A carne e o osso das canções

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A poeta Angélica Freitas e o cantor e compositor Vitor Ramil. Foto: acervo pessoal
A poeta Angélica Freitas e o cantor e compositor Vitor Ramil. Foto: acervo pessoal

Em seu disco anterior, “Campos neutrais” (2017), Vitor Ramil apresentou “Stradivarius”, um poema de Angélica Freitas musicado por ele. Ambos pelotenses, quase vizinhos durante muito tempo, os dois só vieram a se conhecer pessoalmente depois que o editor Augusto Massi, que publicava os dois pela saudosa Cosac&Naify, presenteou o cantor e compositor com o livro de estreia da poeta, “Rilke shake” (2007), em 2009.

Ela já o admirava, desde que ouviu o disco “Tango” (1987), mas a timidez acabou adiando os planos de encontrar o ídolo – a colaboração entre os dois, que só viria a público há cinco anos, no entanto, teve início bem antes. Assim que ele leu o livro que ganhou de presente, começou o exercício de composição musical sobre os poemas da conterrânea.

Para muito além da cansativa pergunta “letra de música é poesia?” – ou mesmo, neste caso, a possibilidade de sua inversão –, o mergulho de Vitor Ramil na obra de Angélica Freitas – e o dos ouvintes nessa parceria – é profundo, leve, feminino, natural e bem-humorado.

Avenida Angélica. Capa. Reprodução
Avenida Angélica. Capa. Reprodução

Vitor Ramil acaba de lançar “Avenida Angélica” (Satolep Music, 2022), álbum cujo repertório é inteiramente dedicado a poemas de Angélica Freitas musicados por ele. Era para ser um espetáculo de curta temporada, mas as coisas tomaram outros contornos com a pandemia de covid-19, o isolamento social decorrente da crise sanitária e seu prolongamento indefinido devido, em grande parte, à irresponsabilidade e o pouco caso do governo neofascista de Jair Bolsonaro, que preferiu zombar de quem ocupava UTIs e apostar em medicamentos ineficazes a comprar vacinas em tempo hábil.

Diante do que era possível, Vitor Ramil optou por gravar um disco ao vivo, no formato voz e violão, no canteiro das obras de restauro do Theatro Sete de Abril, em sua Pelotas natal, o terceiro mais antigo do Brasil, sem plateia e em condições adversas – não havia, por exemplo, como controlar temperatura e umidade durante as gravações, que chegaram a ser adiadas algumas vezes.

O resultado é algo próximo da carne das canções e do esqueleto dos poemas: as músicas foram registradas praticamente como foram compostas, com o artista sozinho com sua voz e seu instrumento e raras foram as vezes em que Vitor precisou mexer nos poemas de Angélica, que já pareciam ter sido escritos para virarem letra de música, embora ela só tenha passado a pensar nisso depois dessa experiência.

No palco, uma fila de poltronas, atrás da ocupada por Vitor Ramil, simula um ônibus, o volante o violão, como se estivéssemos – e afinal de contas, não estamos? – a passear pela “Avenida Angélica”. Em “Mulher de malandro”, ele senta-se num dos bancos de trás para cantar a canção quase à capela, apenas ele mesmo percutindo o banco, acompanhando-se, como um bom aluno da turma do fundão.

O fecho do espetáculo é comovente: se ao longo de quase uma hora de apresentação, não ouvimos aplausos, por motivos já sabidos, após os passos de Vitor Ramil descendo do palco, ele se junta a 22 pessoas (toda a equipe envolvida na produção de “Avenida Angélica”) e todos aplaudem de pé. O gesto do artista nada tem de narcísico, mas fecha em grande estilo um registro que, além de ser um documento de uma época de privações, também marca mais uma parceria frutífera de uma música popular que já nos deu duplas profícuas como Roberto Carlos e Erasmo Carlos, Tom Jobim e Vinícius de Moraes, Raul Seixas e Paulo Coelho, Rita Lee e Roberto de Carvalho, Milton Nascimento e Fernando Brant ou Gilberto Gil e João Donato, para citar apenas umas poucas.

Sábado passado (14), Gisa Franco e este repórter conversamos com Angélica Freitas e Vitor Ramil no Balaio Cultural da Rádio Timbira AM – na data entrevistamos também o cantor e compositor pernambucano Otto. Leia a seguir a íntegra da entrevista (a íntegra das entrevistas está disponível no vídeo ao final do texto).

