Clássico e popular: o maestro Rodrigo Toffolo, regente da Orquestra Ouro Preto, e Alceu Valença. Foto: Íris Zanetti. Divulgação
Clássico e popular: o maestro Rodrigo Toffolo, regente da Orquestra Ouro Preto, e Alceu Valença. Foto: Íris Zanetti. Divulgação

A primeira impressão causada a este resenhista foi pensar em um possível erro: alguém cortou alguma coisa na edição do vídeo e ele já começa com o bloco literalmente na rua. Ledo engano: é que a Orquestra Ouro Preto já começa com tudo mesmo, vibrante, pra cima, atacando em “Suíte Valencianas II”, medley que junta “Rima com rima”, “A moça e o povo” e “Seixo miúdo”.

A soma dos temas batiza “Valencianas II” (2022), que o cantor e compositor pernambucano Alceu Valença apresentou junto à orquestra na Casa da Música do Porto, em Portugal, em 20 de janeiro de 2020, ainda antes da pandemia de covid-19, portanto. O álbum está disponível desde agosto passado nas plataformas digitais e o vídeo do espetáculo ficará disponível no youtube somente este fim de semana (assista ao final do texto).

Valencianas II. Capa. Reprodução
Valencianas II. Capa. Reprodução

Por falar em pandemia, Alceu Valença, aos 76 anos, tem se mostrado um dos mais profícuos artistas da música popular brasileira ao longo do período: além do inteiramente autoral “Valencianas II”, que lançou este ano, ano passado foram nada menos que quatro álbuns – “Sem pensar no amanhã”, “Saudade”, “Senhora estrada” e “Alceu Valença e Paulo Rafael” –, entre releituras suas e alheias e repertório inédito.

“Valencianas II” dá prosseguimento, sem repetir músicas, mesmo entre os clássicos, à experiência de “Valencianas”, álbum de 2014 que inaugurava a parceria de Alceu Valença com a Orquestra Ouro Preto, regida pelo maestro Rodrigo Toffolo – de quem esse ano assisti a um concerto com o também pernambucano Antonio Nóbrega, no Teatro Arthur Azevedo, em São Luís/MA. A música de ambos, impregnada pela diversidade da cultura popular de seu estado natal, cai como uma luva para os arranjos e o acompanhamento orquestral dos mineiros.

Não falta ao concerto o elemento cômico característico de Alceu Valença, que quando não toca violão simula tocar um ou um violino, ao fazer a mão parecer empunhar um arco, ou uma viola, no gesto de beliscar-lhe as cordas em pizzicato. O artista traja um terno alaranjado, com uma longa echarpe que acaba por fazer-lhe as vezes de gravata. Dança sentado, como o faz o bom público presente ao teatro, com quem interage, batendo palmas e sendo aplaudido. Um showman que graceja em suas entradas e saídas de cena, quando a orquestra executa temas instrumentais – como “De janeiro a janeiro” e “Íris”.

A Orquestra Ouro Preto é formada pelos violinistas Rodolfo Toffolo (spalla), Mara Toffolo, Rodrigo Oliveira, Dhyan Toffolo, Wagner Rodrigues, Leonardo Lacerda, Marina Toffolo, Márcio Valladão e Marija Mihajlovic, mais Gilberto Paganini, Kamilla Druzd e Katarzyna Druzd (violas), Robson Fonseca, Camilla Ribeiro, Lina Radovanovic e Duarte Silva (violoncelo), André Geiger (contrabaixo acústico), Rodrigo Torino (violão), Rafael Alberto (percussão), Gustavo Grieco (bateria), Camila Rocha (contrabaixo elétrico) e Paulo Sartori (guitarra) – e deixei para citar estes dois por último de propósito, para chamar atenção para o vigor de suas performances, ele assemelhando-se física e musicalmente ao guitarrista Paulo Rafael (1955-2021), que acompanhou Alceu Valença ao longo das últimas mais de quatro décadas.

“Valencianas II” reafirma que, do suor dos foliões pelas ladeiras de Olinda e Recife às salas de concerto em qualquer parte do mundo, a música de Alceu Valença fica bem vestida em qualquer roupa.

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Assista “Valencianas II”:

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