Cinemateca Brasileira, na Vila Mariana, em São Paulo

A Cinemateca Brasileira completa um ano fechada no início de junho. Maior acervo audiovisual da América Latina, a instituição voltou à tutela do governo federal em agosto do ano passado, e desde então não é apresentado um plano de reabertura – a manutenção do edifício, na Vila Mariana, em São Paulo, tem sido feita mediante contratos temporários (só os serviços de limpeza e conservação, contratados em março, custam cerca de R$ 1 milhão). A área da Cinemateca era também um local de usufruto da vizinhança, contendo uma grande área livre externa com esculturas e espaço de lazer, mas hoje está interditada à visitação.

Esta manhã, no Diário Oficial da União, o governo finalmente anunciou a contratação, por R$ 102 mil, da empresa Labfinder Engenharia para fazer um estudo de avaliação de risco e plano de intervenção que será apresentado à Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) – a Cinemateca não possui alvará do corpo de bombeiros atualizado e parte de seu acervo é composto de materiais químicos inflamáveis (filmes de nitrato de celulose que, em caso de incêndio, acarretariam graves consequências para os imóveis e as pessoas que estão ao redor de seu complexo de prédios, assim como ao meio ambiente).

Com atos públicos, manifestações e intervenções junto a organismos internacionais, o setor audiovisual brasileiro tem defendido maciçamente a reabertura da Cinemateca, cujo acervo (cerca de 240 mil rolos de filme, 41 mil títulos diferentes, um milhão de itens) encontra-se fechado à pesquisa, consulta e, o mais grave, à preservação adequada. Há uma ação civil pública em marcha, relativa ao descaso do poder público para com o patrimônio nacional, assim como processos no Tribunal de Contas da União.

O secretário Especial de Cultura do governo federal, Mário Frias, tinha se comprometido em janeiro a passar a gestão da Cinemateca, excepcionalmente, para a Sociedade Amigos da Cinemateca iniciar o processo de transição para um novo modelo de gestão e reabrir o acervo a pesquisadores e eventualmente ao público. Isso deveria ter acontecido em 12 de janeiro.

Em uma audiência recente sobre o caso da Cinemateca, o presidente da Sociedade Amigos da Cinemateca Brasileira (SAC), Carlos Augusto Calil (que já foi presidente da Embrafilme, da própria Cinemateca e é ex-secretário de Cultura de São Paulo), foi contundente. “A Cinemateca está em coma, respirando por aparelhos”, afirmou. O maior tesouro da instituição segue em grave perigo, salientou Calil: seu acervo único. Ele lembrou que há ali os filmes das missões folclóricas de Mário de Andrade, de Claude-Lévi Strauss, filmes pioneiros de Humberto Mauro e Glauber, entre milhares de outros. Calil defendeu o retorno do status da Cinemateca ao campo patrimonial, porque entende se tratar de um órgão de preservação, um museu, condição que foi negligenciada quando se passou sua gestão a uma OS (a Fundação Roquette Pinto), “irresponsabilidade” que não pode se repetir.

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