Vitor Ramil em "Avenida Angélica". Frame. Reprodução
Vitor Ramil em “Avenida Angélica”. Frame. Reprodução

ENTREVISTA: ANGÉLICA FREITAS E VITOR RAMIL

GISA FRANCO – Boa tarde, Angélica! Boa tarde, Vitor! Sejam muito bem vindos ao Balaio Cultural. É um grande prazer ter vocês aqui com a gente.
VITOR RAMIL
– Boa tarde, Gisa! Boa tarde, Zema! Prazer estar com vocês aqui na Rádio Timbira.
ANGÉLICA FREITAS – Olá! É um prazer participar do Balaio Cultural. Muito obrigada pelo convite.

ZEMA RIBEIRO – Vocês são pelotenses e foram quase vizinhos durante muito tempo, mas só se conheceram a partir do primeiro livro dela, vocês eram editados pela Cosac&Naify. O que vocês lembram do primeiro contato, até se conhecerem pessoalmente?
VR
– Eu conheci a poesia da Angélica justamente na Cosac&Naify, ganhei o livro dela do Augusto Massi, o nosso editor na época, e eu tava lá pro lançamento do meu livro “Satolep” [de 2008], aí eu fui pro hotel e não demorei a ler o livro. E a minha primeira impressão foi a que se manteve até hoje, que a poesia dela tinha qualidades da boa poesia e da boa letra de música. Da poesia, por que a poesia tem aquela característica que a gente lê um poema, se quiser a gente lê de novo, uma frase, fica, se demora numa palavra, se o poema é complexo a gente volta ao começo e tal, e a canção, não; a canção tem que ter um poder de comunicação meio que imediato, porque a canção está tocando, ela está passando, a gente está ouvindo, sentindo, compreendendo, então ela tem que ter essa característica de uma comunicabilidade marcante, certo? E a poesia da Angélica eu logo vi que tinha essas duas coisas, então evidentemente gostei dos poemas, adorei o livro e já fiquei pensando em canções, claro.
AF – Sim, eu sou pelotense, como o Vitor Ramil, e durante o tempo em que eu morei em Pelotas, nós sempre fomos vizinhos, coisa de duas quadras de distância, no máximo. E eu sempre fui muito fã do Vitor Ramil desde a minha adolescência, que foi quando eu ouvi o disco “Tango” pela primeira vez. Sou super fã e por isso mesmo nunca tive coragem de abordar o Vitor Ramil na rua. Quando eu lancei o meu primeiro livro, que foi em 2007, eu até pensei que deveria colocar o livro num envelope e por na porta da casa do Vitor Ramil, mas eu nunca fiz isso também por pudor. Só que o nosso editor, na época, o Augusto Massi, ele resolveu essa questão pra nós. Ele deu ao Vitor o meu primeiro livro, que se chama “Rilke shake”, saiu em 2007 pela extinta Cosac&Naify. E desde que o Vitor ganhou esse livro do Augusto a gente está em contato. O Vitor me escreveu pra contar que estava lendo o livro e que já tinha começado a musicar alguns desses poemas. Eu me lembro como se fosse ontem, quando eu recebi esse e-mail do Vitor, eu fiquei tão nervosa que eu precisei colocar o meu casaco e sair, andar pelas ruas da cidade, sem direção, pra me acalmar um pouco.

