O cantor e compositor Marcos Magah. Foto: divulgação
O cantor e compositor Marcos Magah. Foto: divulgação

Quando Marcos Magah lançou “Z de Vingança” (Pitomba!, 2013), seu disco solo de estreia, eu e o sociólogo Igor de Sousa, autointitulados Los Perros Borrachos, entrevistamos o cantor e compositor, ex-Amnésia, para o saudoso Vias de Fato – a conversa está em “Penúltima Página: Cultura no Vias de Fato” (Passagens, 2019), livro em que reuni parte do que produzi para as páginas de cultura do saudoso jornal mensal.

Naquela ocasião havíamos marcado de encontrá-lo em um restaurante na Praia Grande e enquanto o esperávamos, começamos a enxugar umas cervejas. Magah se atrasou e os repórteres já acreditavam que haviam levado um bolo. Conta pedida, eis que ele chega, desculpando-se pelo atraso: “eu estava em um estúdio no Paranã; todo mundo só fala em Praia Grande, mas o Paranã também é importante”, disse – cito de memória –, antes de reabrirmos a comanda.

"O Homem Que Virou Circo". Capa. Reprodução
“O Homem Que Virou Circo”. Capa. Reprodução

Nesta sexta-feira (21) chega às plataformas de streaming “O Homem Que Virou Circo” (Saravá Discos, 2023), terceiro disco de Magah, sucessor de “O Inventário dos Mortos ou Zebra Circular” (2015) – o novo álbum terá também edição em cd. À faixa-título, que abre o álbum, o bairro de Paço do Lumiar, município da grande Ilha, volta a comparecer: “Mas você conta pras amigas/ Que eu fui armar o meu circo/ Lá pras bandas do Paranã/ E que por falta de dinheiro/ Eu faço tudo sozinho/ Eu sou o domador e também o palhaço”.

A letra do country bem traduz o espírito da coisa. “Por mais que eu suba/ Estou sempre descendo”, finaliza a letra. Magah é o autor solitário das 11 faixas do álbum produzido por Tuco Marcondes e Zeca Baleiro – a exceção é “As Coisas Mais Lindas do Mundo”, parceria com Celso Borges gravada em dueto com a cantora Bárbara Eugênia. O folk é uma canção de amor desbragado: “Os dias se abrem como flores lá fora, fica aqui (…)/ Os dias se fecham, longe de ti”, transborda a letra.

Outro convidado é Odair José, ídolo de Marcos Magah, a quem ele já tinha dedicado o single “Devolva Meus Discos do Odair José” (2017). Juntos, eles cantam “Estação Sem Fim”, música que o maranhense compôs em uma passagem sua por Goiânia, antes de descobrir que se tratava da terra natal do autor de hits como “A Noite Mais Linda do Mundo” e “Vou Tirar Você Desse Lugar”. A balada se desloca nos altos e baixos da linha férrea que é a vida: “Não me envie cartas nem flores/ Mas não esqueça de mim/ E lembre-se que o fim/ É só outro jeito de começar/ Pois se perdemos muito/ Foi porque ganhamos demais/ Pois quem hoje anda na frente/ Amanhã pode estar atrás”.

Os duetos já haviam sido lançados como singles, antecipando o álbum em que Marcos Magah (voz, violão e composição) é acompanhado por Tuco Marcondes (violão, banjo, hammond, requinto, guitarra, guitarra 12 cordas, baixo, programação de bateria, percussão, teclados e arranjos), Zeca Baleiro (teclados, vocais e assovio), Tiquinho (trombones), Pedro Cunha (piano e synths), Fernando Nunes (baixo), Kuki Stolarski (bateria), Luiz Cláudio (percussão), Ana Amélia (vocais) e Tati Parra (vocais). A capa é de Marcos Faria.

“O Homem Que Virou Circo” faz jus à trajetória do artista, com um repertório que alia gêneros como folk, country, rock e o que se convencionou chamar de brega. Suas letras inteligentes transitam entre a filosofia e a ironia, inclusive a autoironia, caso de “Brilha o Sol”: “É que eu cantei demais/ Pros bêbados nos bares/ E em todos os lugares/ Sempre vazios”.

Marcos Magah não perdeu a essência punk, parece movido pela máxima “faça você mesmo”, entre a “poesia da crueldade” (da letra de “Azulejo”) e referências como Arthur Miller [dramaturgo norte-americano (1915-2005)], Raul Seixas [cantor e compositor (1944-1989)] (em “Nunca Lute Limpo Com Um Estranho”), Ferreira Gullar [poeta (1930-2016)], Jards Macalé (em “Eu Gosto de Ler a Bíblia”) e “Maiakóvski” [poeta (1893-1930)], na faixa que leva seu nome. Espero que “Caindo Para o Alto” (título de outra faixa) seja a metáfora para um voo mais alto que o artista merece alçar já faz tempo.

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Faça a pré-save de “O Homem Que Virou Circo”:

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