“Um lamento triste sempre ecoou/ desde que o índio guerreiro foi pro cativeiro e de lá cantou/ negro entoou um canto de revolta pelos ares/ no Quilombo dos Palmares, onde se refugiou”, proclama desde 1976 o Canto das Três Raças, de Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro, eternizado pela mineira Clara Nunes.
Para reencenar com ela o Canto das Três Raças, Gaby chama ao palco o rapper paulistano Emicida. Ela tece loas à “nova música brasileira”, capaz de congregar num mesmo espaço a descontração do tecnobrega paraense e a concentração do rap paulista. Ele improvisa rimas de protesto contra a ocupação policial do bairro do Pinheirinho, em São José dos Campos, e da Cracolândia, no centro da capital, e contra os governantes paulistas.
O público jovem de classe média alta, que já vinha abaixo diante dos comandos pop e das luzes de aparelhagem grudadas ao figurino de Gaby, vem abaixo com as provocações de Emicida. “Pinheirinho! Pinheirinho!”, entoa a plateia no fim do Canto das Três Raças, juntando ao coro um slogan-palavrão direcionado, algo erroneamente, ao prefeito Gilberto Kassab. Estamos diante de uma cena símbolo das transformações vividas pelo Brasil e por aquilo que Gaby chama de “nova música brasileira”.
Texto publicado em 27 de janeiro de 2012 no “Estado de São Paulo”. Leia na íntegra aqui.