GF – Como é o processo de colaboração criativa de vocês? Os poemas de Angélica parecem já vir prontos para virarem letra de música; é fácil criar melodias para os poemas, Vitor? Digo, no sentido de ajustes que alguns poemas poderiam pedir para se encaixar na métrica. Quais os maiores desafios, as dores e as delícias desse exercício?
VR
– Eu já musiquei muitos poemas de muitos autores diferentes, em mais de um idioma, e claro, a gente poucas vezes tem a sorte de estar próximo do poeta, que é o que me aconteceu com a Angélica, agora, porque quando ela voltou pro Brasil e voltou mais especificamente pra Pelotas e pra morar a uma quadra da minha casa, a gente se tornou vizinhos, amigos, colaboradores diretos, foi muito legal. Às vezes eu estava trabalhando num poema, e ela vinha, eu chamava pra escutar, alguma coisa assim, às vezes no meio do processo, ou no fim do poema, quando estava pronto, e a certa altura aconteceu de, eu não me lembro qual das canções, talvez tenha sido “Stradivarius”, que a canção, a música vinha se construindo de uma forma muito forte e tinha lá uma ou duas frases do poema que eram maiores que o tempo musical daquela frase. Aí propus pra Angélica, quem sabe aqui a gente corta essa palavra, adaptamos a frase e tal. E ela desde o começo se mostrou muito aberta, muito desencanada nesse sentido, gostando justamente dessa segunda etapa, dessa espécie de transformação dos poemas dela em letras de música. Eu acho que a Angélica tem um feeling incrível pra canção, pra letra de música, né? Isso ajudou muito, então a gente foi, depois, claro, eu fui, com essa liberdade que ela foi me dando, eu fui muitas vezes fazendo algumas coisas sozinho, sempre submetendo a ela, a gente às vezes discutia uma palavra ou outra. Então, a colaboração com ela é meio única nesse sentido, porque o compositor ganhou um pouco mais de liberdade em relação à música. Mas tem muitos poemas, talvez a maioria deles, que eu fiz exatamente como estava escrito, que é como eu faço sempre quando musico poesia.
AF – Os poemas já estavam prontos e o Vitor os musicou. Na verdade, a minha participação se resumiu a responder a algumas perguntas do Vitor, porque ele precisou fazer algumas modificações pros poemas caberem na música, cortar, principalmente cortar algumas coisas, e ele sempre me perguntou se eu concordava com as mudanças. E eu achei as mudanças muito boas, de fato, acho que concordei com todas as mudanças que o Vitor propôs e achei que elas foram perfeitas. E acho que até o Vitor começar a musicar os meus poemas eu não tinha pensado que eles poderiam se tornar letras de música. Só que depois disso, sim, já escrevi alguns poemas pensando, esse poema poderia ser musicado, esse poema poderia virar uma música, sim.

ZR – Angélica, você está morando na Alemanha. Em que projetos tem trabalhado? Traduções, livro novo? O que pode antecipar aos leitores?
AF
– Sim, eu moro em Berlim, na Alemanha. Em julho vai fazer dois anos que eu estou aqui. Eu vim pra cá com uma bolsa do Senado alemão, na verdade é uma bolsa dum órgão chamado DAAD [o Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico no Brasil, na sigla em alemão], que é bem conhecido por quem é do meio acadêmico, porque é um intercâmbio acadêmico mesmo, mas eles têm uma residência para artistas, no caso de literatura é uma residência de 12 meses, então eu vim pra cá em julho de 2020 e fiquei trabalhando em mais de um projeto literário: um de um livro de prosa autobiográfica e o segundo, de um livro de poemas. Continuo trabalhando nesses dois projetos, embora a minha residência já tenha terminado. Eu estou em Berlim de forma independente e trabalhando nos meus projetos de literatura e também melhorando os meus conhecimentos da língua alemã, porque eu pretendo traduzir literatura alemã, literatura em língua alemã também.

GF – Houve algumas mudanças de planos na realização do álbum e do espetáculo em vídeo “Avenida Angélica”, cujo título é tirado de um poema de Angélica Freitas em que se menciona aventura. Vamos falar um pouco do que foi essa aventura de fazer esse registro em meio a uma pandemia e às obras de restauro do Theatro Sete de Abril.
VR
– Houve mudanças de planos sim, eu já digo que felizmente, porque originalmente o “Avenida Angélica” era só um espetáculo. Eu estava já me preparando para fazer um álbum, ensaiando com músicos e tudo mais, e a pandemia me fez registrar o espetáculo. Então isso foi ótimo, foi uma coisa que inicialmente me deixou muito inquieto, com relação ao resultado, mas que depois se mostrou de uma felicidade incrível. Lá no começo eu convidei a Isabel Ramil, minha filha, pra gente montar esse espetáculo. Ela se encarregaria da parte de vídeo, de cenários e luz, e a gente chegou a apresentar apenas em Porto Alegre e São Paulo, seria também uma maneira de eu me aprofundar nas canções, compor novas canções, seria parte do processo, quase como que a minha colaboração com a Angélica tivesse se estendendo pra uma segunda etapa. Quando veio a pandemia a gente não podia apresentar shows e eu também não podia entrar num estúdio com músicos para gravar. E nós tínhamos um projeto que tinha ficado pendente com a Natura Musical, de realizar três concertos e eu tive a ideia de a gente então realizar, em vez de fazer os três concertos, uma gravação no Theatro Sete de Abril, em Pelotas, que é o terceiro teatro mais antigo do Brasil. Estava em reforma, e pensei em fazer lá, no canteiro de obras, enfim, seria uma espécie quase que de documento desse momento das nossas vidas, durante a pandemia, nossa equipe toda estava sem trabalhar, então todo mundo poderia trabalhar, ganhar o seu dinheiro naquele momento, mas claro, a gente sempre teve muitas preocupações, tanto que a gente teve que adiar quatro vezes as gravações em função dos agravamentos da pandemia que iam ocorrendo, mas, ao final, deu tudo certo, preservou-se o espírito do espetáculo, eu acabei registrando as canções praticamente como elas foram compostas, de voz e violão, sabe? Acho que no final foi uma maravilha.

