Foi inaugurada em Goiânia (GO), na última quinta-feira, 11, a primeira estrutura física do país projetada para oferecer formação em audiovisual aos povos indígenas, além de promover a preservação e divulgação de produtos e registros audiovisuais da cultura dos povos originários. Trata-se do Centro Audiovisual (CAud), equipamento público do Museu do Índio (MI), órgão científico-cultural da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai). Nenhum representante da Agência Nacional do Cinema (Ancine) e da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura (MinC) esteve presente à inauguração do primeiro CAud indígena. Segundo a Funai, as pessoas que compuseram a mesa foram: a presidenta da Funai, Joenia Wapichana; a diretora do Museu do Índio, Fernanda Kaingang; o diretor do Instituto Moreira Salles, Marcelo Araújo; o cineasta indígena Takumã Kuikuro; e as lideranças indígenas Jurandir Siridiwé, Wahuka Karajá, Watatakalu Yawalapiti, Wellington Tapuia e Raul Karajá. Outras autoridades presentes foram o procurador da República Wilson Rocha, representando o Ministério Público Federal (MPF), o procurador-chefe da Advocacia-Geral da União (AGU) no estado de Goiás, Francisco Antônio Nunes, e o reitor da Universidade Estadual de Goiás (UEG), Antônio Cruvinel. O evento contou ainda com a participação dos estudantes indígenas do Núcleo Takinahaky da Universidade Federal de Goiás.
O novo espaço possui uma área de aproximadamente 1,8 mil metros² e 956 metros² de área construída. Dispõe de instalações para realização de cursos especializados com sala de aula, estúdio, ilha de edição, auditórios e espaço para exposições. A cerimônia de abertura foi precedida de demonstração cultural com danças e cantos tradicionais dos quais participou a comitiva de autoridades presentes. Todos entraram no CAud sob os cantos celebrativos dos povos indígenas do Xingu. A presidenta da Funai, Joenia Wapichana, destacou que o CAud servirá como instrumento para sensibilizar a sociedade brasileira para a importância da proteção, tanto dos povos como dos territórios e da cultura indígena.
A partir de 2016 e 2018, as chamadas públicas do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), fundo federal que fomenta a produção audiovisual do País, passou a contemplar regras voltadas ao estímulo e desenvolvimento de projetos com participação de mulheres e/ou pessoas negras e indígenas. Em 2018, segundo estudo do Observatório Brasileiro do Cinema e do Audiovisual (OCA), da Ancine, homens e mulheres indígenas representaram 0,2% e 0,1%, respectivamente, dos projetos fomentados pelo FSA. Atualmente, as cotas para pessoas indígenas estão previstas também na regulamentação da Lei Paulo Gustavo (LPG), com percentual de 10% de vagas nos projetos – são 3,8 bilhões de reais, dos quais 2,8 bilhões de reais destinam-se ao audiovisual. Em consequência da nova visibilidade, o cinema indígena vive um boom, disputando prêmios nos principais festivais do mundo, como a produção O Território, que retrata a luta do povo Uru-Eu-Wau-Way em defesa de seu território em Rondônia.
A abertura do Centro Audiovisual também foi marcada pela mostra Xingu: Contatos, do Instituto Moreira Salles (IMS). A exposição foi preparada com a participação de indígenas xinguanos que puderam contar sua própria história de luta e resistência. “Cada vez mais estamos aldeando espaços nas grandes cidades como Goiânia e São Paulo [onde a mostra foi exibida]. Essa exposição representa a luta dos povos indígenas através da imagem que nós produzimos. O que antes muitos não indígenas produziam sem ter consulta com os indígenas, hoje nós queremos contar nossas histórias através da tecnologia que chegou nas comunidade”, declarou Takumã Kuikuro, cineasta indígena e um dos curadores da mostra.