Eme de Muda: a noite mais linda do mundo

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O cantor e compositor Odair José. Foto: Bernardo Guerreiro. Divulgação
O cantor e compositor Odair José. Foto: Bernardo Guerreiro. Divulgação

Um festival de música que vem sendo gestado desde 2018 mas só agora sai do campo das ideias e da burocracia dos papeis para ganhar um palco. Nada de anormal para quem conhece a realidade e os bastidores de produções culturais Brasil afora, com as drummondianas pedras do meio do caminho atualizadas para um governo de extrema-direita e uma pandemia de covid-19.

A primeira edição do Eme de Muda acontece neste domingo (27), a partir das 16h, no Audio (Av. Francisco Matarazzo, 694, Água Branca, São Paulo/SP). “O nome do evento tem a ver com o nome da produtora Eme Cultural e também porque a gente vai distribuir as mudas de árvores. Desde o começo era assim, a gente ia plantar mudas de árvores e distribuí-las, mas como mudou de lugar, a gente só vai fazer a cenografia do local com as mudas de plantas e vamos distribuir essas mudas. A gente queria linkar algo com as mudas, quem deu esse nome foi o [músico] Rodrigo Brandão, o nome veio daí”, explica o produtor Raphael Damiati, que fundou a Eme Cultural em 2015.

O festival tem entrada franca, com a recomendação de doação de um quilo de alimento não-perecível. A arrecadação será destinada à ONG SP Invisível, que atua em projetos sociais voltados a pessoas em situação de vulnerabilidade.

No line-up Dj Makô, Marina Peralta (com participações especiais de Bia Ferreira e Dow Raiz), Odair José (com Otto como convidado), Síntese e Marechal – o show dos dois últimos encerra a turnê “10 anos sem cortesia”.

“A seleção [dos convidados] se deu através dos artistas que trabalham hoje dentro da Eme Cultural, que tem um elo com a produtora, sempre focando nessa diversidade musical e cultural que a gente traz. A Marina Peralta com a vertente mais do reggae, sendo uma representante do movimento das minas, o Odair José, que já é um cara bem mais velho, que já vem da MPB com bastante influência do rock, uma lenda da música brasileira, e o Síntese e Marechal, com um estilo bem único do rap. Todos eles são artistas que trabalham com a gente há algum tempo, que a gente tem um elo bem forte com eles, tem uma ligação e que de alguma forma, desde 2018, a gente vem preparando juntos, dialogando com eles, trocando com eles, contando do festival, contando das mudanças que foram acontecendo ao longo do tempo, até chegar nesse formato final, para preencher e conseguir também colocar no palco, dar o devido lugar para as pessoas que merecem. São artistas que merecem estar num palco desses, que merecem ter essa atenção e não é sempre que eles estão, então também é um jeito de a gente conseguir colocá-los nos devidos lugares”, continua Damiati.

O cantor e compositor Otto. Foto: Rui Mendes. Divulgação
O cantor e compositor Otto. Foto: Rui Mendes. Divulgação

Há 10 anos, em “The moon 1111”, Otto regravou “A noite mais linda do mundo”, clássico de Odair José, quase sempre pejorativamente rotulado como brega, num exercício constante do pernambucano, que inclui, ao longo da carreira, regravações de nomes como Sérgio Bittencourt, Ronnie Von e Roberta Miranda.

“Gravar “A noite mais linda do mundo” pra mim foi um prazer, foi uma honra, poder homenagear meu ídolo. Além do mais, todas as regravações que eu fiz foram de grandes clássicos da música popular brasileira. Eu tenho o maior orgulho disso, de ser um cara que resgata, que busca lá nas memórias, grandes músicas para regravar. São grandes clássicos. Odair é um cara importantíssimo para o Brasil, importantíssimo para mim. Estar com ele nesse palco é muito importante. Eu estou muito feliz com isso. Eu acho que quem acha que é brega, brega é outra coisa pra mim, quer dizer, é diferente desses clássicos. Odair é um cronista, é um cara que tem uma personalidade muito grande nas suas músicas, nas suas letras, nas composições. O cara já foi produzido por Raul [Seixas, produziu e tocou guitarra em todas as faixas do primeiro disco de Odair José, em 1970], Raul é o nosso rock, letra, pra você ver o tamanho e a dimensão de quem é Odair José pra mim e pra música popular brasileira. Sou fã, todo mundo é fã de Odair, e estar junto com ele, pra mim, é sempre uma bênção. Sem falar o homem, o cidadão brasileiro que ele é, sempre nas lutas políticas, sempre nas lutas democráticas, é um cara que pediu para parar de tomar a pílula [risos], é muito moderno. É o cara! Odair é Odair! Além de amigo, que ele é, é ídolo”, derrama-se Otto.

“O interesse dessa nova geração, seja de artistas ou do público, pelo meu repertório, me ajudou, e muito, inclusive pra que eu tivesse um olhar mais positivo sobre as minhas canções e a relevância delas na memória cultural do povo brasileiro”, reflete o goiano, retribuindo a gentileza.

“Vai ser um privilégio me encontrar outra vez com o meu querido Otto no palco. Evidentemente que temos algo combinado, mas o que o público pode esperar do nosso encontro no festival “Eme de Muda” será muita energia e vontade de criar um momento inesquecível. Eu mesmo estou curioso com o que pode acontecer, mas tenho certeza que vai ser demais!”, revela Odair José, citando suas próprias expectativas. Só faltou arrematar com o refrão de seu hit regravado por Otto, que certamente não faltará ao repertório: “vamos fazer dessa noite/ a noite mais linda do mundo”.

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