Estrela acesa. Capa. Reprodução
Estrela acesa. Capa. Reprodução

O cantor e compositor Sessa conversou com exclusividade com Farofafá sobre “Estrela acesa”, seu segundo disco solo

Sessa, 34, esbanja simpatia desde o instante em que atende ao telefone, em São Paulo, onde atualmente está sediado, entre as novidades: “Estrela acesa” (2022), seu segundo disco solo, acaba de ter lançamento mundial pelo selo norte-americano Mexican Summer, e o ex-Garotas Suecas vai ser pai pela primeira vez [Bem nasceu dia 27 de julho].

Quando digo “atualmente sediado”, refiro-me a um momento de certa calmaria, após subir em palcos de diversos festivais internacionais, com o show do álbum de estreia. Sucessor do ótimo “Grandeza” (Selo Risco, 2019), “Estrela acesa” tem produção de Biel Basile, baterista e percussionista dO Terno.

Em “Estrela acesa”, Sessa (voz, guitarra nylon e percussão) está acompanhado por Biel Basile (bateria, percussão e piano), Marcelo Cabral (baixo), Ciça Góes (voz e percussão), Ina (vocais e percussão), Paloma Mecozzi (vocais e percussão), Lau Ra (vocais e percussão), Kate Goddard (violino), Ruby Wang (violino), Hannah Selin (viola), Ansel Cohen (violoncelo) e Simon Hanes (regência).

As 12 faixas de “Estrela acesa” foram compostas em 2020 e 2021, entre Gonçalves/MG e Nova York/EUA, e produzidas em Ilhabela/SP, onde vive Biel Basile e onde Marcelo Cabral estava passando uma temporada.

Há mais aproximações que distanciamentos entre “Grandeza” e “Estrela acesa”, cujas 12 faixas têm muito dos climas, timbres, texturas e temáticas, sem soar repetitivo, entre as fragilidades humanas e o amor entre o sensual e o divino.

Sessa falou sobre influências, política, pandemia, carreira internacional e sobre o novo disco.

O cantor e compositor Sessa. Retrato: Helena Wolfenson. Divulgação
O cantor e compositor Sessa. Retrato: Helena Wolfenson. Divulgação

ENTREVISTA: SESSA

ZEMA RIBEIRO – Como é que você classifica seu próprio som?
SESSA – Começamos difícil, hein? [risos]. Eu acho que minha música é um exercício de beleza, de construção de beleza, de estudo em cima de um recorte do que é a música popular brasileira mais em volta do que a gente chama de MPB, dessas produções clássicas, mas um pouco entortada pela minha, sei lá, minha história na música, minhas paixões, as coisas que eu aprendi a achar bonito, algo assim.

ZR – Esse disco novo, “Estrela acesa”, sucede “Grandeza”. Quais as principais diferenças e aproximações entre os dois trabalhos?
S
– Eu acho que o “Estrela acesa” é um mergulho um pouco mais profundo. O “Grandeza” tem um pouco aquela coisa das primeiras ideias, a coisa muito viva, você escreve a tinta fresca no papel, de ser muito a minha primeira experiência fazendo um trabalho assim mais autoral, como se fosse uma visão de mundo musical minha, eu tocava em bandas e tal. O “Estrela acesa” eu acho que tem uma coisa de produção um pouco mais apurada, tem a questão dos arranjos, das cordas, da banda, essa coisa meio power trio de violão, um disco que ainda lida um pouco com o vazio, como se o não tocado tivesse tanta importância quanto o tocado. O minimalismo é muito presente no “Grandeza”, mas ele vai aprofundando um pouco alguns interesses em arranjo, em expandir um pouco a paleta sonora. Acho que de temática ainda é próximo, um pouco as dores e as delícias da vida, mas acho que ele é um pouco um disco que também foi feito nesse cenário de um pouco de desesperança, pandemia, governo fascista no Brasil. Mas também o exercício da própria feitura do disco é um pouco o norte, a esperança está no fazer também. Tem momentos um pouco mais quietos, melancólicos.

