O reencontro de Pe. Flávio Lazzarin e Dona Pureza pouco antes da coletiva. Foto: Zema Ribeiro
O reencontro de Pe. Flávio Lazzarin e Dona Pureza pouco antes da coletiva. Foto: Zema Ribeiro

Protagonizado por Dira Paes, “Pureza” estreou hoje nos cinemas brasileiros. Filme conta a história real da maranhense que enfrentou poderosos e criminosos para resgatar o filho do trabalho escravo

Pureza. Cartaz. Reprodução
Pureza. Cartaz. Reprodução

Estreou hoje (19) o filme “Pureza”, do diretor Renato Barbieri. O drama, estrelado por Dira Paes, conta a história real da maranhense Pureza Loyola, que resolveu enfrentar criminosos e poderosos para libertar seu filho do trabalho escravo em uma fazenda. Ao mesmo tempo brutal, delicado e comovente, o filme levou 15 anos para ficar pronto, desde que o diretor travou contato com dona Pureza e começou a trabalhar na pesquisa e roteiro do filme, que conta com o apoio institucional de mais de 90 organizações nacionais e internacionais, entre órgãos públicos e organizações não governamentais, com destaque para a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e o Ministério Público do Trabalho (MPT).

"Somos todos Pureza", afirmaram em uníssono os presentes à coletiva. Foto: Zema Ribeiro
“Somos todos Pureza”, afirmaram em uníssono os presentes à coletiva. Foto: Zema Ribeiro

O filme teve pré-estreia ontem (18), em São Luís, quando se realizou também uma entrevista coletiva com parte da equipe do filme, na sede da Procuradoria Regional do Trabalho, no Calhau. Além do diretor Renato Barbieri, estiveram presentes dona Pureza Loyola, que inspirou a personagem de Dira Paes, a diretora executiva do Instituto Da Cor ao Caso Anita Machado, Sérgio Sartório, ator e produtor executivo do filme, o ator Guto Galvão, o padre Flávio Lazzarin, ex-coordenador da CPT, que colaborou com a libertação de Abel, filho de Pureza, a Procuradora do Trabalho no Maranhão Vírginia de Azevedo Neves, Marinaldo Santos, trabalhador três vezes resgatado do trabalho escravo, que colaborou com a preparação de elenco do filme, e Brígida Rocha, representando a CPT.

Embora não seja um documentário convencional, “Pureza” joga luz em uma chaga social brasileira nunca superada – o trabalho em condições análogas à escravidão –, através da jornada de Abel, cujos sonhos com uma vida melhor acabam transformando-o em uma vítima de aliciamento, sem possibilidade de se libertar, entre a servidão por dívida e a violência dos capatazes, inclusive com ameaças de morte. Antes da estreia no circuito comercial brasileiro, “Pureza” já foi exibido em festivais em 18 países e já carrega 28 prêmios na bagagem.

O filme se passa entre 1993 e 1995, acompanhando a busca ousada e corajosa de dona Pureza pelo filho Abel, jornada que termina com seu resgate e a criação do Grupo Móvel de Fiscalização e Combate ao Trabalho Escravo, que, ao longo de sua atuação, entre avanços e retrocessos mais recentes, já resgatou cerca de 60 mil trabalhadores de situações análogas à escravidão.

Para o diretor Renato Barbieri, é hora de escrever uma nova História do Brasil, com o país sendo uma nação livre. “A gente tem que olhar, sim, para que país, que nação nós queremos construir. Eu acho que esse é o momento que a gente tá pensando que Brasil é esse, se é um Brasil do ódio, ou se é o Brasil do amor, esse amor de dona Pureza e do padre Flávio, que eles professam e que praticam, que é um Brasil de uma tolerância, de uma abundância, que é um país riquíssimo, que todo mundo sabe disso, dona Pureza sempre fala isso, “esse país é rico”, “esse país é rico”, ela repete isso. E é rico mesmo, no entanto, a gente vive um Estado que eu diria que é colonial, por que ao mesmo tempo em que a gente separou de Portugal exatamente há 200 anos, 1822, nós nos tornamos colônias de nós mesmos, da nossa própria elite oligárquica, escravagista. Então, acho que tá na hora, não é de virar essa página da história, tá na hora de escrever um novo livro, um livro de uma nação livre”, afirma.

O cineasta reflete sobre a força do cinema para a transformação social. “O filme “Pureza”, ele traz, ele é um choque de realidade, ele traz o que acontece na invisibilidade para a visibilidade, através do cinema, que é uma ferramenta poderosa. Em duas horas você é capaz de ter outra vivência de mundo, pelo cinema, e nós fazemos um cinema social, um cinema social que acredita no lastro social, não é à toa que a CPT é a primeira organização que entrou a apoiar o “Pureza”, há 11 anos; hoje são 93 organizações nacionais e internacionais, que apoiam o filme “Pureza””, reflete.

Dona Pureza Loyola, cuja saga inspirou o filme protagonizado por Dira Paes, recebeu o prêmio Anti-Escravidão da Anti-Slavery International, em Londres, em 1997. Apesar de sua vitória e exemplo de vida e coragem, ela ainda se indaga o porquê da existência da escravidão contemporânea no Brasil. “Sou vencedora duma briga perante um país tão grande que nem o nosso, e tão rico. É o mais rico que existe no mundo, porque quando eu disse que meu país é o mais rico do mundo foi aprovado na Anistia Internacional e na Alemanha, todo mundo bateu palma, que é mesmo. É o país mais rico que tem. Pra quê escravidão? Por que não leva o povo, paga, trabalhou, pagou, vai embora, o outro chega lá e diz “olha, eu recebi tanto, lá é bom pra se trabalhar”, então vem a carrada de homem trabalhar, homens e mulheres. Agora, vem e não volta mais. Por quê?”, reflete.

Ficam a sabedoria e a reflexão. “Pureza”, o filme, está em cartaz em São Luís, a partir de hoje, nos cinemas dos shoppings Rio Anil, São Luís e da Ilha.

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Veja o trailer:

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Ouça esta reportagem, veiculada hoje no Fala Timbira, na Rádio Timbira AM:

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