ZR – O lançamento de “Avenida Angélica” aconteceu em uma live com vocês dois, a que assisti. A pandemia ainda não acabou, infelizmente. Quais os planos de circular com shows?
VR
– Pois é, não há muitos planos, na verdade. Eu estou desde o começo da pandemia sem fazer show. Isso, pra nós músicos, artistas, em geral, foi muito pesado. E também, claro, eu gravei um trabalho novo, estou começando um trabalho novo, então as coisas vão ser organizadas em função do lançamento do novo trabalho. Eu tenho programado no começo de junho, Porto Alegre, depois julho, em São Paulo, e vai começar, vai começar despacito, como se diz, devagar e sempre.

GF – Vitor, no texto que você escreveu para divulgar o novo trabalho uma pergunta me chamou a atenção: “aliás, esclareçam a este pequeno agricultor: ainda existem álbuns no agronegócio da música?” “Avenida Angélica” está disponível nas plataformas de streaming mas sai também em formato físico. Vocês, enquanto consumidores de música, têm preferência por formato?
VR
– Pois é, é bem isso. Eu me sinto um pequeno agricultor no agronegócio da música. A música, o mercado da música, por um lado ele parece muito acessível, tu toca num botão do teu celular, está ali a tua música, a música que tu quiser, de qualquer lugar do mundo; por outro lado ela está em algum lugar que a gente não sabe o quê que é, está muito distante, muito distante dos compositores, especialmente dos novos compositores, gente que está começando agora, enfim, está bastante difícil, eu acho. E eu continuo não só fazendo como ouvindo música à moda antiga, vamos dizer assim. Eu me criei ouvindo LPs, depois CDs, mas principalmente o LP na minha infância, adolescência. E aquele tempo era assim, a gente ganhava um LP, não éramos uma família de grana, então a gente a cada tanto comprava um LP e aí ouvia aquele LP por muito tempo, era aquele disco que eu tinha. Isso fazia a gente se aprofundar em detalhes, arranjos, se familiarizar intimamente com as músicas, com o elenco dos discos, conhecer músicos, saber um monte de coisas, os LPs traziam essas informações todas, que hoje em dia as pessoas não têm mais, nem sabem quem está tocando nas faixas. Sem falar que hoje em dia na música pop a gente olha os compositores, tem, sei lá, oito, 10 compositores numa mesma música, então essa coisa autoral, essa coisa mais próxima, essa arte como expressão autoral mesmo, do compositor, ela de certa forma está desaparecendo, em função da necessidade de resultado, de eficácia dessa música. Eu não tenho preferência por formato nenhum, na verdade eu ouço pouca música, se eu tivesse, se meu equipamento de LP estivesse funcionando bem, está estragado e eu não tenho tido mais como arrumar, se estivesse funcionando eu estaria ouvindo basicamente meus LPs, até por que eu tenho muitos, eu depois ganhei uma discoteca praticamente, e não pude ouvir grande parte deles. É isso, se eu pudesse ouviria LP; CD eu ouço eventualmente, no carro. Na verdade eu ouço muito pouca música, minha rotina mais é de leitura mesmo.
AF – Olha, eu tenho sim preferência por formato, mas eu geralmente escuto as músicas individualmente na internet, seja no youtube ou no spotify, que é um aplicativo do qual eu não gosto, porque esse aplicativo não paga bem aos artistas, quando paga não paga bem, mas eu ainda prefiro ouvir um disco na ordem em que ele foi pensado pelo ou pela artista. Então eu preferiria ouvir um CD ou um LP, um vinil, mas como eu também gosto muito de ouvir música enquanto eu caminho, eu ouço música no celular. Mas eu acredito, sim, num álbum, num trabalho que foi pensado para ouvir numa determinada ordem. Gosto dessa ideia e gosto da ideia do lado b também, com aquelas músicas que não são tanto para tocar no rádio, mas que despertam muito a criatividade de quem ouve.