ZR – Eu queria que você comentasse um pouco essa experiência de ter composto e gravado um disco num momento de pandemia, em que medida ele é uma reação a isso que a gente está atravessando hoje.
S – Eu acho que em uma medida é inevitável, por exemplo, uma coisa muito forte do meu primeiro disco é essa colaboração com as cantoras, que foi uma coisa que eu suspendi na pandemia. De repente cantar com um monte de gente numa sala, gravar todo mundo no mesmo microfone virou algo muito perigoso. Migrar os arranjos para cordas, arranjar para voz é muito mais instantâneo, com as pessoas ali na sala, do que para cordas. Eu não escrevo, tem a relação com os arranjadores, tem uma certa conceitualização, tem um investimento, é caro gravar cordas, então tem uma pré-produção maior, vai um tempo aí que eu acho que foi um pouco também, talvez olhando para o lado positivo, também foi um momento de angústia, de questionamento do meu próprio trabalho. Eu acho que sair desse batidão de shows que eu estava vivendo, me deu um pouco de tempo para eu elaborar um pouco mais um disco, assim, sabe? Então tem essa marca, mas teve uma marca de uma dificuldade, assim. Eu falei um pouco da parte dos arranjos, dessa parte musical; a parte das letras eu senti bastante dificuldade de formular, sabe? Assim, uma coisa de questionar o trabalho mesmo: meu, o que é que eu estou aqui correndo atrás desse disco? Tem tantos trabalhos aí mais urgentes, mais nobres, e eu estou aqui, será que isso é uma viagem muito encucada minha? Mas eu acho que isso faz parte das ansiedades do momento.

ZR – Em algum momento você se sentiu num limbo entre insegurança, isso que você está me relatando, de ficar na dúvida de saber se era importante fazer o disco, e também de superação, na medida em que você conseguiu fazer, apesar dessas adversidades todas?
S – Sim. Tem essa dinâmica. Em algum momento cai a ficha, é isso que eu tenho. Esse trabalho tem o seu lugar porque é o que eu tenho me dedicado, onde a minha seriedade, o meu compromisso também estão. Mas, sim, a gente passa por questionamentos. É óbvio, o trabalho em si, a classe dos artistas, da graxa, quem trabalha na produção dos shows parou muito cedo, demorou muito para voltar. Talvez o mercado ainda viva uma ressaca do que foi isso. Também tem um pouco dessa insegurança de grana, de ter que se reinventar um pouco, eu passei a dar muita aula de violão, e descobertas. Foi muito bom, também. Eu lembro que em algum momento o material que eu explorava com os alunos entrava totalmente no disco, se eu lembrava, descobria certas vozes no violão, isso acabava colaborando. Foi chocante, ainda mais tudo muito intensificado pelo governo no Brasil, todas as dinâmicas já desafiadoras. Eu vivi essa situação na posição de privilégio, de relativo conforto, acesso às coisas, se olharmos a média do país, foi bem light, mas não deixa de ser desafiador. Em alguma medida o disco é meio essa fotografia do período. Então quando eu consegui encontrar os músicos para gravar foi muito prazeroso, quando eu reencontrei as cantoras, fazia muito tempo que a gente não trabalhava junto. Também tem esse lado de registrar essas possibilidades.

ZR – Para você, o que significa o fato de este segundo disco sair pelo selo norte-americano Mexican Summer?
S – Foi muito massa, eu estou muito contente com ter lançado esse disco com eles. Ainda toca um pouco nessa questão da pandemia. Foi toda uma coisa que foi se desenrolando durante a pandemia, então foi uma relação que fez esse disco ser possível, num momento em que eu não tinha muita perspectiva de trabalho. O meu trabalho é esse, e eles foram super parceiros em estruturar, fazer a coisa cair no mundo. Eu curto o som de vários artistas com quem eles trabalham, então tem sido muito realizador.

