A Agência Nacional de Cinema (Ancine) nomeou hoje como diretor substituto da instituição o advogado Mauro Gonçalves de Souza, que já foi diretor-presidente substituto da agência em 2021. Ele ocupa a vaga de Mariana Ribas, ex-diretora efetiva. Mauro Gonçalves foi assessor parlamentar do deputado reeleito Filippe Poubel, do PSL do Rio de Janeiro, armamentista, golpista e ligado às milícias cariocas (em maio de 2020, Poubel invadiu um hospital de campanha em São Gonçalo, armado, tentando intimidar integrantes de uma organização social que atuava na emergência).

O retorno de Mauro Gonçalves, que tinha sido preterido quando da nomeação de diretores efetivos para a Ancine na sabatina do Senado Federal em julho do ano passado, pode estar inserido dentro do festival de nomeações que está sendo operado no setor cultural do governo, com vistas a dificultar a próxima gestão federal eleita no dia 30 de outubro. Embora tenha mandado na Ancine durante um bom período, Mauro foi “esquecido” quando Bolsonaro indicou, em maio, duas diretoras substitutas para a agência (Carla Sobrosa, exonerada hoje, e Fabiana Trindade Machado). O período legal de substituição no colegiado diretivo da Ancine é de um semestre, mas a instituição cansou de fazer um rodízio de posições para manter um determinado grupo no poder. O curioso é que Carla Sobrosa, além de ter seu período na diretoria exaurido, também foi exonerada hoje do cargo de Superintendente de Fomento da agência.

Na sua passagem anterior pela diretoria da Ancine, uma das mais notáveis lembranças da atuação de Mauro Gonçalves dos Santos foi seu voto a favor de vetar o financiamento a um filme sobre o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Na justificativa de seu voto, Mauro chegou a mencionar em ata pública uma participação de FHC no programa de Pedro Bial, em 18 de maio de 2021 (da qual diz que “sobeja conteúdo político”). Ele escreveu, em seu voto: “Ora, se o Supremo Tribunal Federal já declarou a inconstitucionalidade de leis que autorizavam a mera denominação de logradouros públicos com nomes de pessoas vivas, por vulneração do princípio de impessoalidade, me parece, sim, muito mais grave, e pelas mesmas razões, aprovar projeto com conteúdo político na obra em que se homenageia político vivo e ainda em atividade”.

Por esse raciocínio do agora novamente diretor, caso os vetos que tratam da trajetória de pessoas vivas virassem regra, filmes monumentais como Peões, de Eduardo CoutinhoEntreatos, de João Moreira SallesPelé, dos britânicos David Tryhorn e Ben Nicholas, entre muitos outros, seriam impedidos de buscar apoio público (num contexto internacional, imagine um organismo de fomento vetando obras fundamentais como Procurando Sugar Man, de Malik Bendjelloul, ou biográficos como Mandela, de Justin Chadwick). O veto ao documentário sobre FHC, O Presidente Improvável, acabou caindo posteriormente na agência.

Outra movimentação no bureau diretivo da Ancine operada hoje foi a nomeação do diretor Tiago Mafra para exercer o encargo de presidente substituto no lugar de Alex Braga Muniz, na ausência deste. Essa nomeação coloca para escanteio o nome de Vinicius Clay, diretor mais experiente do grupo e totalmente identificado com a atual gestão de Alex Braga. A mudança sinaliza que a diretoria da agência, já se preparando para o novo governo, modifica também sua composição para tentar se manter, ao menos parcialmente, decidindo sobre as ações de gestão.

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