ZR – Um verso que chama a atenção é “a verdade é que quase tudo eu aprendi ouvindo as canções do rádio”. Eu queria saber qual o papel do rádio na formação de vocês. E já que citei um verso de “RC”, que ganhou uma melodia a la Roberto Carlos, qual a importância de Roberto Carlos particularmente na formação de vocês, seja musical, seja afetiva?
VR
– Essa frase, “a verdade é que quase tudo eu aprendi ouvindo as canções do rádio”, é uma verdade pra Angélica, não é uma verdade pra mim. Por que ela ouvia muito rádio, muito rádio AM, eu quase nunca ouvia rádio, ouvi pouquíssima rádio. Foi mais, como eu falei antes, de ouvir LP, me trancava no meu quarto e ficava ouvindo discos e tal. Isso também, por outro lado, fez perceber a música pelo lado dos compositores mais difíceis, vamos dizer, por que eu sabia que Egberto Gismonti, Milton Nascimento, Astor Piazzolla, coisas que eu gostava de ouvir, bem jovem, nunca estavam no rádio, então, pra mim, o rádio sempre era associado com a música mais comercial, e eu não ouvia e eu achava que eu nunca faria música, que a música que eu faria nunca tocaria no rádio, por exemplo. Claro que depois a rádio mudou muito, com o advento da rádio FM, foi mudando, outros formatos de programa foram surgindo na própria rádio AM. Mas na minha época de guri eu tinha essa impressão. E eu lamento muito não ter escutado mais música de rádio, principalmente de rádio AM. O Roberto Carlos, por exemplo, sim, tocava muito, evidentemente, na rádio, mas então, eu ouvia pouco, mas claro, o Roberto Carlos é uma figura assim, uma celebridade desde a minha infância. Então quando eu era bem criança, eu acho que ainda tinha Jovem Guarda, eu me lembro daquelas coisas todas, as fases que ele foi passando, a gente também depois passou a vê-lo na televisão. Eu digo depois por que no começo nem tinha televisão. Televisão quando começou eu já era crescidinho, a tevê em preto e branco, a gente começou a ver, se via mais também música, a tevê veiculava mais música. A lembrança que eu tenho mais remota do Roberto Carlos, antiga, é de que um dia ele passou pela minha cidade e era uma multidão na rua esperando pra ver, ninguém viu nada, os carros passavam e cada carro que passava a gente achava que era o carro que levava o Roberto Carlos. Se não me engano passou um calhambeque, uma coisa assim, e disseram que ele estava ali. Hoje em dia eu acho que não, acho que ele não estaria viajando num calhambeque.
AF – Olha, eu diria que a minha educação sentimental tem muito a ver com o que eu ouvi no rádio com as canções da música brasileira. A gente ouvia muito rádio em casa, principalmente na cozinha, sempre tinha um radinho ligado, então, ouvi ali muita coisa de música brasileira, principalmente aquelas românticas e melosas, umas coisas que hoje eu até acho um pouco pitorescas, mas muito ricas, como as músicas do Amado Batista. Também a gente ouvia muito Roberto Carlos, isso tudo no rádio mesmo. Eu ouvi o Vitor no rádio antes de a gente se conhecer. E saber que os meus poemas podem ser ouvidos no rádio, pra mim, é um grande barato.

GF – A gente quer agradecer a presença de vocês aqui no Balaio Cultural, a gentileza de terem aceitado nosso convite, e deixar vocês à vontade para reforçar o convite ao ouvinte da Rádio Timbira a ouvir “Avenida Angélica” e acompanhar o trabalho de vocês.
AF
– Eu queria agradecer pelo convite para conversar com vocês e convido os ouvintes e as ouvintes da Rádio Timbira a ouvir o “Avenida Angélica”. Muito obrigada!
VR – Eu é que agradeço essa oportunidade de poder estar conversando com vocês, poder falar com calma, assim, tranquilamente, poder se aprofundar. Rádio é um negócio muito bacana pra mim quando tem essa dimensão. Então, agradeço muito. E, bom, aos ouvintes, convido para escutar o “Avenida Angélica”, podem ver e ouvir no youtube, o show tá completo, podem escutar nas plataformas também, spotify e outras, e tá saindo agora, daqui a pouco o álbum físico. Eu fiz uma edição muito linda, como as pessoas hoje em dia estão comprando pouco cd, às vezes nem querem ganhar cd porque não têm onde ouvir, eu bolei um formato diferente, é um objeto, uma espécie de álbum, que tem fotografias que documentam o show, as gravações, o teatro, tem a poesia da Angélica, tem o cd evidentemente junto, é uma produção muito bonita. Talvez ela nem caiba na estante de cds, então ela pode funcionar como um objeto diferente em casa, enfim. Legal de ter esse registro, espero que você gostem.

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Assista “Avenida Angélica”:

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