ZR – Pensando no teu trabalho em perspectiva, avaliando os dois discos, para mim salta aos ouvidos a forma como você trata o amor, um misto de sensual e divino, e isso conjugado na tua música, o que acaba sendo um presente para quem ouve, eu percebo quase como um escape, não no sentido irresponsável, de fugir da realidade ou se alienar, mas um escape no sentido daquilo que você falou no início, da busca da beleza, da construção da beleza. Então, assim, tua música é um escape dessa realidade cruel em que vivemos, na medida em que vivemos um momento horrível e tua música vem preencher esse momento horrível com beleza. Eu queria saber duas coisas: se essa é tua forma de encarar a vida e o mundo, porque eu percebo muita verdade ouvindo o teu trabalho, e se você concorda com essa minha análise.
S – Eu concordo. Eu acho massa ouvir assim como bate para os outros. Agradeço você compartilhar isso. Eu acho que sim. A Helena, minha namorada, faz piada com meu otimismo. Ela definitivamente é menos otimista que eu, mas é isso. É uma corda bamba essa coisa do escape responsável e oba oba, música brasileira, às vezes eu sinto que na tradução pro internacional a coisa se perde um pouco, fica tudo muito good vibe, e na verdade é mais complicado que isso, é mais misto. Mas eu acho que sim, você começou a pergunta com essa coisa de colocar em perspectiva. Eu vejo assim, meu trabalho tem uma coisa da minha personalidade. Óbvio que às vezes você está compondo e esse ensejo para escrever alguma coisa pode ser muito pessoal, às vezes só por uma questão de texto, de rima, da mecânica dos versos, outra palavra surge, empurra a coisa para um lugar que não é tão do pessoal, é muito mais complicado do que um retrato fiel de quem eu sou. Mas tem uma coisa forte da minha personalidade, de como eu vejo as coisas. São um pouco as minhas meditações, as minhas formulações, o que é se relacionar, o que é estar vivo hoje em dia, eu acho que essa é um pouco a minha matéria, e uma reverência a isso que eu falei, do que é bonito. Quando a gente passa pelo assunto dos temas, parece que é como se coubesse ao compositor escolher: não, eu vou escrever sobre isso, eu vou escrever sobre aquilo. E eu acho que é muito diferente disso, eu acho que é uma relação mais visceral, na intensidade dos fatos vividos você se agarra em alguma coisa, é como se você mergulhasse, está escuro no fundo, você cata um negócio, você sobe e depois você vê o quê que é, ah, um peixe, uma pedra, sabe? Beleza, estou com a pedra na mão, vamos aí! É uma coisa mais dessa ordem do que um menu, que você fala, ah, não, hoje eu vou de contra[-filé] à parmegiana. É isso, é meio o que eu tenho, o que eu vivi, o que eu vivo em música, o que eu vivo na minha vida, e esse exercício, um pouco, de sentar, escrever, meditar, combinar com essas outras sensibilidades sonoras.

ZR – O “Grandeza” te levou a festivais importantes ao redor do mundo. Eu imagino que seja algo, à medida que a crise sanitária for melhorando, permitindo, que deve ser repetir com o novo trabalho, ainda mais com o advento do selo americano. Quais as tuas expectativas com relação a isso, essa agenda internacional se repetir? E como está a agenda de lançamento de “Estrela acesa”, levando em conta o fato de que a pandemia ainda não acabou?
S – Viajar tocando, poder passar esse tempo, conhecer lugares novos, estar com esses músicos que fazem parte do meu som, são experiências muito ricas, são privilégios. Eu bem recebo essa possibilidade, eu fico animado com isso. Sobre os lançamentos a gente vai em breve anunciar algumas datas para novembro no Brasil. O lançamento desse disco novo vem com o nascimento do meu filho, toda minha vida de músico seminômade viajante está sob uma nova perspectiva, o que tem sido muito interessante, me propor a ir um pouquinho menos pro batidão, sabe? Lançar um disco e me matar com meses de estrada, que é um pouco como eu vivi desde os meus 20 e pouco anos, é meio que o que eu fiz, sendo com banda, sendo músico de outros grupos ou com esse meu trabalho que eu comecei a levantar ao vivo em 2018, o [primeiro] disco saiu em 2019, tirando a pandemia, que foi um hiato. Eu ainda me realizo muito, com ao vivo, com uma banda na estrada, você vai moldando o som, a coisa vai ficando melhor. Eu acho que é um lado bonito, tem essa coisa da turnê, que é quase como se o mundo inteiro virasse um murmúrio, e você só tem uma coisa no seu horizonte, todas as obrigações, responsabilidades, elas dão uma rescindida assim, você está chegando na cidade em que você vai tocar, é uma coisa legal desse estado. Essa responsabilidade de estar ali presente entregando toda noite, é um negócio foda, uma experiência que faz parte. Se você conseguir manusear isso, faz parte do ofício do músico. Mas eu também estou muito aberto para outros arranjos, outras coisas. As datas vão vir mais pro final do segundo semestre, e talvez um pouco mais espaçadas, por conta da paternidade.

