem da filial local da BBC (British Broadcast Corporation, a TV pública/estatal inglesa, não uma Rede Globo, mas uma TV...

Elza Soares contra os homens

Os versos são de Vinicius de Moraes, o poetinha ex-diplomata que nunca chegou a ser o mais progressista dos brasileiros. A música é de Baden Powell, que no final da vida extirpou a palavra "saravá" de suas canções e substituiu os antigos cantos de candomblé pela religião evangélica. Transtornado por Elza Soares, o "Canto de Ossanha" (1966) de Baden e Vinicius constituiu-se, para boas entendedoras,...

A festa joanina

 "Ô, Juninho! Cê é surdo?" Cambaleante, o bebum grita com insistência, tentando chamar a atenção do artista que está no alto do palco armado na praça central da cidade. Podia ser qualquer rua e praça de qualquer cidade e país. Mas nestes quatro dias juninos estamos vivendo em Joanópolis, o pequeno município paulista que gosta de dizer que nasceu de...