Uma série inacreditável de três comentários do senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) no Twitter a respeito dos cada vez mais populares rolezinhos expõe de forma crua o pensamento vivo do partido a que o político pertence, de parte substancial da elite paulista (se não brasileira) e do numeroso eleitorado do senador (caso seus eleitores não se manifestem contrariamente ao que ele disse). Procure saber, de baixo para cima:

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Com inusual desassombro, o alto político tucano traça paralelos transparentes em sua manifestação antirrolezinho.

MO_0041-13_mundo_gloob_novidade_interna_site_250x250Enfileira referências ao Shopping Morumbi, ao Gloob e aos próprios netos. O shopping se localiza no conhecido bairro paulistano de elite que o batizou. O Gloob (foto à dir.) é um canal infantil das Organizações Globo, repleto de programas de nomes em inglês como “Fish & Ships”, “Floopaloo”, “Angry Birds”,  “Clay Kids”, “Contraptus” e “Os Davincibles”. Os netos do senador entraram de gaiatos no navio (ou não).

Aloysio contrapõe a confraria Morumbi-Globo-PSDB-Nunes aos “cavalões” que supomos ser os jovens de periferia que têm habitado os rumorosos rolezinhos. Não sabemos se o político desconhece ou faz vista grossa para o fato de que a maioria desses jovens é de negros e/ou mestiços que ostentam idades entre 12 e 17 anos – estão, portanto, longe de ser “cavalões”, seja lá o sentido que ele pretendeu dar ao termo.

O senador desconsidera completamente os habitantes periféricos que são atores protagonistas dos rolezinhos ou do funk-ostentação que tanto assombra o governo peessedebista de São Paulo (vide os recorrentes assassinatos de funkeiros e rappers noticiados por FAROFAFÁ de dois anos para cá e jamais esclarecidos pela polícia).

Chega afirmar que uma suposta “apologia” aos rolês de shopping é feita pelos “bacaninhas de sempre” – e não como ato de afeto e desejo e necessidade dos próprios rolheiros, quase sempre em seus bairros de origem, e não no Morumbi ou em Higienópolis. Talvez nem seja necessário (ou será que é?) anotar que “apologia” é um termo que se refere a crimes, e não a hábitos culturais, de entretenimento e de consumo de jovens que não pertençam ao circuito Gloob-Morumbi.

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A fala de Aloysio Nunes diz muito sobre a sociedade que ele representa e que nele votou. Na campanha eleitoral de 2012, o candidato estava em terceiro lugar nas pesquisas para o senado paulista, atrás de Marta Suplicy (PT) e do então líder das pesquisas Netinho de Paula (PCdoB), que é negro e cantor de pagode. Em suas propagandas, Aloysio dizia que “quem bate em mulher é covarde”, em alusão também transparente a um episódio de agressão de Netinho à esposa em 2005 (que, ao que consta publicamente, jamais voltou a se repetir). Netinho caiu a terceiro colocado e Aloysio foi eleito ao lado de Marta.

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Aloysio acertou em cheio em repelir humores misóginos na comunidade paulista, mas ao menos desde aquela época são reiteradas as demonstrações de que o senador não toma cuidados equivalentes no trato com a funda ferida social brasileira do racismo. Se o capitalismo está levando um baile dos rolezinhos nos shopping centers, como mostra Renato Barreiros no texto “Capitalismo anticapitalista“, as declarações espontâneas do político conservador paulista expõem as conexões mais que diretas e imediatas entre a política e o capitalismo made in Brazil.

FAROFAFÁ procurou o senador, também via Twitter, para que ele comentasse suas manifestações. Não houve resposta até a publicação deste texto.

 

P.S. às 15h20: como lembra a colega Cynara Menezes, no ano passado, no senado federal, Aloysio Nunes foi voto solitário contra as cotas sociais-raciais em universidades públicas no país.

 

 

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23 COMENTÁRIOS

  1. O eixo do Cão, representado pela Veja, Folha de S.Paulo, Estadão, Rádio Jovem Pan e PSDB, tenta criminalizar tudo que venha da periferia do estado e que tenha o mínimo que seja de negritude…Ainda bem que a higienização que esta elite tanto deseja não é mais possível nos dias de hoje. Se ela não se misturar com a “pobraiada” terá que viver enjaulada ou exilada em Miami!

  2. Aqueles que defendem essa nova modalidade chamada de rolezinho deveriam perguntas aos proprietários das lojas que se eles se sentiram confortável com esse no evento. Principalmente aqueles que tiveram as suas lojas saqueadas. Pelo que eu vejo esses locais deixaram de ser um lugar que ainda davam um pouco de segurança.

