‘Jogo Duro’, a viagem brasuca do urban jazz

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O supergrupo Jogo Duro, com Ilhan Ersahin Foto de Talita Miranda

Começa com Pega Leve e termina com Quebra-Queixo. Ou seja: no começo amacia, no final seja o que Deus quiser.

São esses os nomes da primeira e da última faixa do disco do combo Jogo Duro, um supergrupo de urban jazz que reúne os músicos Guizado (trompete), Zé Nigro (baixo), Samuel Fraga (bateria), Chicão (teclados), Tony Gordin (bateria) e Ilhan Ersahin (saxofone).

Ilhan Ersahin, sueco-turco que criou o selo Nublu e é o articulador internacional do Nublu Jazz Festival, já frequenta o Brasil há mais de uma década. Em Nova York, é o anfitrião do Nublu Club, uma casa noturna no East Village que abriga novas sonoridades desde 2002.

Já os outros músicos do grupo Jogo Duro têm sido sidemen de artistas como Céu, Otto, Curumin, Tulipa Ruiz, Lúcio Maia e Gal Costa. Todos têm coté de composição, arranjo, multiinstrumentalismo, produção. Reunidos no final do ano passado, inicialmente para jams de brodagem e depois para uma performance especial (que passou pelo festival Psicodália) e que agora resulta num disco, Ilhan e seus parceiros brasileiros acabaram produzindo uma das melhores viagens jazzísticas da temporada.

Jogo Duro tem seis faixas apenas, instrumentais. A primeira, Pega Leve, começa com baterias escovadas, e uma batida seca eletrônica logo encontra uma manta de teclados, uma “mellow track” clássica. Ao chegar ao final, o lote de canções se exaure com Quebra-Queixo, canção que se dissolve no fio nas dissonâncias do trompete de Guizado. O som lembra o do grupo norte-americano Fort Apache, de Jerry González (1949-2018), na exploração improvisacional de fronteiras multiculturais, levando adiante os insights de Miles Davis e Dizzy Gillespie. Outras vezes lembra um background sound do disco de Guru, o Jazzmatazz,  Vol. I, de 1993, aquela fusão já meio vintage de jazz com hip-hop e eletrônica.

Urban jazz é um tipo de música surgida já nos anos 2000 que combina elementos do jazz tradicional com estilos contemporâneos, como hip-hop, funk e R&B. Geralmente produz melodias suaves, com vocais do tipo neosoul (expoentes dessa onda são artistas como Grover Washington Jr e Robert Glasper). A fusão de Ilhan e seus parceiros brasileiros fagocita outros elementos a essa corrente, sutis grooves do sambalanço e da bossa.

Não é a primeira colaboração de Ilhan com o Brasil. Em 2017, ele participou do admirável álbum Praia Futuro, outro disco cult de supergrupo que reuniu, em 2017, Dengue, da Nação Zumbi; e Fernando Catatau e Yuri Kalil, do Cidadão Instigado, e o próprio Ilhan.

O disco Jogo Duro, que tem lançamento da Nublu Records, foi gravado no estúdio Rootsans de São Paulo e mixado no Ceará por Yuri Kalil, produtor e dono do estúdio Totem, de Fortaleza, além de baterista do Cidadão Instigado. Não é uma experiência trivial para se perder na pulverização sonora dos dias atuais, mas se ainda estiverem buscando pela expansão da consciência, eis aqui uma trilha e tanto.

O álbum pode ser adquirido em vinil na Nublu Records.

Ouça aqui ‘Pega Leve’ e ‘Quebra-Queixo’:

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