Jerry Lee Lewis em 2007, durante apresentação no New Orleans Jazz & Heritage Festival (fotos de Jotabê Medeiros/Farofafá)

Morreu aos 87 anos na última sexta-feira, no condado de DeSoto, Mississipi, um lugarejo da região metropolitana de Memphis, Tennessee, o pianista, compositor e cantor Jerry Lee Lewis, um dos artistas fundadores da grande rebelião do rock, nos anos 1960. Criador de uma performance incendiária ao piano, que ele chegou a tocar até com as nádegas, Jerry Lee foi um dos disseminadores originais do gênero com canções como Great Balls of Fire (1957) e Whole Lotta Shakin’ Goin’ On (também de 1957).

Contemporâneo de Elvis Presley, Johnny Cash, Carl Perkins, Chuck Berry, Fats Domino e dos pioneiros do rock, Jerry Lee tinha apenas 21 anos em 1956, quando adentrou o estúdio da mítica Sun Records, em Memphis, para apresentar a si mesmo como grande performer e exigir uma audição. Por sorte, a gravadora tinha vendido o passe de Elvis um ano antes para a RCA, e precisava desesperadamente de sangue novo para se juntar a um cast  que incluía Carl Perkins, Johnny Cash e Roy Orbison. Lewis tornou-se um dos expoentes daquela geração, e também um dos seus mais problemáticos ídolos – sempre causou estranheza que todos tenham morrido antes dele, porque ele fez o suficiente em prol dessa causa. Não foi por acaso que o apelidaram de The Killer, O Matador.

Caso vivesse hoje, Lewis não teria tido vida longa na música. Em 1958, quando emplacou seu terceiro sucesso, Breathless (que receberia um magnífico tributo na refilmagem de Acossado, de Godard, com o ator Richard Gere, em A Força de um Amor), ele partiu para uma turnê pela Inglaterra. Foi quando a imprensa descobriu que havia uma garota viajando com ele, sua prima, Myra Gale Brown, de apenas 13 anos, com quem ele se casaria, para escândalo da época. Estações de rádio se recusavam a tocar sua música, as vendas de discos desabaram, os shows eram cancelados. Tocando em pequenos bares e gravando música country, Lewis prosseguiu sua carreira.

Mas foi uma gangorra de acontecimentos. Lewis abusou de álcool e drogas, enfrentou dramas familiares (seu filho Jerry Lee Jr morreu num acidente de carro em 1973), teve problemas com a Receita Federal e a polícia. Em setembro de 1976, ele atirou acidentalmente no seu contrabaixista, Norman Owens, com uma Magnun .357, ao tentar acertar uma garrafa de Coca-Cola. Owens não morreu, mas mandou um processo para cima de Lewis. Sua quarta mulher, Jaren Pate, afogou-se numa piscina em 1982. Sua quinta mulher, Michele Stephens, morreu após uma overdose de metadona em 1983.

Dessa forma, cada vez que Jerry Lee entrava em cena para tocar seu piano, parecia que a plateia estava frontalmente postada no caminho da Divina Tragédia Humana: em 2009, quase completando 74 anos, ele veio a São Paulo para uma apresentação no antigo Credicard Hall. O show, apesar de sua saúde frágil e da curta duração, cerca de 40 minutos, foi um incêndio: todos os rockabillies da metrópole pareciam ter rumado para a casa de shows para vê-lo.

Cantando eternamente o hino-manifesto Great Balls of Fire, cambaleante, ele já estava mal de saúde em 2007, época da fotografia dessa página, quando tocou no New Orleans Jazz & Heritage Festival, em New Orleans, Estados Unidos. “Quando ele compôs essa música, mudou a face da musica moderna”, disse o apresentador da tarde. Demorou quatro músicas para entrar em cena cantando Roll Over Beethoven, após um interminável aquecimento de sua banda – veteranos excepcionais, como o guitarrista Buck Hutchinson e o baterista Robbie Hall.

A vida toda o compararam com Elvis, e ele tinha topete suficiente para não se abalar com isso. “Há uma diferença entre um fenômeno e um estilista”, disse Lewis à revista Goldmine, em 1981. “Eu sou um estilista, Elvis foi um fenômeno, e não se esqueça disso”.

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