Com elenco e cenário enxutos, filme foi gravado em um galpão em São Paulo
Baseado em sua peça/livro homônima, “Aldeotas”, de Gero Camilo, chega hoje às salas de cinema brasileiras e marca a estreia do cearense na direção de longa-metragem. Na tela, ele e Marat Descartes, num encontro de gigantes da sétima arte nacional.
Romance de formação, o filme acompanha a relação de amizade do poeta Levi (o cearense Gero) e Elias (o paulista Marat), na chegada do primeiro ao velório do segundo, regressando à terra natal, de onde saiu no fim da adolescência.
Brincadeiras da infância, bullying e assédio, a descoberta da sexualidade, a violência dentro e fora de casa, o conservadorismo da sociedade em uma cidade do interior (a fictícia Coti das Fuças), os sonhos, a opressão, a poesia, o desejo, a memória, o amor e a amizade e um jeito muito particular (e poético) de encarar a vida (e todo esse turbilhão que a costura) percorrem as trajetórias dos personagens.
É um filme enxuto, seja em se tratando de elenco (o tempo todo o par de atores em cena, longe da monotonia) quanto de cenários (“Aldeotas” foi todo filmado num galpão em São Paulo), marcado pelas atuações e diálogos fortes de Levi e Elias, potencialmente amplificando o alcance da premiada peça, que ficou em cartaz por mais de uma década. Não seria exagero falar em “teatro filmado” e isto é um elogio, não um reducionismo.
“Determinadas obras nos tiram o fôlego ou nos alcançam silêncios conduzidos por atores, que construindo narrativas com as quais nos identificamos, alcançam o nosso imaginário capaz de nos transportar pro absurdo, pro surreal do cotidiano”, comenta o ator, diretor e roteirista, no material de divulgação distribuído à imprensa.
Gero Camilo e Marat Descartes são merecidamente dois dos mais aclamados atores de sua geração, com vasta experiência em teatro e cinema, e “Aldeotas” marca também a primeira vez que ambos contracenam em um filme.
Em certa medida, “Aldeotas”, o filme, nasce no México: quando Gero Camilo atuou em “Chamas da vingança” (“Man on fire”, de 2004, de Tony Scott), ele comprou sua primeira câmera digital e ao voltar para o Brasil, montou um grupo de cinema com Marat Descartes, Gu Ramalho e Paula Cohen (roteirista de “Parabéns”, curta dirigido por Gero e Gustavo Machado, outro nome do grupo, em 2006), entre outros amigos. “Formamos a Fuleragem Filmes. Filmamos dois curtas e um média-metragem dos quais dois deles eu dirigi. “Aldeotas” vem para reiniciar essa nova fase de direção”, resume o diretor.
Gero Camilo é um dos mais versáteis artistas brasileiros: ator, poeta, cantor, compositor, dramaturgo, diretor. Sua estreia na direção de longas-metragens não busca estabelecer limites entre as linguagens artísticas pelas quais transita com tanta desenvoltura. Por isso mesmo, “Aldeotas” é um grande acerto.
Serviço: “Aldeotas” [drama, Brasil, 2022, 85 minutos], de Gero Camilo, com Gero Camilo e Marat Descartes. Estreia hoje (17) nos cinemas brasileiros.
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