“A vida em seus métodos diz calma”, diz o título/mantra/refrão de uma das composições mais conhecidas de Di Melo, uma das faixas de seu álbum de estreia, lançado pela EMI-Odeon, em 1975. O disco, que leva apenas o nome do artista por título, é uma das obras-primas lançadas no Brasil naquela década, e não deixa nada a dever a clássicos como o “Racional” de Tim Maia (1942-1998), para citar apenas um lançado no mesmo ano.
À ficha técnica do álbum comparecem nomes como Heraldo do Monte (viola e violão), Hermeto Pascoal (flauta e teclados) e Cláudio Beltrame (contrabaixo), com arranjos, orquestração, regência e violão de Geraldo Vespar, entre outros. As fotos da capa e contracapa são de Carlos A. Duttweller, que naquela década trabalhou com nomes como Carlos Daffé, Ednardo e Tim Maia, além dos grupos Moto Perpétuo (que tinha Guilherme Arantes entre seus integrantes) e Som Nosso de Cada Dia, entre outros.
A velha história é por demais conhecida: o disco não fez sucesso à época, Di Melo sumiu do mapa, envolveu-se em um acidente de motocicleta, muita gente o deu como morto; entocado, no entanto, ele continuava produzindo. Internautas redescobriram o disco de estreia que, alçado ao status de cult, teve algumas reedições aproveitando o revival do vinil. O álbum foi relançado em cd em 2002, graças aos esforços do baterista e pesquisador Charles Gavin, na coleção Odeon 100 Anos.
Com alguns discos caseiros na bagagem, incluindo “Distando Estava” (Camerati, 1990), gravado com a banda de Belchior (1946-2017), em 2011 Di Melo protagonizou o documentário “Di Melo: O Imorrível”, dos cineastas Alan Oliveira e Rubens Pássaro, facilmente encontrável no youtube. O curta-metragem é bem-humorado e mostra o dia a dia do artista, que passou a dedicar-se às artes plásticas para não se sujeitar a fazer discos que não queria ou tocar por qualquer coisa na noite, em bares – foi no mítico Jogral que Alaíde Costa o descobriu e levou-o para a Emi-Odeon. Entre gargalhadas há ainda um episódio com o maranhense Papete (1947-2016).
O artista voltou a chamar as atenções com o lançamento de “Imorrível” (Casona Produções, 2016), álbum que conta com participações especiais de BNegão, Larissa Luz e traz uma parceria de Di Melo com Geraldo Vandré (“Canta Maotina & Chacacalaiô”). De volta à estrada divulgando o álbum, o artista baixou pela primeira vez na capital maranhense, para uma apresentação no Festival BR-135. A este seguiram-se outros álbuns, a exemplo de “Atemporal”, gravado por ele com a banda francesa Cotonete – que se apaixonou pelo artista numa vinda ao Brasil –, que revela outra parceria com Vandré (“Linhas de Alinhar”).
A Di Melo cabem tantos adjetivos, reais ou inventados: imortal e imorrível, a ele nada é impodível, como ele mesmo disse quando de sua primeira vez em São Luís. Atemporal, como o título de seu disco de 2019. Versátil, diverso, plural, como prova qualquer álbum de sua discografia – que merece mais atenção do público, para além do culto (merecidíssimo, frise-se) ao elepê inaugural.
Sete anos após seu primeiro show em São Luís, o cantor e compositor Di Melo está de volta à ilha. Ele se apresenta amanhã (7), no Secreto Bosque (Rua G, Jardim Atlântico, Turu). A programação começa às 17h, com shows de Os Tropix – que acompanhará Di Melo em sua apresentação; não confundir com o Trio Tropix de Valéria Sotão e companhia –, Paulão, Dicy, Banda Filtro de Barro, Lucas Ló, e os djs Félix e Adriano Sound, este último um dos fundadores do Selo 102, produção responsável pela volta do pernambucano ao Maranhão.
Os Tropix são Gabriel Leandro (voz e violão), Gabriel Ferreira (voz e guitarra), Vik Nobre (voz e guitarra), Lucas Leal (baixo) e Leonardo Lucena (bateria). Os ingressos para o show de Di Melo (e todas as atrações que o antecedem) no Secreto Bosque estão à venda no site do Selo 102.
Pré – Hoje (6), às 19h, Di Melo autografará vinis em mais uma edição do Clube do Vinil, tertúlia que acontece às sextas-feiras, na Low Eletrônica e Música (Av. Principal, 15, Cohajap). Os ingressos podem ser adquiridos por DM no perfil da casa no instagram.