ZR – A gente já falou um pouco nisso, mas eu queria aprofundar: agora você está mais fixo em São Paulo, mas você viveu muito tempo no mundo, em turnê, então essa coisa do brasileiro que está fazendo show lá fora, mas que está, claro, consciente da situação pela qual o Brasil está passando. Eu queria saber de você o seguinte: como é que você tem acompanhado e percebido esse momento que a gente está passando, seja de pandemia, seja de governo fascista, e agora a gente vê uma disputa política mais acirrada, com uso ainda maior de violência, assassinatos acontecendo para silenciar opositores. Como é que o Sessa artista e cidadão se posiciona?
S – Obviamente eu sou Lula desde criancinha, por mais que, como também alguém que viveu em São Paulo engolir o [Geraldo] Alckmin, a conta de violência da PM e assassinatos que ele tem, não é fácil, mas dadas as condições a gente vai ter que votar sorrindo. Mas eu também vejo essa situação com muita preocupação, muita insegurança. Você mencionou todos os dispositivos ilegais que estão surgindo e sendo incentivados pelo congresso para esse resultado ser cada vez mais incerto, mas eu espero e torço para que 1º. de janeiro a gente tenha a transição mais tranquila possível, que a gente tenha uma vitória de primeiro turno. Mas a minha posição é essa.

ZR – O vinil já saiu?
S – Já. Está de pinga-pinga chegando em São Paulo, porque saiu na gringa, inclusive eu fui lá tocar, trouxe alguns, eu botei em algumas lojas, na Patuá, na Fatiado.

ZR – Eu queria te ouvir um pouco sobre a concepção, identidade visual, o projeto gráfico do álbum.
S – O projeto visual foi feito totalmente numa troca com o [Joshua] Nazario, que é um artista porto-riquenho, que eu conheci pelo instagram. Começou a me seguir e quando você está fazendo um disco tem um aspecto da vida que parece que você bota uns óculos que vão filtrando o mundo, tudo o que pode agregar pro disco você vai botando num balaio e uma hora você olha lá e vê o que está casando. Então a relação com o Nazario foi assim, eu comecei a sacar o trampo dele, achei um artista incrível e a gente foi tateando umas coisas, primeiro vindo do formato que ele trabalha mais, essa coisa da composição em tela. Nesse vai e vem de ter que confinar as coisas pro quadrado do elepê, a gente acabou chegando a esse formato mais de ícones, uma coisa quase que cruza, uma leitura de texto, de página, mais tradicional, da esquerda pra direita, com uma pintura, eu acho que tem uma coisa legal que também a gente foi chegando nos ícones, aquele piano torto, tem coisas que comentam um pouco sobre meu trabalho. O piano enquanto esse grande projeto de música ocidental, uma coisa, aquele pensamento mais linha de produção quase, uma ação que desencadeia um martelo, que bate no feltro, que vai na corda, é uma coisa de máquina, óbvio que as culturas, os humanos vão subvertendo tudo e o piano não é só essa coisa meio, sei lá, bélica, quase, mas aí cruza um pouco com meus interesses, eu como músico brasileiro, lidando com essa tradição, e aí metendo umas cordas, você vai meio que entortando esse mundo. O jeito de chegar a algumas dessas iconografias, e eu achei massa que ele já tinha esses desenhos, ele já tinha feito, e eu falei, caralho, isso aí tem super a ver com coisas que me interessam em música. A gente foi chegando assim numa coisa, sabe? Mas foi assim, foi um vai e vem, uma troca mesmo. Foi um negócio muito prazeroso, ele é muito querido, a gente desenvolveu uma relação, se fala com alguma frequência.

