Alaíde Costa, André Mehmari, Benjamim Taubkin, Ceumar, Edu Lobo, Elza Soares, Ivan Lins, José Miguel Wisnik, Lívia Mattos, Luísa Maita, Luiz Tatit, Marcelo Jeneci, Marco Pereira, Mário Sève, Ná Ozzetti, Neymar Dias, Paulinho da Viola, Regina Machado, Rodrigo Campos, Swami Jr., Thamires Tannous e Zé Manoel são, para citar uns poucos, alguns dos nomes a cujas fichas técnicas de discos (já tocou em mais de 100, como músico acompanhante) e shows o nome do baterista Sergio Reze compareceu ao longo de sua trajetória.
Se a música é uma espécie de oração, o sobrenome do baterista Sergio Reze é um imperativo e obedecendo-o ele tece, a partir do repertório de Um olhar interior – sua estreia solo –, um interessante panorama da música popular brasileira, com bastante personalidade.
O Sergio Reze Falando Música Quarteto, que além de Sergio Reze (bateria e gongos melódicos), tem Alexandre Ribeiro (clarinete), Daniel Grajew (piano e acordeon) e Sidiel Vieira (baixo), não é espaço de firulas: cada músico assume solos a reafirmar seus talentos individuais, mas tudo em conjunto, a serviço da música. Longe de evidenciar qualquer imodéstia do bandleader ou de se perder em longos solos de bateria, é também o espaço de trocas e generosidade.
De clássicos como “Gaúcho (Corta jaca)”, de Chiquinha Gonzaga, que abre o álbum, a “Chovendo na roseira”, de Tom Jobim, que o encerra, entre outras pedras de toque da música brasileira, incluindo temas menos conhecidos como “Laser” (Ricardo Breim e José Miguel Wisnik) e “Lagoa da Conceição” (André Mehmari), cada faixa ganha o toque de Midas do Sergio Reze Falando Música Quarteto, levando o ouvinte a “sentir-se em casa” diante do repertório conhecido (por vezes cantando as letras sobre os temas instrumentais), ao mesmo tempo em que parece estar ouvindo-o pela primeira vez, dada a qualidade e inspiração dos arranjos.
Em 12 faixas, o Sergio Reze Falando Música Quarteto alinhava 16 temas. O single que costura “Manhã de carnaval” (Luiz Bonfá e Antonio Maria) e “Melodia Sentimental” (Heitor Villa-Lobos) já chegou às plataformas digitais, como aperitivo. O álbum completo estará disponível nesta sexta-feira (14), em streaming e cd (faça aqui a pré-save).
Merecem destaque também os medleys que unem Dorival Caymmi (“O vento”) e Milton Nascimento (“Vera Cruz”, parceria com Márcio Borges), e Luiz Gonzaga (“Asa branca”, parceria com Humberto Teixeira), Heitor Villa-Lobos (“O trenzinho do caipira”) e Egberto Gismonti (“Loro”).
O repertório se completa com “Um a zero” (Pixinguinha e Benedito Lacerda), “Ternura” (K-Ximbinho), “Conversa de botequim” (Noel Rosa e Vadico), “Chega de saudade” (Tom Jobim e Vinícius de Moraes) e “Clube da esquina 2” (Milton Nascimento, Lô Borges e Márcio Borges).
Um olhar interior já nasce clássico, não apenas pelo repertório. Como diz Wisnik em texto no encarte: “Mais do que um baterista, Sergio Reze, que concebe e dirige o álbum, é um alquimista que transmuta a bateria fazendo dela um instrumento de timbres e melodias, capaz de cantar”. Lançamento do Selo Circus, o álbum tem produção de Swami Jr. e foi gravado, mixado e masterizado por Alexandre Fontanetti no estúdio Space Blues.
“’Um olhar interior é mais do que o extraordinário álbum de música instrumental que em nenhum momento deixa de ser. Temos aqui uma viagem para dentro do som e, por improvável que possa parecer, para dentro da canção”, continua Wisnik.
O álbum reafirma a beleza, força e importância da música brasileira. Mesmo que a forma de consumir música e todo seu mercado tenham mudado vertiginosamente, Um olhar interior merece audição atenta e integral – merece mesmo um ritual.