    • Não sou nem um pouco afeito ao senador Aloysio Nunes. Ponto. Deixando-o de lado, eu digo: mais um texto canalha publicado nesse Farofafa. Usam as injustiças sociais que acometem de todas as formas aviltantes possíveis as vidas desses jovens e sofrimentos de famílias inteiras dos funkeiros mortos para continuar fazendo lobby do funk ostentação e para continuar imbecilizando mentes com esse LIXO de música. Esses jovens podem querer ter o que eles bem quiserem, mas vem cá: investimento em educação, tão SUCATEADA nesse país, o Farofafa não quer para os jovens, né? Os disquinhos que esse povo do Farofafa possui da mais fina flor da MPB, do rock, do jazz, do blues, do VERDADEIRO FUNK (porque isso aí que eles defendem tão DESESPERADAMENTE nem pode ser chamado de funk) estão beeeeem guardadinhos em suas estantes para SÓ ELES terem acesso, né? Sabe qual é o problema dessa gente do Farofafa? SÃO LOBOS EM PELE DE CORDEIRO. Eles, sim, são os verdadeiros preconceituosos, porque eles NÃO QUEREM que essa juventude evolua, e por uma razão bem simples: ESSA GENTE DO FAROFAFA ODEIA POBRE.

      • Mais um alucinado pra gritar vaticínios definitivos em LETRAS MAIÚSCULAS e classificar os outros como canalhas, cacilda!… Depois os funkeiros é que são mal-educados.

  3. Eu acredito que este post está totalmente infundado. Primeiro vamos esclarecer um erro de GPS o shopping Morumbi fica na Vila Gertrudes. Volta do ao cerne, o senador na posição de avô repudiou o fato de que se houvessem por volta de 1000 jovens causando balbúrdia, algazarras e violência ele temeria por ele é por seus netos. Eu se estivesse com minha esposa teria o mesmo sentimento temerário. O post recrimina o senador que critica os lúcidos que apoiam tal selvageria. Muito me estranha que os defensores não são donos de lojas ( os tais capitalistas malvados) que foram saqueados, muito menos seguranças agredidos e nem se colocam num lugar de um avô que leva seus netos a ver o Ben 10 ou angra birds ou qqr coisa do gênero. Pq as crianças podres ou ricas assistem os mesmos desenhos ou não?
    Enfim digo que é muito fácil defender os “movimentos sociais” de classes menos abastadas no seu escritório, de uma universidade pública, seu carro particular ou em ultima instância de Paris. Não precisa ir muito longe, eu duvido se esses rolezinhos fossem marcados no shopping Diadema se eles seriam totalmente aceitos e tidos como normal pela população. Ou se teriam defesa dos ávidos defensores socialistas.
    Só para esclarecer eu sou eleitor do senador e moro na divisa de São Bernardo com Diadema e tanto aqui como no Morumbi o rolezinhos é inaceitável

    • “Cavalões”, né, Gilberto? Talvez seja melhor mesmo a gente seguir discutindo se o Shopping Morumbi fica no Morumbi ou em alguma favela vizinha…

      No mais, não sei se você tem acompanhado o noticiário – até agora todos os rolezinhos têm sido marcados em shoppings de bairros periféricos, e não em nenhum daqueles que servem a garotada “limpa” da turma do senador.

  4. Acho que esse senador gosta de dar o rabo pra mlkada com cara de badidinhos e por isso teve essa reação.
    Me perdoem, mas não dá pra reagir de maneira menos agressiva à esse tipo de comentário à politicos muitas vezes elegidos por nós mesmo… É O MESMO QUE DAR-MOS MURRO EM PONTAS DE FACAS…
    Trágicoooooooo

  5. No tempo da Ditadura teve companheiros que assaltaram bancos para financiar a resistẽncia armada, mas teve alguns que entraram na resistência só para assaltar os bancos e ficarem ricos.

  6. Eu não vejo nada demais na postagem do senador, nós, cidadãos de bem, queremos é paz. Parem de ficar usando politicamente o tal do rolezinho para prejudicar adversários políticos.

  7. Está claro que o Post é tão somente para uma reflexão do que vém ocorrendo em nossa política, se por um lado não aceitamos que o PSDB tenha se unido a uma elite conservadora, já que a mesma foi uma das responsáveis pelo golpe de 64 e de que vários tucanos tenham a combatido, arriscando as suas próprias vidas, também por outro lado não podemos concordar que a nossa esquerda se alie ao que se tem de mais nesfasto no quadro político Brasileiro.
    Exemplos não faltam, taí o Governo Federal se unindo aos Sarney´s, ao Renan Calheiros e ao Collor´s da vida, e não vai ser com os programas de transferência de renda que conseguiremos a diminuir o abismo social em nosso País, precisamos investir sério em educação, saúde, habitação, saneamento básico, reforma agrária, repactuação salarial e etc…
    Só com mudanças estruturais, poderemos colocar na cadeia, aqueles que acham que um jovem da periferia não possa frequentar um Shopping Center.

  8. Este cara está indo contra a orientação de seu grande líder FHC. Não foi ele quem disse que o partido precisava se aproximar dos pobres? Deveria estar contente em encontrar com os “cavalões” no Shopping, só assim poderia cabalar alguns votos em favor de seus candidatos…

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