ZR – Sessa, nesse universo a que você já se referiu em nossa conversa, na música popular brasileira, quais as tuas principais referências? A que discos e artistas a que você sempre volta?
S
– Eu sou muito devoto da fase psicodélica do Erasmo Carlos, desde o “Erasmo Carlos e Os Tremendões”, acho que é de 1970, “Carlos, Erasmo” [1971], “Sonhos e memórias” [1972], eu sempre volto a esses discos, eu acho que o Erasmo tem uma coisa assim da simplicidade, dessa beleza simples, uma coisa quase zen da poesia da vida, que é um norte pra mim, eu sinto que as minhas letras não são assim super verborrágicas, não são longas, tem uma coisa de ir afinando, aparando as arestas, até ficar bem econômico, que eu acho que tem a ver com ter ouvido muito. Eu acho que os trabalhos do [compositor, arranjador e maestro Rogério] Duprat (1932-2006), esse período nos discos da Gal [Costa], esse encontro do Duprat, [o guitarrista] Lanny Gordin, na Gal, no Caetano [Veloso], nOs Mutantes, são coisas muito incríveis, a riqueza de sons que saem nessas gravações, é muito fodido. Eu gosto muito do disco, não sei se é o primeiro, do Antonio Adolfo, que chama “Antonio Adolfo” [terceiro disco do pianista e compositor], de 1972, que a capa é ele na praia, que também tem essa coisa muito pessoal, uma jornada que você entra no coração da pessoa quando você ouve o disco. Essas coisas são referências pra mim, é um pouco o que eu almejo fazer, você constrói um mundinho dentro da gravação, da canção, quem escuta parece que habita lá por um tempo e compreende para além do que está sendo dito, a parte não verbal da música, parece que você toma um vento na cara. O que mais? “Clube da Esquina” [1972], Milton Nascimento, Lô Borges, eu acho que esse disco foi muito, eu já ouvi tanto, entrou tanto em mim que eu acho que eu preciso botar um pouco pra fora, preciso contribuir um pouco pra essa conversa. Johnny Alf (1929-2010), João Gilberto (1931-2019), enquanto violonista, enquanto um cantor meio torto, eu sou uma voz não muito escolada, eu nunca estudei canto, eu comecei a cantar muito, muito tempo depois de já ser instrumentista profissional, eu acho que esse jeito de cantar meio intuitivão, pequeno, do João Gilberto é uma super influência pra mim. Maria Bethânia, eu acho que algumas letras desse disco acessam um cantor dramático que eu não tinha chegado antes, “Ponta de faca”, “Que lado você dorme”. Eu ouvi muito o “Álibi” [1979], eu acho um disco perfeito. É um pouco isso, esse mundo. Mas eu fui muito roqueiro, a minha adolescência era Jimi Hendrix (1942-1970), Black Sabath, Stooges, então eu acho que de algum jeito que eu não sei se é muito perceptível para alguém, tirando eu, que tem um pouco disso nos discos, assim uma coisa meio vazia, querendo ou não existe uma exuberância na música brasileira, que é em todas as camadas, rítmica, harmônica, melódica, poética, uma música do Djavan, do Chico [Buarque], [Wilson] Simonal (1938-2000), está tudo ocupado e tirando 10, letra, harmonia, arranjo. Eu acho que o meu tempo que eu gastei ouvindo Stooges traz um pouco a crueza, resolver isso com uma banda mais vazia, mas ainda tem muitos elementos de violão brasileiro. É isso que eu estava falando, é o que eu tenho, as coisas que eu ouvi, me emocionaram, você vai meio reformulando.

ZR – É uma bagagem pesada, super interessante, super diversa, e que te dá esse gás, esse conteúdo para você estar nessa estrada bonita que você vem construindo.
S – Amém!

ZR – Para fechar eu queria ouvir de ti o seguinte, já que você falou de nomes que são referências, que você ouviu bastante, que entraram muito em ti e que acabam repercutindo no que você faz hoje: que nomes da tua geração você gostaria que as pessoas prestassem mais atenção?
S – Eu sou muito fã da Ava Rocha. Quando eu ouvi o segundo [“Ava Patrya Yndia Yracema”, de 2015], eu já estava fazendo meu disco, mas estava muito no começo e aquilo me injetou um gás, eu falei, caralho, mano, sabe assim?, que foda que isso tá rolando, quero fazer parte, quero lançar meu disco também. Muito inspiradora, assim. Eu gosto muito do trabalho da Luiza Lian, acho que tem um disco novo para sair ainda esse ano, mas “Azul moderno” [2018], o disco anterior dela é incrível, gosto muito da Ana Frango Elétrico, gosto muito do Pedro Pastoriz, e do Música de Selvagem, que é um grupo aqui de São Paulo que me acompanha no meu primeiro disco, que tem uma viagem mais de free jazz, Thiago Nassif, Jonas Sá, essa turma, Negro Léo, eu gosto muito dos discos do Negro Léo. Acho que tem uma turma boa aí já. Um da antiga é o Alcyvando Luz (1937-1998), que eu descobri recentemente, é o compositor de “É preciso perdoar”, que João Gilberto fez, eu descobri recentemente que ele tem uns discos solo que são incríveis, umas gravações meio caseiras, lançadas meio pela Secretaria de Cultura da Bahia, nos anos 1990. Uns discos esquisitaços, assim, e muito, muito bonitos. Eu recomendo o “Bahia de Oxalá”, do Alcyvando Luz.

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Ouça “Estrela acesa”:

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