Frequentadores e visitantes do centenário Museu Histórico Nacional (MHN), na praça Marechal Âncora (centro histórico da cidade do Rio de Janeiro), denunciaram nas redes sociais neste final de semana um expediente estranho usado pela administração do museu. Os gestores mandaram cobrir com uma tarja preta numa placa inaugurativa de 2004 o nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, algo que marca a reforma do museu naquele ano, quando era ministro Gilberto Gil, e foram investidos 6 milhões de reais na requalificação da instituição.

A placa com o nome de Lula coberto com uma tarja preta chamou a atenção de diversas pessoas, caso do comediante Paulinho Serra, que retuitou vídeo que mostrava imagens internas do museu. “Justamente o presidente que lançou a Política Nacional de Museus para preservar e desenvolver o patrimônio museológico brasileiro”, protestou uma usuária do Twitter. Alvo da cobiça de monarquistas bolsonaristas, o Museu Histórico Nacional protela há mais de dois anos a indicação de uma diretora efetiva – motivações políticas levaram à não nomeação da primeira colocada num edital de chamamento público divulgado no dia 10 de setembro de 2021, Luciana Conrado Martins, historiadora e doutora em educação pela USP.

O museu republicou uma nota na qual esclarece sua postura no caso da plaquinha com tarja. Desde 2 de julho, foram suspensos conteúdos anteriores do museu que porventura infringissem a legislação eleitoral de 2022, o que inclui materiais da página web do museu e sua biblioteca digital, assim como comentários nas redes sociais e conteúdos no Instagram.

“Por ser o Museu Histórico Nacional uma instituição federal ligada ao Instituto Brasileiro de Museus, a suspensão de caráter temporário se dá sobre materiais que podem ser considerados publicidade de caráter institucional”, diz a nota. “Não haverá perda de informação, retornando os conteúdos ao ar após o fim do período eleitoral que se encerra em 30 de outubro, caso haja segundo turno”.

Mas a placa marca um acontecimento histórico muito anterior à atual disputa eleitoral e denota excesso de zelo do Instituto Brasileiro de Museus. O MHN foi inaugurado em 1922, mas parte do prédio já existia desde 1602. Seu acervo contém quase 300 mil itens, muitos deles relativos à construção de uma simbologia de orgulho nacional, o que faz salivar os grupos extremistas que tentam fazer prevalecer teses históricas.

O curioso é que o desenrolar dos acontecimentos poderá demonstrar, em tempo recorde, quais as reais motivações da censura ao nome do ex-presidente. O governo do Estado de São Paulo promete reinagurar, no dia 6 de setembro, o Museu do Ipiranga, reformado a um custo de  183 milhões de reais somente em recursos incentivados pela Lei Rouanet (60 milhões para a obra civil do anexo, 100 milhões para a restauração, ampliação e modernização do complexo e 22 milhões para a implantação da museografia). O governo de Jair Bolsonaro disputa ferrenhamente a obra, e deve querer colocar uma plaquinha lá, além de promover seu desfile de candidatos. Por outro lado, o atual governo de São Paulo também reivindica a reforma e quer promover a candidatura do governador Rodrigo Garcia, outra plaquinha à vista, e mais uma passarela de candidatos. Ao saber disso, talvez o MHN corra para retirar a tarja do museu carioca.

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